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segunda-feira, 1 de abril de 2019

Séculos para trás na Educação


O próximo “grande projeto” do Governo está para ser anunciado, agora na área de Educação.
Calma. Não é um programa para ampliar ou melhorar as escolas, muito menos para apoiar a qualificação dos professores.
É a “escola do condomínio fechado”.
Que atende pelo nome de “homeschooling”, o ensino “em casa” para quem pode pagar por ele.
Como se fazia, nas famílias ricas, até o início do século passado, importando a tradição dos nobres europeus.
Gilberto Freyre, na sua Vida social no Brasil nos meados do século XIX, explica quem eram as preceptoras do “homeschooling” no segundo império:
[…] as preceptoras que os senhores de engenho mais ortodoxamente patriarcais da época – os que, não enviando as filhas para internatos das cidades, desejavam instruí-las em casa – anunciavam, nos jornais, precisarem para encarregar-se de tal ensino, eram senhoras que  soubessem iniciar as meninas no conhecimento da gramática portuguêsa, da geografia, da música, do piano; e que, também, as instruísse no conhecimento da língua francesa: não só no traduzir como no falar dessa língua.
Era, portanto, a maneira de deixar os meninos e meninas – estas, sobretudo – fora de qualquer convívio social que não fosse dentro das regras da “casa grande”, um isolamento ainda mais severo do que o dos internatos, onde entre os internos diferenças havia e a sua própria reunião dava margem a perguntas e contestações.
Claro que com os nossos nobres modernos, muito será diferente, não só o inglês no lugar do francês. Poderão aprender tanto ou mais conteúdo que nas escolas, porque para um, dois ou três alunos, talvez, não se precise  da solidariedade quee uma turma obriga no aprendizado, para que ninguém – ou poucos – fiquem para trás.
Essa será, aliás, a maior lição que aprenderão: a falta de solidariedade, de convívio, de tolerância, do crescimento coletivo e tudo o mais que a escola ensina, além de regência e fatoração.
Poderemos formar, assim, perfeitos monstros, egoístas, ambiciosos, sem outro mundo que não seja os seus próprios. Os meninos poderão ser príncipes e as meninas, princesas, desde que, claro, seus pais não sejam plebeus incapazes de pagar seus “personal teacher”.
Ah, sim. Esqueci de dizer que o preceptor moderno terá outra desvantagem diante de seus antecessores d’antanho.
Nem mesmo a instituição escola servirá para diminuir o poder do “papai pagou”. Serão empregadinhos que –  as crianças, espertas, terão certeza disso –  não poderão contrariá-los ou repreender, sob pena de perder o emprego.
Não duvido, nessa toada, que a alguns revistem a bolsa antes de saírem.
Do Tijolaço
Postado por Madalena França

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