Com Deus e a Verdade

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

A menininha e o bicho-papão


love
Amor, ironicamente, está escrito na camiseta, apenas.
No resto é espanto, destes que faz a gente torcer as mãos, só para ter uma mão qualquer que segure a nossa na hora do medo, ainda que, por falta de outra, seja a mão de nós mesmos.
Não sei seu nome, mas não importa. Mesmo pequeninos na imagem, seus olhos contam tudo, falam da história de três anos de vida numa quase ruína, num quase escombro, o único castelo de princesa que já conheceu.
Menininha, como fazer para não ouvir, ao te ver, os versos do Vinícius…
Menininha, que graça é você/Uma coisinha assim/Começando a viver/Fique assim, meu amor/Sem crescer/Porque o mundo é ruim, é ruim e você/Vai sofrer de repente/Uma desilusão/Porque a vida é somente/Teu bicho-papão
O bicho-papão vem assim, sem reparar que se veste de verde – que é a cor com que se desenha os monstros -, que usa máscara para que você  não veja que são gente fantasiada, os clóvis, os bate-bola de um carnaval mórbido e tardio, que percorre as vielas de teu mundo, mundo da favela, onde você teima em brotar, como uma flor sem nome, mas com esse rosa – e rosa-choque! –  para gente que não mais se choca.
Não, menina, a cena que te assusta não será revivida em divãs, não será tema de séries “cult”, não terá um pintor que a retrate, que nem mesmo valerá uma crônica senão esta, pobre e limitada, que é só o que posso te dar.
Posso apenas te prometer, talvez falsamente, que há gente que ainda tem escrito no peito o que você tem: love. Em inglês, português, em árabe, em francês , em sânscrito, em hebreu, em qualquer língua do esperanto que é a humanidade.
E que não tem, nem nunca terá medo do bicho-papão que faça te abandonar, sozinha, a torcer as mãozinhas.
PS. A foto vai sem crédito porque não o achei, e ao autor anônimo aplaudo a delicadeza. 
 

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