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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A estrela solitária do PT paraibano




PICUÍ(PB) -  Afamada por ter a melhor e mais apetitosa carne de sol do Nordeste, a pequena Picuí, no alto sertão oriental do Seridó paraibano, a 226 km de João Pessoa, ganhou destaque na mídia nas eleições deste ano por eleger o único prefeito do PT no Estado. Territorialmente e em contingente populacional, a Paraíba é pequena, mas em número de municípios é agigantada: 223. De coração vermelho desde que começou a militar na política, o prefeito eleito Olivânio Remígio tirou do poder o grupo do deputado estadual Buba Germano, que governava o município há 12 anos.
Professor de carreira e político profissional, Olivânio, 36 anos, casado, pais de dois filhos, está no terceiro mandato de vereador. Para enfrentar o poderio do clã adversário, o petista escolheu o jovem Lucas Marques, filiado ao Pros, de apenas 22 anos, para vice, e uniu a oposição. O fator decisivo, entretanto, foi o engajamento de uma liderança que dividiu o palanque adversário: o médico Balduino, ex-vice-prefeito do município.
Político tradicional de peso no município, mesmo estando morando, hoje, em Campina Grande, Balduino entrou na campanha com muita disposição. “Ele teve um papel importante para consolidar a nossa vitória”, admite o prefeito eleito. Nas urnas, Olivânio bateu Renan Germano (PSB), candidato situacionista, por uma frente de 1.128 votos. Teve 6.455 votos, 54,79% dos votos válidos num universo de pouco mais de dez mil eleitores, enquanto o socialista chegou a 5.327 votos, 45,21% dos votos válidos.
Dos 11 vereadores, o PT elegeu dois, mas o prefeito eleito não fez a maioria na Casa: a oposição emplacou seis, estando o petista correndo o risco de governar sem maioria no Legislativo. Para transformar Picuí literalmente na estrela solitária do PT na Paraíba, Olivânio desafiou não apenas o poderio econômico e político do deputado Buba, que tem fama de ditador, perseguidor e aluno aplicado à cartilha dos coronéis paraibanos, mas também a rejeição do eleitor ao seu partido.
Na Paraíba, o PT detinha o controle de seis prefeituras, mas os escândalos nacionais, entre os quais a Lava Jato, que minguaram a legenda nacionalmente, também arrastaram para o fundo do poço todos os candidatos da legenda que ousaram disputar o poder erguendo as bandeiras vermelhas. O próprio Olivânio diz que escapou porque a discussão em Picuí se deu no plano local, das questões relacionadas ao município.
“Mas o desgaste do PT nacional não nos atingiu, porque em nossa região temos não apenas os programas sociais, que são a marca de Lula e Dilma, mas avanços na educação e na saúde. As pesquisas aqui sempre apontaram uma boa aceitação de Dilma”, diz Olivânio. Embora faça a ressalva, para ser eleito o petista deixou a discussão nacional em segundo plano.
Mas nas ruas, além de ser agredido por pertencer a um partido que montou uma quadrilha para assaltar o País, como diziam seus adversários, foi atacado até no campo pessoal. “Como eu tive um câncer, chegaram a dizer que eu não assumiria porque iria morrer”, afirma Olivânio. Há dois anos, na verdade, ele teve um câncer linfático, que atinge o sistema imunológico, deixando o organismo sem defesas. “Graças a Deus, estou plenamente curado”, enfatiza.
Mesmo derrotando o grupo que, pelos seus cálculos está há 28 anos no poder e não apenas 12, Olivânio terá pela frente não apenas um cenário de dificuldades pelo fato de o PT não está mais no comando do Governo Federal, mas porque o deputado Buba Germano tem fortes ligações com o governador Ricardo Coutinho (PB). “Ele é tão perseguidor que será capaz de nos atrapalhar muito”, afirma, temendo boicotes em projetos e propostas que pretende levar ao governador.
Vereador mais votado da coligação do prefeito eleito, Ranieri Ferreira (PT) diz que Olivânio tem o compromisso de fazer diferente do PT nacional. “Infelizmente, no plano nacional, o PT rasgou a ética e jogou no lixo, mas aqui temos como fazer o diferente. Em Picuí, será proibido roubar”, afirma. O prefeito eleito aliás, já mandou avisar aos aliados que não esperassem dele nenhum tipo de ajuda para pagar dívidas de campanha.
“Quem pensar que chegará no meu gabinete para obter qualquer tipo de vantagem vai quebrar a cara”, adianta Olivânio. Segundo ele, a prática, a partir da sua gestão em 1 de janeiro, tem que ser diferenciada do modelo atual. “O MP parou muitas obras aqui, como quadras, creches, escolas e até uma UPA”, informa, adiantando que, em algumas das obras, os recursos foram liberados integralmente.  Por Magno Martins

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