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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A escravidão do Século XXI

Por trás da produção do cacau há um rastro de pobreza e desigualdade. Trabalho análogo à escravidão e exploração de mão-de-obra de crianças e adolescentes tornaram-se comuns na colheita do cacau, matéria-prima do chocolate, segundo o Ministério Público do Trabalho.
Durante 18 dias, os repórteres do Câmera Record percorreram os principais polos produtores, às margens da rodovia Transamazônica, no Pará, e na região conhecida como Costa do Cacau, no sul da Bahia. Passa bem longe desses locais a riqueza do mercado que movimenta 14 bilhões de reais por ano no Brasil (e 110 bilhões de dólares, cerca de 458 bilhões de reais no mundo) e levou o país a se tornar o sétimo maior produtor de cacau.
A reportagem completa está no documentário “A escravidão do século XXI”, exibido neste domingo (29/09) no Câmera Record e que pode ser assistido na íntegra no PlayPlus.
"Eu não sabia se chorava de medo ou de dor"
A sujeira do trabalho na roça não encobre os machucados que os irmãos Daiane e Gabriel*, ambos de 14 anos, levam pelo corpo. Eles vivem no município de Medicilândia, conhecido como a capital nacional do cacau, localizado a 1h30 de carro de Altamira, no Pará. "O facão escapuliu e pegou na minha perna. Eu não sabia se chorava de medo ou de dor”, conta Daiane.
Com uso de facões e podões – uma espécie de foice pequena com cabo longo – todos capinam, derrubam o cacau do pé, juntam, quebram, descaroçam e colocam as amêndoas para secar. Eles trabalham e moram no pequeno lote de terra da avó agricultora Isanilde Silva, mãe de treze filhos. A casa não tem luz, nem água encanada. A família bebe e toma banho em um poço a 100 metros de distância. Também não há camas para todos. A maioria dorme em redes.
Contrasta com a casa pobre de tijolos aparentes a fotografia da família pendurada na parede. No retrato, eles usam roupas e vestidos elegantes em um fundo arborizado, que até lembra o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Mas trata-se de uma montagem (doada por um estúdio). É como se, ao olhar para aquilo, eles se transportassem para uma realidade menos sofrida.
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“Quando morávamos com nossos pais, a gente não tinha tempo nem de brincar. Quando não era o dia plantando cacau, a gente tirava esses brotinhos pequenininhos”, diz Daiane, apontando para a vassoura-de-bruxa, praga da região amazônica que ataca os cacaueiros. “Eu já apanhei tanto [quando não queria trabalhar] que minha cara ficou deste tamanho”.
A rotina puxada no cacau cobra seu preço na sala de aula. Grande parte das crianças de Isanilde não está na série correta. Douglas, 10, apontado pelos primos como o que mais trabalha, é justamente o aluno com mais dificuldade entre os 20 colegas da escola Marechal Rondon, na zona rural. “Ele é muito lento no aprendizado. Tanto que passou três anos no terceiro ano”, diz a professora Conceição dos Santos. “Criança não pode trabalhar, eu sei disso, mas a condição da gente obriga”, lamenta Isanilde, que cuida dos filhos e netos sozinha. Os três maridos que teve a abandonaram.
Do R7
Postado por Madalena França

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