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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Tragédia brasileira: país caminha para os piores indicadores no planeta no combate à pandemia


Madalena França via Manuel Mariano
Padre Cícero com máscara


Brasil de Fato - O Brasil é recordista mundial em mortes de profissionais de enfermagem por covid-19. De acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), foram registrados mais de 200 óbitos até o dia 19 de junho. Em média registrada em março, são duas pessoas mortas por dia. No caso dos médicos, não é diferente: cerca de 140 óbitos, segundo o Sindicato dos Médicos de São Paulo (SIMESP).
É diante dessa realidade que são realizadas neste domingo (21) manifestações presenciais e virtuais em cerca de 20 estados brasileiros em solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, organizadas por entidades ligadas ao setor, como Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia.
Segundo Aristóteles Cardona Júnior, médico de família no sertão pernambucano e integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, outro fator mobilizador das manifestações foi a marca de 1 milhão de casos confirmados e 50 mil mortos por covid-19 no Brasil, sem contar os números desconhecidos em decorrência da subnotificação. 
“É um marco triste nesse momento que a gente vive. A gente sabe que não são todas as mortes por covid-19 que são evitáveis, mas muitas poderiam ter sido evitadas se a gente tivesse uma atuação central e organizada de combate. Não é o que a gente vê por parte do governo federal”, afirma Cardona Júnior.
Para o médico, as entidades têm avaliado a repercussão das manifestações de forma positiva. “Primeiro, porque além das manifestações nas capitais, a gente também conseguiu que houvesse a mobilização em muitas cidades do interior, cidades médias, pequenas, em nosso país.” Segundo uma estimativa feita pela rede, os protestos vão desde Itapipoca, Canindé (CE) e Sobral (CE) até Porto Alegre (RS), passando por Caruaru (PE), e Pacaraima (RR), e Ilhabela (SP).
Os atos, que contrastam com a invasão de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro a hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), também chamam a atenção para as declarações do capitão reformado “incentivando agressões a trabalhadores de saúde em seu ambiente de trabalho”.
"Tem um hospital de campanha perto de você, tem um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que fazer, para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou não", afirmou o presidente em suas redes sociais recentemente. 
Cardona Júnior avalia a posição do presidente Bolsonaro como “irresponsável”. “Não é só um desrespeito, é irresponsabilidade de servir como disseminação da doença, como possível foco de transmissão. Não começou agora, começou ao afirmar que só era uma gripezinha e que morreriam 800 pessoas no País. Agora, estamos aí, chegando a mais de 50 mil mortos e não sabemos até onde tudo isso vai”, defende o médico.
Soma-se a isso, as organizações alertam, a presença expressiva de militares do Ministério da Saúde, “que vem comprometendo sobremaneira o trabalho técnico frente à pandemia”, segundo as entidades. Dos 12 membros das Forças Armadas nomeados para a pasta pelo ministro Eduardo Pazuello, nenhum tem formação em medicina, destacam as entidades. 
Na avaliação de Cardona Júnior, falta uma condução técnica e necessária para “o momento mais crítico da história do nosso sistema de saúde”. De acordo com o integrante da rede, mesmo na época em que o deputado federal Luiz Henrique Mandetta estava a frente da pasta, havia uma “condução com muitos pontos positivos, mesmo havendo discordâncias políticas”.
“Mas agora a gente não tem quem conduza. Basicamente a gente tem um ministério ocupado por militares, a maior parte deles talvez todos sem experiência nenhuma em saúde, a tirar pelo interino, o Pazuello, e que estão ali para cumprir o papel de liberar a cloroquina para uso por médicos e médicas do país, quando o mundo todo está mostrando que não tem efeito, que não ajuda nos casos de infecção por covid-19”, afirma Cardona Júnior.
Entre os outros objetivos das manifestações, os organizadores reclamam da falta das condições dignas de trabalho, caracterizadas pela escassez de Equipamentos de Proteção individual (EPI) e de organização de processos de trabalho que possibilitem menores impactos da exposição à doença ou ao estresse causado pela pandemia.
As entidades lançaram um manual com orientações gerais para os manifestantes que foram às ruas neste domingo, como usar máscara o tempo todo, óculos de proteção ou protetores faciais, álcool em gel e manter a distância mínima de dois metros em relação aos outros manifestantes.

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