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segunda-feira, 15 de junho de 2015

Entrevista:Tom está de volta após 3 anos de estudos nos EUA

Com exclusividade ao DIÁRIO, ele avaliou mercado de humor e, na gringa, segue passos de Wagner Moura


Tom Cavalcante aprendeu que a disciplina poderia fazer dele um aluno nota dez / Almeida Rocha/Diário SP

Por: Aline Nunes
portalweb@diariosp.com.br
Orelógio marca 16h. Há uma hora Tom Cavalcante, de 53 anos, já estava de pé no palco. O ritmo é puxado. Sem plateia, num dos estúdios do Multishow, ele apenas ensaia como será a gravação de “#PartiuShopping”. Mas ele fica longe de desanimar. Danielle Winits tira uma dúvida de marcação. Camilla Camargo ensaia, improvisa um caco no texto e questiona se o mestre aprova. O uniforme de Gildo é um paletó.
Por outro lado, bem poderia ser uma avental branco. No lugar do balcão de informações do cenário, com ares de produção americana, bem poderia estar um quadro negro – quem sabe, nos moldes da “Escolinha do Professor Raimundo”, de Chico Anysio, de quem ele bebeu da fonte  durante anos. Apesar da ausência de tais elementos, tudo está na bagagem de Tom Cavalcante, que leva jeito para ensinar e, é claro, entreter.
Em sua sala de aula, cercada de lojas e escadas rolantes, ele faz até o diretor dar risada. Não por acaso, até o elenco de apoio leva um beliscão no bumbum, quando está distraído.
Desde jovem, sem ter o hábito de falar muito, Tom Cavalcante aprendeu que a disciplina poderia fazer dele um aluno nota dez. Demorou dez anos para o jovem do Ceará se matricular na grandiosa Globo. Mas num colégio com Chico Anysio, Fernanda Montenegro, Gracindo Jr, Paulo Gracindo e outros, ele destacou-se como o menino dos olhos de Chico. Eles tornaram-se confidentes e entre tantas tardes e noites de conversa, sobre cultura geral, Tom aprendeu a decolar. Segundo ele, sem a bagagem da vaidade.
DIÁRIO_ Você está gravando desde cedo e parou agora só 20 minutos. Insano, né?
TOM CAVALCANTE_ Quando estou gravando eu fico até calado para economizar a voz e a garganta. Eu já venho de shows no final de semana, sexta, sábado e domingo. E chego aqui e pego o dia inteiro das 11h até a noite... Às vezes, tenho show depois daqui. Hoje, por exemplo, eu tenho um pequeno.
Que pique! Qual a receita?
É muita disciplina, né? Disciplina de todos. Pegamos um time de atores muito centrado nesse sentido.
Mas você sempre foi assim ou teve de se moldar ao longo da carreira?
Sempre. Sempre fui atento. Sou assim. É um DNA meu de não tirar o foco. Nesse período de três meses de gravação, eu não bebo, não durmo tarde, só abro exceção quando estou estudando o texto em casa. Fico muito quieto, muito recluso para poder dar conta. É um trabalho muito braçal.
Você passou um período em Los Angeles, recentemente... Foi assim lá também?
Isso é interessante. Lá fora era bem puxado também. Eu levantava cedo por causa da família. Levava a Maria na escola, ia para a aula também... Depois ia para os workshops, voltava e pegava a Maria... E o trânsito de Los Angeles é São Paulo total. E os americanos são muito caxias também. No almoço é aquele ‘sanduba’ (risos) e já era, depois voltamos ao trabalho. A noite não tem aquele papo longo que a gente tem no jantar. Nada disso. Cada um vai para a sua cozinha, fala com seu sanduíche e vai dormir. Foi bom também ver essa otimização.
 Imagino. Mas você teve vários encontros internacionais também. Qual aprendizado?
A grande experiência foi produzir o ‘Pizza Me, Máfia’ (curta) e observar atentamente como funciona a máquina deles. Foi muito rico nesse sentido. Quando você entra num set, todo aquele mecanismo é acompanhado pelo sindicato. Do cara do cabo ao cara que vai trazer a alimentação. Todo mundo com 25 minutos de lanche... Depois trabalha-se mais quatro horas, pausa de novo, volta... É tudo rigoroso.
Essa disciplina me inspirou.
Inspirou ou sufocou?
