Texto do um professor da UNB – Perci Coelho de Sousa
Não há cadeia suficiente para Lula, não há construção erigida que suporte tamanha pena, que dê conta de tanto pecado. Haja grades de ferro e de aço que sejam capazes de segurar, de reter e de trancafiar tanta coisa numa só, tanta gente num só homem.
Não há cadeia no mundo que seja capaz de prender a esperança, que seja capaz de calar a voz.
Porque, na cadeia de Lula, não cabe a diversidade cultural. Não cabe, na cadeia de Lula, a fome dos 40 milhões, Que antes não tinham o que comer. Não cabe a transposição do São Francisco Que vai desaguar no sertão, encharcar a caatinga Levar água, com quinhentos anos de atraso, Para o povo do nordeste, o mais sofrido da nação. Pela primeira vez na história desse país.
Pra colocar Lula na cadeia, terão que colocar também O sorriso do menino pobre, A dignidade do povo pobre e trabalhador, E a esperança da vida que melhorou.
Ainda vai faltar lugar Para colocar tanta Universidade, E para as centenas de Escolas Federais Que o ‘analfabeto’ Lula inventou de inventar.
Não cabem na cadeia de Lula Os estudantes pobres das periferias Que passaram no Enem, Nem o filho de pedreiro que virou doutor. Não tem lugar, na cadeia de Lula, Para os milhões de empregos criados, (e agora sabotados), Nem para os programas de inclusão social, Atacados por aqueles que falam em Deus E jogam pedras na cruz.
Não cabe na cadeia de Lula O preconceito de quem não gosta de pobre, O racismo de quem não gosta de negro, A estupidez de quem odeia gays, Índios, minorias e os movimentos sociais.
Não pode caber numa cela qualquer A justiça social, a duras penas, conquistada.
E se mesmo assim quiserem prender – querer é Poder (judiciário?), Coloquem junto na cadeia: A falta d’água de São Paulo, E a lama de Mariana (da Vale privatizada), O patrimônio dilapidado.
E o estado desmontado de outrora. Os 300 picaretas do Congresso E os criadores de boatos Pela falta de decência.
E a desfaçatez de caluniar.
Pra prender o Lula tem que voltar a trancafiar o Brasil.
O complexo de vira-latas também não cabe. Nem as panelas das sacadas de luxo, O descaso com a vida dos outros, A indiferença e falta de compaixão, A mortalidade infantil, Ou ainda (que ficou lá atrás) Os cadáveres da fome do Brasil.
Haja delação premiada Pra prender tanta gente de bem, Que fura fila e transpassa pela direita (sim, pela direita).
Do patrão da empregada, que não assina a carteira, Do que reclama do imposto que sonega Ou que bate o ponto e vai embora.
Como poderá caber Lula na cadeia, Se pobre não cabe em avião? Quem só devia comer feijão, Em vez de carne, arroz, requeijão, Muito menos comprar carro, Geladeira, fogão – Quem diz? Que não pode andar de cabeça erguida Depois de séculos de vida sofrida?
O prestígio mundial e o reconhecimento Teriam que ir junto pra prisão. Afinal, (Ele é o cara!) Os avanços conquistados não cabem também.
Querem por Lula na cadeia infecta, escura,A mesma que prendeu escravos, ‘Mulheres negras, magras crianças’ E miseráveis homens – fortes e bravos, O povo d’África arrastado E que hoje faz a riqueza do Brasil.
Lula já foi preso, ele sabe o que é prisão. Trancafiado nos porões da ditadura Aquela que matou tanta gente, Que tirou nossa liberdade. A mesma ditadura que prendeu, torturou. Quem hoje grita nas ruas Não gritaria nos anos de chumbo. Na democracia são valentes, Mas cordatos, calados, covardes Quando o estado mata, bate e deforma.
Luis Inácio já foi preso, Também Pepe Mujica e Nelson Mandela. Quem hoje bate palmas, chora e homenageia, Já foi omisso, saiu de lado e fez que não viu.
Não vão prender Lula de novo Porque na cadeia não cabe. Podem odiar o operário, O pobre coitado iletrado, Que saiu de Pernambuco, Fugiu da seca e da fome Pra conquistar o Brasil, E melhorar a vida da gente. Mas não há, Nesse mundão de meu Deus, Uma viva alma que diga Que alguém tenha feito mais pelo povo Do que Lula fez no Brasil.
“Não dá pra parar um rio quando ele corre pro mar. Não dá pra calar um Brasil, quando ele quer cantar.”
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