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segunda-feira, 23 de março de 2015

São Paulo se orgulha dos 150 anos da 25 de Março

22/03/2015 22:00


Rua vocacionada às lojas populares festeja aniversário fiel ao desejo de seus consumidores

A rua ganhou este nome em homenagem à primeira Constituição brasileira / Divulgação

Por: Fernando Granato 
Em 1865, o Centro de São Paulo se dividia entre a parte alta, que ficava sobre as colinas do Anhangabaú, e a baixa, na região de várzea do Rio Tamanduateí. Ali, depois de um processo de drenagem, surgiu uma via desde o início vocacionada para o comércio popular: a 25 de Março.
A rua ganhou este nome há exatos 150 anos em homenagem à primeira Constituição brasileira, promulgada em 25 de março de 1824. E conquistou notoriedade justamente por sua topografia: por estar localizada em uma região de várzea, eram comuns as enchentes e, quando elas aconteciam, os comerciantes vendiam tudo aquilo que não tinham perdido a preços imbatíveis, para se capitalizarem.
“Isso trouxe fama para a rua e os árabes, que eram os principais comerciantes do lugar, perceberam que mantendo os preços lá embaixo atrairiam muita gente o ano todo”, conta Sérgio Zahr, dono da Perfumaria Jamil e estudioso da história da 25 de Março. “Não demorou para que mascates passassem a se abastecer aqui para depois vender as mercadorias nos grotões do Brasil afora.”
Outro fator que contribuiu para o fortalecimento do comércio local foi a proximidade com a região portuária. Na esquina da 25 de Março com a Ladeira Porto Geral havia um cais que ficava às margens do Tamanduateí. Por isso a ladeira ganhou este nome. E de lá saíam por via fluvial as mercadorias destinadas ao interior do estado e do Brasil.
Pelos balcões da rua de comércio mais famosa da cidade já passou gente como o compositor Adoniran Barbosa, que ali trabalhou como vendedor e entregador de uma loja de tecidos, em 1935. “O mais intrigante é que ele foi demitido por ter o hábito de atender os clientes batucando no balcão”, diz  Lineu Francisco de Oliveira, autor do livro “Mascates e Sacoleiros”, que conta a história da Rua 25 de Março.
Na época em que Adoniran trabalhou na via,  o forte era o comércio de roupas e tecidos. A partir dos anos 1960 e, sobretudo na década de 1970, foram chegando os chineses e coreanos com suas bugigangas e produtos mais baratos. Isso atraiu mais gente, mas prejudicou os comerciantes antigos.
Hoje, 400 mil clientes passam todos os dias pelos oito quarteirões da rua, onde se encontram 350 lojas e mais de três mil estandes esmagados em espaços minúsculos. Em dezembro, antes do Natal, o número salta para mais de um milhão de visitantes diariamente. “Venho porque os preços são insuperáveis”, diz a nutricionista Paula Castilho. “A gente compra mesmo sem precisar.
Camelô atrai com preços convidativos e sem nota
Apesar da data histórica, 150 anos de fundação da Rua 25 de Março, os comerciantes da região, reunidos na Univinco (União dos  Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências), decidiram  não comemorar. Claudia Hurias,  assessora executiva da entidade, disse que o comércio caiu muito na região com a liberação dos camelôs nas calçadas. “Por isso os comerciantes resolveram não fazer festa na data”, explicou.
Os produtos comercializados fora das lojas chegam a custar 50% menos do que os vendidos no comércio regular, sobretudo em razão da sonegação fiscal. Em 2012, o então prefeito Gilberto Kassab (PSD) extinguiu os bolsões de camelôs na região central e suspendeu as licenças desses ambulantes. 
A Prefeitura justificou a suspensão  sob o argumento de desobstruir as calçadas, preservar o patrimônio histórico e fomentar o comércio formal. A Justiça, entretanto, concedeu uma liminar autorizando a volta dos ambulantes, a pedido da Defensoria Pública.
Hoje, mais de 300 camelôs dominam o espaço que deveria ser usados por pedestres – alguns ficam até mesmo nas ruas da região. Muitos possuem aparelhos de som em alto volume e se utilizam de recursos como soltar rojões para chamar a atenção dos clientes. Para tentar organizar o caos, a Prefeitura estuda fechar o trânsito de veículos na via.
A ideia não é apoiada pelos lojistas, que prometem recorrer ao Judiciário se ela for adotada. Já com relação à presença dos camelôs, a Prefeitura disse somente cumprir a decisão judicial.
Libanês reclama da invasão chinesa
O comerciante mais velho
O libanês André Khattar deixou o seu país  em 1951, quando tinha 16 anos. Falsificou seus documentos para passar pela polícia, já que era proibido viajar sozinho antes dos 18 anos. Em São Paulo hospedou-se em uma pensão próxima à Rua 25 de Março e, com a ajuda de outros imigrantes, arranjou o primeiro emprego numa loja de tecidos. Com espírito empreendedor, não demorou para abrir seu próprio negócio. Assim nasceu a Tecidos São Jorge, uma das lojas mais tradicionais  da 25 de Março. Atualmente com 80 anos, ele lamenta os efeitos da globalização, que facilitou a entrada no país de roupas baratas fabricadas na China. “O comércio de tecido está acabando. Hoje só se compra roupa pronta.”

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