Com Deus e a Verdade

domingo, 21 de fevereiro de 2016

João Campos e seu primeiro emprego faz Pernambuco virar uma capitania hereditária moderna


Em 1534, Dom João III, então Rei de Portugal, criou um sistema de administração territorial no período de colonização do Brasil. Esse sistema consistia em dividir o território brasileiro em grandes faixas de terra e delegar a administração de cada uma delas, a famílias consideradas nobres pela coroa portuguesa. A esse sistema deu-se o nome de capitanias hereditárias. Qualquer livro de história vai nos dizer que este sistema foi extinto em 1759, pelo Marquês de Pombal, mas há controvérsias. Como diria Pedro Pedreira, personagem da escolinha do Professor Raimundo: “Me convença”.

Nunca se falou tanto em meritocracia como nos dias atuais, principalmente quando os segmentos mais conservadores da elite, em sua boa parte composto por abençoados hereditariamente pelo sistema de capitanias criado por Dom João III, quer combater a política de inclusão social. 

Não pode empregar o filho como chefe de gabinete do estado, sem que esse tenha experiência, conhecimento e acima de tudo méritos para exercer tal função. Não! Espera aí! Isso pode. Aliás, não só pode como deve. São ordens do Rei de Portugal. Mas isso só vale para quem teve a sorte de nascer descendente de colonizador ou sob a proteção do nosso coronelismo político. João Campos, 22 anos, filho do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é o novo chefe de gabinete daquele estado. Curiosamente ele irá exercer a mesma função que o seu falecido pai assumiu em 1987, admitido pelo avô, Miguel Arraes, na época Governador de Pernambuco. Oh, sorte! 

João Campos não tem experiência nenhuma em cargos públicos, assim como o seu pai Eduardo também não tinha quando foi nomeado pelo avô. Acredito que o rapaz nunca tenha trabalhado na vida ou jamais lavado as próprias sungas com algum mérito. Mas o seu sobrenome e a sua meritocracia hereditária, o credencia ao cargo. Lembrando que a capitania de Pernambuco era uma das 13 criadas pelo Rei de Portugal. Chega a ser um escárnio. O salário do novo coronelzinho, digo, do novo chefe de gabinete do estado será de R$ 7.787,43. Nada mal para um jovem aprendiz. Jovem esse que em pouco tempo será eleito Governador e anos depois irá se candidatar a presidência da república. 

Poderia citar outros exemplos de políticos que empregam ou elegem seus filhos, depois seus netos, depois seus bisnetos, usando do nome ou da popularidade que já possui. Aparecem na televisão ao lado do seu pupilo e com a cara mais lavada do mundo pede ao eleitor que vote nele porque ele é seu filho. Será que esses figurões da política não deveria ensinar os seus filhos a pescar os eleitores? Quer dizer, a fazer a campanha e conquistar votos com os seus próprios argumentos? E ainda assim, após eleitos, os menudos adotam o mesmo discurso hipócrita hereditário, que louva a meritocracia.

O que fica claro ao entendimento de quem quiser enxergar, é que a regra é clara, mas não deve ser aplicada a todos. Me faz lembrar uma frase que é atribuída a Getúlio Vargas, mas cujo autor não se sabe ao certo quem é, e que diz: “Aos amigos tudo, aos inimigos os rigores da lei”. É assim que o coronelismo se perpetua em nossa sociedade. Não preciso dizer que os inimigos a que se refere à frase é o povo, principalmente os mais necessitados. A eles sempre é aplicada a lei de maneira mais rigorosa. A ordem dos donos das capitanias é não permitir que eles se aproximem, o que já era uma preocupação de Dom João III, evitando assim uma possível invasão de seu território. A meritocracia fascista tão cantada em verso e prosa nos dias de hoje, nada mais é que uma forma de fazer com que o povo acredite que as oportunidades são iguais para todos e quem não consegue se estabelecer é por que não tem competência.

Quantos têm a oportunidade de estrear no mercado de trabalho como chefe de gabinete do estado e ganhando mais de sete mil reais de salário? Quantos têm a oportunidade de se eleger deputado porque os eleitores do papai votaram nele? Será que todos nós partimos do mesmo ponto? 

(*) Adaptado do Brasil 247

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