Com Deus e a Verdade

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Reabrir as escolas? Política pública sem público?


Postado por Madalena de França
Com visões opostas, “especialistas” discutem se as escolas devem ser reaberta, com argumentos que merecem ser ouvidos.
A discussão, porém, é totalmente inútil, por várias razões.
A primeira delas está expressa na pesquisa Datafolha: 79% das pessoas ouvidas disseram que elas devem ficar fechadas.
O que significa que uma parcela muito expressiva dos pais e mães não as mandará de volta às aulas, se elas recomeçarem.
E isso é, em grande parte, resultado na perda de confiança nas orientações das autoridades públicas, bisonhas e até mentirosas no enfrentamento da pandemia.
Só agora se concluiu, na cidade de São Paulo, o primeiro inquérito sorológico na população infantil, depois de muitas “marcações” e “desmarcações” de reinício das aulas.
O resultado foi espantoso: 16% das crianças já tinham tomado contato com o vírus e pouco menos de dois terços destas (ou perto de 10% do total) de forma assintomática.
Extrapolados estes índices para toda a população escolar brasileira, seria como imaginar 5 milhões de crianças e jovens contaminados, servido de vetores da doença para outros e para suas famílias.
Esse, o lado do perigo. Mas há o lado de eficácia de uma decisão, no mínimo arriscada, sobre isso.
Não existe um rol de exigências definido nacionalmente, para que estados e municípios só reabram escola segundo padrões mínimos de precaução.
Não há possibilidades para as escolas mais populares, pelo número de alunos por sala e sem instalações alternativas – quadras cobertas, ginásios, pátios ou áreas de recreação – espaçosas o suficiente, para que possam dar distanciamento entre as crianças, algo já por si muito difícil.
As aulas via internet, que jamais tiveram um esforço centralizado nacionalmente de produção de conteúdo e material de apoio, com um Ministério da Educação incapaz de dar à TV Escola o papel de ferramenta deste suporte aos professores, meio que entregues ao “cada um faz o que puder, se puder”.
Alguns alunos tiveram alguma coisa, muitos tiveram bem pouco e outros, que nem com internet contavam, tiveram nada.
E assim será com uma eventual volta física às escolas, nas quais não será raro observar uma evasão de 20, 30% das crianças e jovens.
Portanto, vai se aumentar a desigualdade no desenvolvimento escolar, que já é imensa.
Educação, como qualquer política pública, depende, por óbvio, da mobilização e da credibilidade públicas.
O antigo ministro da Educação dedicava seu tempo a atacar os chineses e o STF. O atual, ao que parece, encontra mais tempo para a tele-evangelização que para a tele-educação.
As atividades letivas podem voltar, trazendo riscos e incertezas. Só uma certeza se terá: a preparação de nossas crianças e jovens, que já era ruim, vai ficar pior.

Sem comentários:

Enviar um comentário