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terça-feira, 19 de julho de 2022

Inflação transforma compras de mercado em sofrimento diz Magno Martins...

 



Entre julho e dezembro de 2020, as vendas nos supermercados cresceram mês a mês, passando de 3,86% em julho e chegando a 9,36% em dezembro. No ano passado, já refletindo a inflação, a média no segundo semestre foi de 3,09%.

Em junho de 2020, quando começou a ser paga a terceira parcela do Auxílio Emergencial, a partir do dia 17, fazer a feira num atacarejo virou programa de família: com as donas de casas enchendo o carrinho com caixas fechadas de água sanitária, dúzias de creme dental e sabonete, potes de maionese e uma caixa de margarina. As informações são do colunista Fernando Castilho, do Jornal do Commercio.

Para milhares de famílias, cujos marido e esposa puderam se cadastrar para receber R$ 600, foi uma oportunidade de ouro. A dona de casa realizou pequenos sonhos. Como comprar uma caixa de detergente, uma bombona de 5 litros de amaciante e um ou dois pacotes de sabão em pó de 3 quilos, além de biscoitos e bolachas com desconto a partir de mais unidades. Curiosamente, não houve aumento de bebidas alcoólicas, a despeito de elas não terem subido de preço.

O auxílio foi quase todo para comprar comida e material de limpeza doméstica. Era um inferno, mas ir ao atacarejo virou celebração. Dois anos depois, não foi apenas a área de carnes e embutidos que foi lentamente reduzida.

O estoque do atacarejo encolheu. Não tem mais festa a partir da terceira semana do mês. Agora, é a classe média (que antes ia ao supermercado) que vai ao atacarejo. Sem o dinheiro do auxílio, o mercadinho do bairro virou a opção de compras menores. Entre o mercadinho e o atacarejo, o supermercado está minguando.

O ticket médio sobe apenas com as promoções. Não foi só a redução do número de atendidos do Auxílio, foi a queda da renda que fez das compras um tormento. Mesmo na classe média.

O Índice Consumo nos Lares Brasileiros, da Abras, que monitora e contextualiza o comportamento dos consumidores, em maio último mostrou que as vendas dos supermercados em valores reais (deflacionadas pelo IPCA/IBGE) apresentaram queda de -3,47% sobre abril.

Em 2022, a taxa média de crescimento nos cinco primeiros meses está em 2,12%. As projeções do setor são de +2,80% no ano. A redução do ICMS sobre os combustíveis (que impacta o frete) e a queda do desemprego são apostas da Abras.

No acumulado do ano, as vendas apresentaram crescimento real de 2,02%, na comparação com o mesmo período. Mas o número embute um colossal deslocamento do perfil de lojas.

A inflação impõe mudanças e quebra tabus. O consumo de carne de porco subiu para 18 quilos/ano devido ao fato de que a suína foi a única que ficou mais barata nos últimos 12 meses: queda de preços de 5,52%; quando a de boi subiu 7%; e a de frango, 20%.

O novo relatório Consumer Insights 2022, da Kantar, líder em dados, insights e consultoria, mostra que a alta dos preços fez com que o consumo das famílias fosse o menor desde o começo da pandemia. Para se adaptar à nova realidade, o consumidor vem optando por embalagens menores.

Com um aumento médio de 13% no valor de bens de consumo massivo – alimentos, bebidas, limpeza doméstica e higiene e beleza -, o volume comprado para levar para casa retraiu 5% no 1º trimestre de 2022 em comparação ao mesmo período de 2021.

Além disso, o consumidor tem optado pelo prazer e pela praticidade, levando o consumo de lanches em casa a um salto em frequência de 47,1% no 1º trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2020, pré-pandemia. Entre eles, as categorias que mais cresceram em pontos de penetração foram linguiças (+1,7), empanados (+1,4) e leite fermentado (+1,0).

O levantamento mostrou ainda um grande aumento de ocasiões ligadas ao prazer no mesmo período: pacote salgadinho/pipoca +35%, iogurtes +35% e biscoitos +27%. No consumo por classe social, viu-se um crescimento de momentos de consumo de refrigerante em 17% na classe C, de iogurte em 18% na classe DE e de biscoitos em 9% na classe AB.

Segundo a Abras, o setor de supermercados e hipermercados perdeu fôlego em novembro de 2020, segundo dados de consultorias e varejistas, reflexo das maiores restrições nos gastos e de uma nova onda de migração da demanda para o atacarejo. A redução do valor do auxílio emergencial e o aumento da inflação, que reduziu o poder de compra, foram alguns dos fatores que impulsionaram esse movimento.

Já em dezembro, houve sinais de um movimento positivo também para os supermercados. Com o novo avanço no contágio da covid-19, as pessoas tendem a evitar aglomerações no Natal e réveillon, aumentando a demanda por alimentos para consumir em casa, de forma geral.

Mas em 2022, sem auxílio emergencial, com índices de desemprego ainda altos e pressão inflacionária, a expectativa de analistas do setor é que, cada vez mais, consumidores migrarão as suas compras para o atacarejo.

Postado por Madalena França

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