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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Em analise a Pesquisa IBESP de hoje Antonio Lavareda diz que auxilio Brasil não aumentou popularidade de Bolsonaro

 

Por Antônio Lavareda

Segundo pagamento do Auxílio Brasil ainda não melhorou a percepção da economia, nem mudou o quadro eleitoral.

1. Opinião de que a economia vai no “caminho certo” para de subir, mantendo-se em 26%. E o contingente que acha que segue “no caminho errado” continua elevado (65%). Somam 17,5 milhões as famílias contempladas pelo Auxílio Brasil iniciado em dezembro, cujo efeito, como é sabido, se espraia nas localidades onde residem seus beneficiários. Porém, ainda sem consequências visíveis na opinião pública.

2. Avaliação positiva do governo (“o/b”, 23%) oscila um ponto, recuando para o patamar de ago-set 2021, o mais baixo da série. As opiniões negativas (“R/P”) vão a 55%. Na mesma direção, na leitura dicotômica, a aprovação oscila um ponto (29%) e a desaprovação se mantém em 64%.

3. Ômicron: aumentou o número de casos mas a menor letalidade faz o medo da covid, embora elevado, retroceder três pontos (de 71% para 68%). Nessa rodada, a pesquisa não indagou sobre o desempenho do governo Bolsonaro especificamente nesse aspecto. Mas, a deduzir do noticiário, as opiniões não devem ter mudado muito desde o levantamento de quinze dias atrás, quando 25% classificaram-no como “O/B”, enquanto 59% tinham opinião positiva (R/P).

4. No plano eleitoral, a novidade da pesquisa é o empate no terceiro lugar: moro, 8% x ciro, 8%. Afora isso, permanecem as demais posições no ranking. Lula aparece com 44%; Bolsonaro, 24%; Doria, 2%; Rodrigo Pacheco, Simone Tebet e Alessandro Vieira, com 1% cada um. André Janones não foi incluído na lista. Ciro se beneficiou da cobertura pela mídia do lançamento oficial. Não se podendo esquecer que continua liderando o quesito “segunda opção”, com 23%, conforme o levantamento.

No segundo turno, Lula segue à frente de todos: 54 X 30, Bolsonaro; 50 X 31, Moro; 51 X 25, Ciro; e 52 X 19, Doria. Nessas, como nas listas com outros nomes, houve só pequenas alterações, refletindo fatos da pré-campanha. Por exemplo, os duros ataques recentes entre Lula e Moro não os ajudaram, cada qual perdendo um ponto no cenário de segundo turno entre eles. Xingamentos esse ano terão efeito bumerangue. A gramática será diferente daquela de 2018.

5. A preocupação de Lula, fustigado pelos demais candidatos, será muito mais manter o máximo possível das suas intenções de voto atuais do que fazê-las crescer. Se a eleição fosse agora e ele tivesse, de fato, nas urnas esses 44%, o equivalente a mais de 65 milhões de votos – lembremos que é sobre o eleitorado total – isso representaria sete pontos percentuais acima do que obteve no primeiro turno em 2006 (37,1%) e quase 10 pontos sobre a performance de 2002 (34,2%). Para termos uma noção do quanto é superlativa essa hipotética votação baseada nas pesquisas, é bom assinalar que nem FHC, único presidente eleito duas vezes no 1o turno, chegou sequer a 40% do eleitorado total. Foram 36,3% em 1994, e 33,9% em 1998.

6. E qual o problema do presidente Bolsonaro? É que ele perdeu cerca de 15 milhões de eleitores. E o volume das defecções é uma variável decisiva para um incumbente. Votaram nele, em 2018, 34%, arredondados, sobre o total do eleitorado no primeiro turno e hoje ele marca 10 pontos menos. Retomar o máximo possível desse contingente é o seu desafio. Onde isso ocorreu? Não foi no Nordeste, frequentemente apontado como o seu calcanhar. Não é essa região a responsável pelo declínio. Nela, ele tem hoje os mesmos percentuais que o sufragaram no primeiro turno (TSE), perto de 19% dos votos totais. Da mesma forma, não houve redução expressiva do seu apoio entre os mais pobres de todo o Brasil. No segmento de renda inferior a dois salários mínimos ele atinge hoje, praticamente, seu patamar de três anos atrás. Onde está o problema? Os eleitores que o presidente perdeu possuem renda nas faixas de 2-5 SM e +5 SM. Residem sobretudo no Sudeste. E os frustrados são na grande maioria homens. Entre as mulheres, onde seu apoio sempre foi reduzido, a perda foi relativamente menor.

7. Por outro lado, a estabilidade de Bolsonaro nos últimos meses, com cerca de um quarto dos eleitores, desperta inquietação nos candidatos da terceira via. Nesse campo, Sergio Moro voltou a ficar abaixo dos dois dígitos que assinalava em novembro (11%), quando desembarcou, lançou-se na disputa, e empolgou as manchetes. Isso lhe é preocupante. Sua esperança hoje reside: a) em conseguir o tempo de TV e outros recursos do União Brasil; e b) na possibilidade de que o receio da consolidação de Lula produza uma maior vocalização do tema “corrupção” na grande mídia, e isso seja mimetizado no repertório das outras candidaturas, todos passando a jogar água no moinho do “dono” do tema, o juiz da Lava Jato.

A unificação da terceira via aguarda que a volta da propaganda partidária na TV, esse semestre, dê aos que pretendem representá-la o empurrão de que precisam para se tornarem competitivos. Mas nem todos atores pretendem esperar por isso. Dentro de alguns partidos cobiçados para participarem de coligações presidenciais se fortalece o sentimento de que talvez seja mais vantajoso simplesmente não apoiar nenhum nome. Porque nas disputas estaduais, que prometem ser as mais “nacionalizadas” dos últimos tempos, melhor será a legenda do postulante ao governo ficar “sem” candidato presidencial, do que ser carimbada pelo apoio ao candidato “errado” nas circunstâncias locais.

Por Madalena França

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