Hoje na Transparência, Fabiano Silveira era conselheiro do CNJ quando teve áudio gravado
Reportagem do “Fantástico”, da TV Globo, mostra novos trechos de
conversas gravadas pelo ex-senador e ex-presidente da Transpetro, Sérgio
Machado.
As gravações contêm conversas de uma reunião na casa do presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com a participação do atual ministro
da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, quando ele
ainda era conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo Sérgio Machado, na conversa houve troca de reclamações sobre a
Justiça e operação Lava Jato. Na gravação, Fabiano Silveira faz
críticas à condução da Lava Jato pela Procuradoria e dá conselhos a
investigados na operação.
Neste mês, Silveira assumiu o Ministério da Transparência, responsável
pela fiscalização, controle e ações do governo para combate à corrupção.
O ministério foi criado pelo presidente em exercício Michel Temer no
lugar da antiga Controladoria-Geral da União.
Funcionário de carreira do Senado, Fabiano Silveira era conselheiro do
CNJ, para onde tinha sido indicado Renan Calheiros, antes de entrar para
o primeiro escalão do governo de Temer.
Cerca de três meses antes de assumir o cargo, Fabiano Silveira esteve em
uma reunião na casa de Renan Calheiros, onde a Lava Jato foi amplamente
discutida com investigados. Durante as tratativas do acordo de delação
premiada, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse que no dia
24 de fevereiro deste ano foi à casa de Renan Calheiros para conversar,
entre outras coisas, sobre, abres "as providências e ações que ele
estava pensando acerca da operação Lava Jato".
Machado disse que participaram dessa conversa duas pessoas que ele disse
serem "advogados de Renan". Um deles, segundo Machado, se chama Bruno, e
o outro, Fabiano. Machado disse: "no inicio relatei aos advogados sobre
o que ocorreu em minha busca e apreensão”. Na revelação mais
importante, o ex-presidente da Transpetro diz que, no encontro, ele e os
presentes trocaram “reclamações gerais sobre a Justiça e sobre a Java
Jato".
Sérgio Machado gravou a conversa. Participam da reunião, além dele e
Renan Calheiros, Bruno Mendes, advogado ex-assessor de Renan, e Fabiano
Silveira. Ou seja, o atual ministro da Transparência, Fiscalização e
Controle, encarregado de combater a corrupção no governo federal,
participou de uma conversa em que, segundo Sérgio Machado disse aos
investigadores, foram feitas críticas à Lava Jato e à Justiça.
Além disso, é possível entender que Fabiano orienta Renan e Sérgio
Machado sobre como se comportar em relação à Procuradoria Geral da
República (PGR). A qualidade do áudio é ruim, há varias pessoas na sala,
mas é possível identificar as vozes de Machado, de Renan Calheiros, de
Fabiano e de Bruno Mendes.
A TV Globo pediu ao professor da Unicamp e perito Ricardo Molina que
também analisasse a gravação. Ele disse que, "acima de qualquer dúvida
razoável", a voz é de Fabiano Silveira. A certa altura, Sérgio Machado
lê alto um depoimento do ex-diretor da Petrobras e delator da Lava Jato
Paulo Roberto Costa. Eles ouvem as acusações e os argumentos de defesa
de Machado, que se dirige a Fabiano e diz que as explicações que tem são
contundentes. Bruno critica a cobertura da imprensa.
MACHADO: Esse foi o motivo, Fabiano... (inaudível). As explicações que estão aí, você vê que são todas contundentes.
BRUNO: Tudo que eles falam, p****, a imprensa só dá... Rapaz, você
acredita que os caras tinham a cara de pau de dizer no noticiário que o
(inaudível) ia ser julgado? (inaudível)
Em seguida, Fabiano faz um comentário sobre a situação de Sérgio Machado
e diz que ele deve procurar o relator da medida cautelar para prestar
esclarecimentos.
FABIANO: Eu concordo com a sua condição de, tendo sido objeto de uma
medida cautelar, simplesmente, não... Dizer assim: 'olha, não é comigo
isso...' acho que tem que dizer, tem que se dirigir ao relator prestando
alguns esclarecimentos, é verdade.
