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terça-feira, 7 de julho de 2015

Carta de despedida deTiago Leifert

Tiago Leifert
Jornalista · 115.712 curtidas
 · 17 h · 
MEU BOOOOA TARDE FINAL. CARTA DE DESPEDIDA:
Quando eu encontro na rua alguém que assiste ao Globo Esporte São Paulo eu geralmente escuto uma dessas coisas:
1) minha avó começou a assistir por sua causa
2) no começo eu não gostava de você
3) pra que time você torce?
4) você é bem mais sensual pessoalmente
Ok, a quarta frase eu inventei, embora seja verdade. A terceira eu vou responder ao longo deste texto de despedida. Gostaria de começar falando sobre as duas primeiras.
Por que eu? Por que me escolheram para ser editor-chefe e apresentador de um novo Globo Esporte local? Eu era disparado o repórter mais novo, de idade e de tempo de casa (eu tinha acabado de chegar à Globo, havia 4 meses, depois de passar dois anos e meio no SporTV). Tudo bem que eu estava fazendo reportagens legais para o Globo Esporte da época, comandado por Tino Marcos e Glenda. As coisas estavam fluindo, encerrei o programa várias vezes com reportagens, abri com outras. Mas por que não alguém mais experiente? Alguém mais famoso? Alguém que tivesse pelo menos jeito de apresentador, ou cara de chefe?
Quem me colocou no cargo já não está mais na Globo. O nome dele é Luiz Fernando Lima. No dia que ele saiu e foi se despedir da redação, eu não consegui perguntar o “Por que eu?!" Então, mais à noite, quando ele estava a caminho do aeroporto para tirar seu merecido sabático, eu liguei.
Hoje eu acho que eu tenho uma teoria. Em janeiro de 2006, no meu primeiro mês, eu escrevi alguns emails para o Luiz Fernando dizendo como eu achava que o Globo Esporte deveria ser. Sim, um pouco de arrogância de novato, um moleque de 25 anos… mas talvez isso tenha ficado no inconsciente dos chefes. Segui trabalhando como repórter porque as ideias não saíram do papel naquela época. Nas minhas reportagens, eu buscava fazer o que fazemos hoje e o que eu acreditava ser o futuro: entretenimento esportivo com informação. Muitas vezes eu ia à emissora fora do meu horário apenas para me esconder dentro do switcher (é a sala de controle do programa) e ficar olhando o aparelhinho do Ibope, monitorando o programa e a concorrência, tentando entender o que acontecia.
Então, quando me deram a missão de criar um novo Globo Esporte, por mais que eu estivesse surpreso, eu sabia exatamente o que tinha de ser feito. Eu tinha CERTEZA ABSOLUTA do que o programa deveria ser, qual seria o formato, qual seria o jeito de editar. Eu sabia havia anos.
Eu assumi o GESP em dezembro de 2008, para estrear em janeiro. Eu já tinha TUDO na cabeça. Me lembro que gravamos o programa piloto (o teste) perto do natal. No piloto, a primeira coisa que eu fiz foi desligar o Teleprompter, aquele aparelho que os telejornais usam para mostrar o texto ao âncora. Era uma câmera robô, eu a desligava e ela ia embora. Eu não queria usar o recurso, porque minha intenção era falar de esporte de igual para igual com quem estava assistindo. Com o coração, com sal, com erros, com risadas, com gaguejadas. Eu via o esporte na televisão muito distante do torcedor, distante da “resenha”, querendo ser muito politicamente correto e frio. Minha idéia era mudar isso.
Nas entradas ao vivo, a nova proposta era nunca combinar nada com o repórter. O bate-papo teria de ser de improviso, e sem limite de tempo. Estourou o tempo? Derruba alguma coisa do programa, corta uma matéria. O mais importante era ter ALMA, era ter gente de verdade conversando, não leitores de textos.
