Com Deus e a Verdade

terça-feira, 18 de abril de 2017

Deputados que fizeram discursos no golpe aparecem nas delações da Odebrecht por receberem propinas



Parlamentares votaram a favor da saída de Dilma e condenaram corrupção

O deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE) cerrou o punho e deu socos para o alto no ritmo do coro “eu sou brasileiro/com muito orgulho/com muito amor”, fazendo vibrar o grupo de deputados federais em seu entorno na sessão que votava a admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff. Era abril de 2016 a Lava-Jato levava o  discurso anticorrupção para as ruas e ao plenário da Câmara:

Quanta honra o destino me reservou de poder, da minha voz, sair o grito de esperança de milhões de brasileiros. (...) Carrego comigo nossas histórias de luta pela liberdade e pela democracia. Por isso eu digo ao Brasil: sim para o futuro! — gritou Araújo, erguido pelos colegas como um troféu, sacramentando o avanço do processo contra Dilma

Bruno Araújo virou ministro das Cidades no governo golpista  e, nesta semana, descobriu-se que nas planilhas de registro dos pagamentos ilegais da Odebrecht tinha outra identidade: “Jujuba”, beneficiário de contribuições não declaradas à Justiça Eleitoral, no total de R$ 600 mil.

O caso não é exceção: sete em cada dez senadores e deputados federais que viraram alvo de inquérito ou são citados na planilha de caixa 2 entregue à Lava-Jato pelo diretor de Infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Júnior, votaram pelo “sim” no impeachment. Sempre em discursos com duras críticas à corrupção, promessas de novos rumos e “esperança de um futuro melhor”.

As palavras entre aspas são da fala do deputado federal Milton Monti (PR-SP), acusado de viabilizar pagamentos ao então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM), e atuar por um “ajuste de mercado” entre empresas, que resultou em propina para agentes públicos do Dnit. Monti teria cobrado, em nome do PR, propina de 3% dos contratos da Ferrovia Norte-Sul.

— Estamos legitimados pelo povo brasileiro para dar um basta à roubalheira! — bradou Onyx Lorenzoni (DEM-RS) na sessão do impeachment, citando trecho do hino do Rio Grande de Sul que menciona o valor de “"nossas façanhas” como “modelo a toda terra”. Deputado Onyx tinha apelido de 'inimigo' pela Odebrecht.Ele é acusado de receber R$ 175 mil via propina para sua campanha de 2006 e será investigado em um dos inquéritos abertos por Fachin

O ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar relatou ter pago a Lorenzoni,  tudo para que a empresa tivesse “um parceiro futuro nas suas atividades”, segundo o relato do ex-diretor ao MPF.
 Investigado em inquérito que apura crimes de corrupção e lavagem de dinheiro por suspeita de ter recebido R$ 580 mil para defender posições favoráveis à Odebrecht em assuntos do setor elétrico, o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA) foi um dos mais agressivos contra a corrupção no plenário da Câmara:

— Estou votando sim pelos crimes que Dilma cometeu. E não é só passar cheque sem fundo em nome do dinheiro do povo, ela roubou na refinaria, na Petrobras e em Belo Monte. Ela não é honrada!

CERTEZA DE APOIO DAS RUAS

Jutahy Júnior (PSDB-BA), suspeito de receber R$ 850 mil em  propina nas campanhas de 2010 e em 2014, proferiu voto pela "certeza sobre o movimento popular das ruas".

Ruas de manifestações que foram frequentadas pelos dois nomes com maior número de pedidos de abertura de inquéritos no STF, com cinco procedimentos: os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Romero Jucá (PMDB-RR), suspeitos de crimes diversos. Dos 61 senadores que sacramentaram a saída de Dilma,  metade  foi citada.
 — O Brasil despertou, chega de corrupção. Meu partido é o Brasil! — discursou Aécio em um carro do MBL, em BH.

Essa é a única investigação contra Aécio?
Não. Há uma outra investigação em que o senador e presidente do PSDB é acusado de receber propina de Furnas.Este inquérito também tem como base a delação de Delcídio, além de informações dadas pelos doleiro Alberto Youssef.Segundo o doleiro, Aécio recebia valores, por meio de sua irmã, de uma empresa contratada por Furnas.
 Acusado de receber mais de R$ 1 milhão para evitar greves que atingissem a Odebrecht e também de ajudar a empresa a obter financiamentos do FI-FGTS, cujo conselho tinha voto da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (SD-SP) discursou no impeachment “contra a boquinha do PT”.

A nova planilha entregue por Benedicto Júnior, com registros propina em diversos pleitos, traz o nome de alguns dos deputados mais combativos.

 Caso de Jaime Martins (PSD-MG), apelido “Asfalto”, que pediu “o início de uma pauta ética que traga para a vida pública a decência e a moralidade de volta”.

E de Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) , apelido “Decodificado”, que vibrou pelo “momento de reescrever a ética”.

Duarte Nogueira (PSDB-SP), apelido “Pontaporã”, afirmou votar “contra a mentira, a impunidade e a corrupção”.

 Domingos Sávio (PSDB-MG), apelido “Sábado”, fez discurso “pelos homens livres e de bons costumes", e contra o “desgoverno de tanta corrupção”.

Todos os acusados negam as acusações. Preso em Curitiba, o presidente da sessão do impeachment, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), virou alvo de nove novos inquéritos nas delações da Odebrecht. Em abril de 2016, fez discurso breve ao proferir o voto. Intencional ou não, era fala de múltiplos sentidos:

— Que Deus tenha misericórdia dessa nação.


Sem comentários:

Enviar um comentário