O velho Brizola costumava dizer que “eleição não é corrida de cavalos”, onde se põe ou se faz refugar o cavalo do páreo de acordo com a chance de ganhar.
Não deveria ser, mas cada vez mais se parece com uma.
Pelo visto, o Grande Prêmio Brasil de outubro não é assim, do jeito que se faz o canter, aquele trote em que as montarias se apresentam à platéia e, sobretudo, aos apostadores.
Os jornais do final de semana trouxeram a notícia de que Joaquim Barbosa vai se filiar ao PSB, à espera do que o embrulho em que o partido está metido em São Paulo, onde tomou uma rasteira do PSDB, e que Luciano Huck, depois de duas negativas formais, vai se filiar ao PPS, para estar encilhado da condição legal para, quem sabe, entrar na pista.
Não se diga que é fenômeno local, porque pelo mundo afora são cada vez mais comuns – e desastrosos – os exemplos de que personagens, em tese, distantes da política se apresentam às disputas eleitorais.
O neoliberalismo teve como obra a desmontagem dos sistemas coletivos de organização da população: sindicatos, associações e partidos políticos.
A esquerda teve sua parte nisso, quando se deixou hegemonizar pelos grupos “identitários”, com o discurso – justo – de proteção às minorias que eclipsou muitas vezes o cerne de sua natureza: a defesa das maiorias sociais.
O resultado desta geléia geral, onde ninguém é nada e não carrega em si uma significação política aferível por cada cidadão é algo tão absurdo que não há uma instituição que aceitasse que algum neófito, vindo do zero em experiência, a presidisse.
Mas para dirigir o Brasil serve?
Sim, serve, porque o objetivo dos que nos dominam é menos que tenhamos um governo e mais que não o tenhamos, no sentido de que ele seja um pólo, uma bússula a orientar uma coletividade que, só mantida em confusão, pode recusar a obviedade de que somos um grande país, com tamanho, população e riqueza para sermos um dos grandes do mundo.
A eleição, portanto, fica mesmo como aquele páreo, onde importa ter chances de ganhar e recolher as fortunas de suas pules.
A eleição sem Lula e sua significação será conduzida para ser isso.
Para voltar ao que dizia Brizola, na disputa entre o diabo e o coisa-ruim, o inferno sempre vence.
Nesta eleição, pior, corremos o risco de que seja com seu demônio mais caricato.
Sem comentários:
Enviar um comentário