Ora bolas, jornalistas são treinados para tirar a emoção das coisas. Mas tirar a emoção do esporte é um crime! Eu queria um programa que tratasse o esporte como entretenimento: com ação, humor, suspense, drama e bons personagens. Cada jogo seria uma novela, e nossa função era achar a história dessa novela e contar no dia seguinte. Nossa missão era achar os bons personagens, mesmo se fosse um cara cabeludo do Oeste de Itápolis (salve, Ney Paraíba!). Eu queria fazer um programa que tivesse ESPÍRITO ESPORTIVO.
Logo depois que eu gravei o piloto, que tinha videogame, TP sendo desligado, várias entradas ao vivo e comentarista no estúdio, um dos repórteres mais experientes da TV brasileira me chamou no corredor.
Ele me disse: “você deve estar percebendo que estão aí fofocando nos corredores dizendo que não vai dar certo, estão até rindo de você. Eu gostaria de dizer na sua cara, não pelas suas costas, que não vai dar certo mesmo. Não vai. Eu já vi milhares de mudanças, todo editor novo chega com várias ideias mirabolantes e no final nunca dá certo.”
Eu agradeci a hombridade, mas respondi que ele é que estava errado. Eu mostraria para todo mundo que ia, sim, dar certo. Dias depois, à meia-noite do novo ano, o ano de 2009 que mudaria para sempre a minha vida, eu mandei um email para a redação inteira.
De: Tiago Leifert
Data: 1/1/2009
Vou adiantar pra vcs o final da história, tá?
Vai dar tudo certo.
O programa vai bombar na audiência, vamos virar referência, outros veículos vão fazer matérias sobre nossa nova linguagem. Vcs vão estar exaustos, mas realizados. Teremos um belíssimo programa de televisão, consolidado, vendido, sucesso puro! E viveremos felizes até a manhã do dia seguinte quando, mais uma vez, quebraremos a cabeça pra fazer um programa surpreendente.
Agora, "como" nós vamos chegar lá a gente vai descobrir durante esse desafio imenso que nos deram. Eu prometo que tudo vai ficar mais claro a partir do dia 12.
Depois de tantas conversas sobre "gesso", depois de tanto falar que as coisas "precisavam mudar", finalmente, chegou a hora. O programa vai sair do padrão com o objetivo de se transformar, talvez, no novo padrão. Nós vamos construir essa ponte a cada imagem e a cada linha de off. Sim, esse é o tamanho do problema. Percam o sono comigo!
O sucesso é um esforço individual também.
É preciso se questionar.
É preciso ERRAR!!! Muito!!! Fazer coisas que a gente não tem coragem!!
Eu estou dando essa liberdade desde já: ERREM!
Vai dar tudo certo.
Por causa de vocês.
2009 É NOSSO.
feliz ano novo!
bjs
ti
No dia 12 de janeiro de 2009, às 12h45, começou o novo Globo Esporte São Paulo. Meu coração não acelerou, minha mão não suou. Eu não estava nervoso. Eu tinha certeza. Só não imaginei que os dias seguintes seriam tão duros.
Era o início das redes sociais e as porradas começaram a vir com tudo. Críticos de TV decretaram minha extinção, disseram que eu não passaria da segunda semana. Problemas técnicos com os equipamentos do switcher colocaram no ar alguns erros, que obivamente serviram de comida aos tubarões. Soma-se a tudo isso um apresentador inexperiente… Obviamente, no começo, não ia ter como você gostar de mim!
E eu entendi perfeitamente isso tudo, e segui trabalhando na linha que eu achava a correta. O tempo passou, e sua avó começou a curtir o programa. Nosso novo jeito de fazer se preocupava não só com a boleiragem, mas também com quem não gostava de esporte. A gente tinha essa preocupação: o programa é para TODO mundo, não só para quem ama esporte. Aos poucos o programa cresceu, emplacou, e em menos de 2 meses meu email do reveillon já tinha se concretizado.