MACHADO: Sobretudo Fabiano... Não tem nada.
BRUNO: Nós não temos um movimento pra fazer agora.
Inquérito sobre Renan no Supremo
Renan Calheiros diz a Fabiano que está preocupado com um dos inquéritos a
que responde no Supremo, o que investiga se o presidente do Senado e
Sérgio Machado, entre outros agentes públicos, receberam propina – em
forma de doações eleitorais – para facilitar a vitória de um consórcio
de empresas em uma licitação para renovar a frota da Transpetro.Paulo
Roberto Costa e Alberto Youssef citaram o negócio em depoimento. A
campanha de Renan teria sido contemplada com duas doações no valor total
de R$ 400 mil.
Na gravação, Renan diz a Fabiano, sem entrar em detalhes, que está
preocupado com um recibo. Machado diz que ele foi incluído em um
processo de R$ 800 mil. Uma voz que não é possível identificar pergunta
se foi Youssef quem disse que o dinheiro foi pra Renan. Machado diz que
não.
RENAN: Cuidado, Fabiano! Esse negócio do recibo... Isso me preocupa pra c******. (...)
MACHADO: Eles me botaram num processo lá de 800 mil que o Youssef tinha
dito que era pra... (inaudível) estaleiro. Que eles estão de acordo se
tem certeza que era pra você (inaudível).
(voz não identificada): Yousseff disse?
MACHADO: Não. Da conclusão eles entendem que... (inaudível)
Conselhos sobre estratégia de defesa
Nesse momento, Fabiano discute com eles a estratégia de defesa de
Machado e Renan nesse caso. Fabiano aconselha Renan dizendo que,
aparentemente, ele não deve entregar uma versão dos fatos, pois isso
daria à Procuradoria condições de rebater detalhes da defesa.
FABIANO: A única ressalva que eu faria é a seguinte: está entregando já a
sua versão pros caras da... PGR, né. Entendeu? Presidente, porque tem
uns detalhes aqui que eles... (inaudível) Eles não terão condição, mas
quando você coloca aqui, eles vão querer rebater os detalhes que
colocou. (inaudível)
Críticas à investigação da PGR
Mais à frente, Fabiano chega a fazer críticas à condução da investigação
pela Procuradoria e diz que Janot e os procuradores estão perdidos.
MACHADO: Diz que o... Janot não sabe nada. O Janot só faz... (inaudível) cada processo tem um procurador.
FABIANO: Eles estão perdidos nesta questão.
(...)
MACHADO: A última informação que vocês têm, não tem nada, não apuraram nada até hoje, é isso?
FABIANO: não.
(voz não identificada): É a última informação, né? (inaudível). Eles,
desde o início, Sérgio, eles estão jogando verde para colher maduro. O
cara fala: 'eu não conheço o Renan'... (inaudível).
FABIANO: Eles foram lá buscar o limão e saiu uma limonada.
Conversa com PGR
Em outra conversa, em 11 de março, sem a presença de Fabiano, Renan e
Sérgio Machado comentam a atuação do atual ministro da Transparência,
Ficalização e Controle, que teria ido falar com o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, depois da reunião que tiveram em 24 de
fevereiro.
O “Fantástico” apurou que Fabiano procurou diversas vezes integrantes da
força-tarefa da Lava Jato para tentar obter informações de inquéritos
contra Renan. E saía de lá com informações evasivas, que eram
comemoradas por Renan. Nesta conversa, Renan disse que alguém na
Procuradoria nada tinha achado contra ele e que tinha classificado o
presidente do Senado de “gênio”.
RENAN: Ele disse ao Fabiano: 'Ó, o Renan... Se o Renan tiver feito
alguma coisa que eu não sei... Mas esse cara, p****, é um gênio, usou
essa expressão. 'Porque nós não achamos nada'.
MACHADO: Já procuraram tudo.
RENAN: Tudo.