Do Blog do Magno Martins
Postado por Madalena França
Na largada da campanha para o Governo do Estado no ano passado, a governadora Raquel Lyra (PSDB), eleita em disputa no segundo turno contra Marília Arraes (SD), varreu o Interior de Pernambuco ao lado de Anderson Ferreira (PL). Juntos, fizeram juras de amor eterno: mais na frente, quem estivesse melhor nas pesquisas seria o candidato a governador da prévia aliança.
Mas o fator Bolsonaro era uma pedra no caminho que ambos não previram. O ex-presidente, que estava sem partido, ingressou no PL. O namoro político de Anderson com Raquel chegara ao fim. Cada um foi cuidar da sua vida. O ex-prefeito de Jaboatão virou candidato a governador de Bolsonaro, mas não chegou ao segundo turno por uma fatalidade: a morte do marido de Raquel no dia da eleição, episódio que deu o tom da comoção e fez a tucana governadora.
Raquel, a candidata do muro. Não assumiu apoio a nenhum candidato ao Planalto, nem no primeiro turno, nem tampouco no segundo. Na montagem do seu primeiro escalão, escolheu uma pupila de Anderson para secretária de Educação, Ivaneide Dantas. Até hoje, nega, até o galo cantar três vezes, que não foi indicação de Anderson. Mesmo assim, a titular de uma das secretarias mais poderosas do Estado ficou com o carimbo bolsonarista no incipiente Governo Raquel Lyra.
No último sábado, pelo Diário Oficial, ao nomear o comando do Detran por indicação da família Ferreira – Anderson e o deputado federal André Ferreira – Raquel assumiu, sem dúvida, o carimbo bolsonarista do seu Governo. O presidente do Detran, Carlos Fernando Ferreira, é uma pessoa da cozinha de Anderson, primo. Foi secretário dele na Prefeitura, dirigiu o Metrô por indicação dos Ferreira também e é filiado ao PL, o partido de Bolsonaro.
Deu o Detran ao bolsonarismo de porteira fechada. André Trajano, secretário-geral da instituição, também é cria dos Ferreira, trabalhou com Anderson e é, igualmente, filiado ao PL. Antes da tucana tomar a decisão, que surpreendeu sua base na Assembleia e a mídia, ouvi de gente bem próxima ao Governo que nenhuma estrutura pela qual correm rios de dinheiro seria entregue por ela a políticos. Seria do absoluto comando dela.
O Detran só perde em arrecadação para a Secretaria da Fazenda. Por isso, é considerado uma galinha dos ovos de ouro. O projeto de lei orçamentária anual (PLOA) de Pernambuco para este ano, enviado à Assembleia Legislativa e aprovado em dezembro, estima uma receita de R$ 43,8 bilhões, dos quais R$ 2 bilhões para investimentos. Já o orçamento do Detran é de mais de R$ 500 milhões, dinheirama que sai da insaciável máquina de taxas e impostos do órgão.
O poder só existe, verdadeiramente, onde há botijas de dinheiro vivo, como é o caso mais explícito do Detran. Raquel, que na campanha de segundo turno pregava que não era lulista nem tampouco bolsonarista, agora revelou sua nudez, refletida no espelho que os pernambucanos não costumam se ver, o da nitidez do modus operandi de Bolsonaro.
O espelho dos pernambucanos, conforme atestam o resultado das urnas, é refletido no lulismo. Mas a governadora acaba de fazer a opção inversa. Quer se vê no raiar do sol pelo espelho bolsonarista.
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