Para garantir que ele continuaria certo, o GESP se transformou na minha obsessão. Eu chegava a assistir 4 jogos de futebol ao mesmo tempo. Eu via tudo. Nunca trabalhei menos de 12 horas, nunca curti um fim de semana inteiro, nunca sai para jantar com minha esposa numa quarta-feira à noite (aliás, preciso fazer isso). Tinha dias que eu trabalhava 19 horas. Essa obsessão me fez emagrecer 10kg, ser internado 3 vezes, passar por duas cirurgias e pegar uma coleção de sinusites e outras ites. Sempre brincava com os jogadores: “Vocês reclamam de quarta e domingo? E eu? Eu 'jogo' de segunda a sábado!”. Faria tudo de novo.
Hoje nosso formato está em vários estados, depois daqui foi para o Rio e de lá para BA, RS, SC, GO, DF, RE, MG, etc. Algumas das coisas que fizemos no DNA do programa também se espalharam por outros telejornais da casa. Motivo de orgulho muito grande para todos nós aqui. Nossa parceria com o globoesporte.com é modelo para todo mundo também. Aliás, não é nem parceria… não há mais fronteiras entre o GESP e o site, é uma coisa só.
Agora eu preciso agradecer.
Preciso, porque embora eu tivesse certeza de que daria certo, eu não tinha muita companhia nessa certeza. Um autor que eu gosto muito uma vez disse “good ideas have lonely childhoods”, ou “ideias boas têm infâncias solitárias”. A minha idéia teve poucos amigos no começo, e aqui estão eles. O meu coração, humilde, feliz e grato, vai para:
A minha equipe: vocês são meu Barcelona. É incrível o nível de quase telepatia que nós chegamos, vocês são os melhores editores do País. Obrigado por terem me protegido, obrigado por terem acreditado.
O nome da Voz na Consciência é Renata Cuppen Bojlesen. Ela também está de saída, nosso trabalho está feito. Rê: você também sabia. Olha só para a gente! Haha! Acho que se eu voltasse no tempo, até 2009, e visse a gente ali almoçando, os dois cansados e com olheira, anotando loucamente planos e metas num guardanapo do America… eu só ia chegar do lado e dizer: “Tudo bem? eu vim do futuro… comam o Devil’s Cake enquanto vocês podem. De resto, vai dar tudo certo.” Obrigado por ter me protegido, obrigado por ter acreditado.
Caio: você tem o maior coração do mundo. O melhor conselheiro, um amigo leal, o comentarista mais ético e respeitoso do Brasil. Obrigado por ter me protegido, obrigado por ter acreditado. Obrigado por ter feito aquelas dancinhas ridículas. Pára de roubar no Cartola.
Meu primeiro chefe na Globo, o cara que me contratou e apostou em mim: Emanuel Castro. Maluco, nunca vou poder te agradecer por tudo que você fez. Espero, um dia, poder fazer pelos mais novos o que você fez por mim. Obrigado por ter sido o primeiro a acreditar. Obrigado por ter sido o primeiro me proteger.
Minha família: meus amores queridos, os fins de semana que nós não passamos juntos e todos os jantares e almoços que eu perdi fazem todo sentido agora. Vocês são a melhor família que um editor-chefe obcecado pode ter. Sofia, você ainda é muito pequena, mas faz 2 anos que meu “boooa tarde” é mais feliz, porque sei que você está assistindo seu tio que te ama. Dai, vamos dormir bem tarde hoje porque seu marido não vai acordar às 5 amanhã. Domingo 16h eu vou te levar no cinema, prometo. Te amo tanto! Obrigado por terem me protegido, obrigado por terem acreditado.
E agora a você que me assistiu: você mudou a minha vida. Cada vez que você me assistiu, você mudou a minha vida. Obrigado por ter me dado a chance de ser diferente. Obrigado por ter me protegido. Obrigado por ter acreditado.

O Globo Esporte SP segue! Ao Ivan Moré, Kariny e Dani Minozzi, meu boa sorte! Ainda bem que vocês vão cuidar do loxinha, vocês sabem o quanto eu gosto de vocês! Vai ser uma alegria assistir ao programa com vocês no controle.
Qual time eu torço? E isso lá importa?
PS: no globoesporte.com/sp tem alguns vídeos que eu selecionei para celebrar os 6.5 anos à frente do GESP. divirta-se!

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