Los Angeles é uma cidade com um jeito muito nosso. O californiano é muito carioca descolado, brincalhão, alegre. A cidade propicia isso também. Você vai a Santa Mônica e está leve. Não tem aquela rigidez de São Paulo ou Nova York.
E quais amigos trouxe de lá?
Hoje tem um amigo meu que está com o Wagner Moura. John Gosh, que é o meu assessor. Ele está hospedado em São Paulo e não deu tempo ainda de nos encontrarmos. O Rodrigo (Santoro) e o Wagner (Moura) realmente decolaram dentro dos EUA junto com ele. Então foram feitas várias amizades e contatos. E o que me motivou a voltar foi essa história do Multishow. Conversamos muito pelo Skype. Isso me motiva.
Dá pra ver, principalmente, nos intervalos quando está brincando. Você mexe com o pessoal do apoio... Não é um cara com vaidade de TV, né?
Pois é. Isso é uma coisa de cada um. Acho que tenho uma essência espiritualizada.Eu poderia ser o cara do nariz empinado. Mas isso não existe para mim. Eu até brinco e chamo esses aí de ‘artista’. Eu não tenho vaidade de ator. Aquele que você chega no aeroporto e ele está todo mascarado, sabe? Eu posso até estar, mas sou acessível. Às vezes, estou de óculos e a pessoa fala: ‘está se escondendo, né?’ Eu tiro imediatamente e digo: ‘Tô não. É só  minha cara inchada’.
Então você faz suas coisas normalmente, né?
Claro! Sou pai, marido, tudo. Vou à missa quando posso. Eu me ajoelho lá e tenho muito respeito a esses mistérios de nossas vidas. Eu sei que estamos aqui vivendo apenas. Sei que tudo isso tem um merecimento também. Não é por acaso. Não é só porque sou talentoso. Eu sei, tem essa parte... Mas também tem o lado de meio que caminhar na linha para receber de volta esse merecimento.
E você também teve uma escola rígida para poder caminhar na linha, né?
Com o Chico Anysio fiz pós-graduação (risos). São referências e aprendizados muito fortes. Antigamente, para o cara estar na televisão numa geração de Chico, Fernanda Montenegro, o cara tinha de saber escrever, interpretar, dirigir... Eu tive a felicidade de entrar em 1992 nessa escola. É que o Brasil não tem memória. Eu fiquei dez anos para ingressar na Rede Globo. Principalmente por causa desse meu jeito calado... Eu sempre fui reservado, educadinho, demorei a ingressar. Tem aquele que já bate no ombro e gosta de papo. Daí é mais fácil.
Hoje, então, falta rigidez no mundo da comédia, que pipoca artista a todo instante?
É muito bem-vindo. O público vai avaliar quem são os verdadeiros artistas, que têm veia artística. O resto vai se exercitar.
E você se sente meio professor dessa turma? Recebe muito material de jovens talentos?
Bastante. Se tenho cinco mil seguidores  no Twitter, eu consigo responder mil. Eu sou um pouco distanciado da internet. Eu consigo ler meu livro tranquilamente. Não fico almoçando com o celular na mão, sabe? Mas quando pego o celular e vejo, eu respondo positivamente. Nunca negativo. Depois o cara chega, estoura e escuto que eu recriminei o cara...
Hum... E você como lida com uma crítica hoje?
Quando a critica tem um critério, eu dou uma alinhada no rumo em que estou.
Já te rendeu muita dor de cabeça?
Não, não. Gosto quando a pessoa critica um ponto chave, critérios artísticos.
E você vai mesmo ao Faustão, depois do comentado rompimento com a Globo?
Na verdade soltaram a nota e estou quieto. Minha amizade com o Faustão é de irmão. Mas, por enquanto, fica no ar. Não tem nada certo. Pode vir a ter. Meu foco agora é Multishow.
Retorno ao plim plim
 “O Faustão é um irmão para mim. Mas não houve convite. Soltaram a nota, mas estou quieto. Não tem nada certo. Pode vir a ter”
Tom Cavalcante
Ator, sobre volta ao “Domingão do Faustão”
Gente como a Gente
“Eu não tenho vaidade de ator. Aquele que você chega no aeroporto e ele está todo mascarado, sabe? Eu posso até estar, mas sou acessível”
Tom Cavalcante
Comediante

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