Trechos, cortados por minha conta, da sempre lúcida análise política de Maria Cristina Fernandes, que publica seu artigo “A sucessão empoçada” no Valor:
A resiliência do apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas duas últimas pesquisas eleitorais mantém empoçado o cenário da sucessão presidencial. Os partidos aguardam seu rumo para montar estratégias. Mas se o último depoimento em Curitiba tornou mais provável uma condenação em segunda instância, ainda não foi capaz de antecipar os rumos do partido nem o caminho a ser tomado por seus eleitores, os únicos blindados ao enfado com a política.
A manutenção do deputado Jair Bolsonaro como o segundo nome da sucessão infenso às intempéries traz um outro problema para agentes políticos que, na ausência de alternativas claras, precisam minar os nomes consolidados. De Lula, a Lava-Jato cuida, restando a disputa por seu eleitorado, no PT e fora dele.
Bolsonaro lhes oferece problema de outra natureza. O deputado já tem uma condenação colegiada, mas em infração (danos morais) não considerada pela Ficha Limpa como razão de inelegibilidade. Para atrapalhar a vida do deputado, resta aos colegas bem situados no coalizão governista, mas perdidos na sucessão presidencial, criar obstáculos à sua tumultuada vida parlamentar. Bolsonaro está de saída do PSC, o quinto partido de seus sete mandatos, rumo à legenda pela qual pretende concorrer à Presidência da República. A montagem de sua migração partidária, no entanto, enfrenta uma estrada pedagiada na Câmara.
Bolsonaro e bravata militar são filhos da mesma anomia
Ainda que o deputado não tenha o respeito dos comandantes das Forças Armadas, sua ascensão nas pesquisas e a liberdade com a qual generais da ativa comentam aberta e publicamente a possibilidade de intervenção militar são parte do mesmo fenômeno. A indisciplina parte do pressuposto de que o poder que poderia coibi-la não tem legitimidade nem apoio popular para fazê-lo. O silêncio do ministro da Defesa, Raul Jungmann, acaba por referendar a percepção de que o governo dos 3,4% é refém de bravatas militares.
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A rejeição é tamanha que a mobilização espontânea de eleitores em redes sociais tende a sair em vantagem, na conversão do voto, sobre produções longas e sofisticadas do horário eleitoral. Mas o rechaço aos recursos do status quo da política não explica, por exemplo, por que em torno de um governo tão impopular gravitem tantos candidatos.
A rejeição é tamanha que a mobilização espontânea de eleitores em redes sociais tende a sair em vantagem, na conversão do voto, sobre produções longas e sofisticadas do horário eleitoral. Mas o rechaço aos recursos do status quo da política não explica, por exemplo, por que em torno de um governo tão impopular gravitem tantos candidatos.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o prefeito de São Paulo, João Doria, no entanto, não disputam o apoio do leprosário em que se transformou o Palácio do Planalto, mas de sua caneta. Apostam que as liberações para municípios porão em curso as tradicionais máquinas eleitorais de vereadores e prefeitos com as quais ainda acreditam que serão capazes de chegar à Presidência.
Tão importante quanto aquilo que vier a ser obtido pelos candidatos governistas em sua aproximação com o Planalto é o que o titular espera com seu apoio. À medida que se aproxima o fim de seu governo, a obsessão do presidente Michel Temer é um bote que o ponha a salvo do juízo da primeira instância, o mesmo que ainda empoça sua sucessão.
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