Morreu hoje meu colega – de faculdade, de profissão e de solidariedade ao povo brasileiro – Manoel Góis.
Nos tempos de universidade, veterano deste que era calouro, era o Manoel Walter, adversário nas disputas de movimento estudantil.
Depois, para a minha geração de jornalistas, o Manu, apelido das amizades que ergueu em toda a carreira e convívio. Eu nem era dos mais próximos, mas nos encontros e nos chopes, aprendemos a ter dúvidas sem jamais deixarmos de ter certezas.
Pense num sujeito agressivo e intolerante e terá o inverso do Manu, um dos personagens mais gentis que conheci.
Hoje, na hora de sua morte, outro colega, Rogério Marques, trouxe um dos últimos recados do Mani aos jovens que não conseguem entender que uma ditadura é breu, injustiça, dor e morte.
Um documento, de há 40 anos, da arapongagem da Radiobras, onde se registra que Manu, estagiário, foi demitido por lamentar a ausência de um colega, que havia sido preso pelo regime.
Só isso, por lamentar a ausência de alguém numa festa de Natal, nada mais.
Ele próprio publicou o documento, quando o obteve nos arquivos da ditadura, com um recado:
Este dossiê lembra que toda esta mediocridade canalha não pode voltar e serve também para calar os fascistas que defendem estes anos de opressão.”
Daqui a dois meses, quando tivermos nossas confraternizações, vamos dizer o que ele disse: que a festa seria mais alegre se estivesse ali o Manoel Walter de Góis, o Manu, levado pelas únicas mãos que têm o direito de levar uma vida: as do tempo.
Um companheiro de lidas e lutas que, sendo doce, jamais entregou a rapadura a esta gente má e desprezível, que persegue porque é pequena e e que odeia porque é má.
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