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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

A “Escola com Partido” de Bolsonaro



Madalena França Via Tijolaço 
O general escalado por Jair Bolsonaro para gerir o quartel da Educação, Aléssio Ribeiro Souto, que já fala com a desenvoltura de quem foi “nomeado”, repete e amplia, no Estadão, as barbaridades que já havia dito à Folha sobre o programa inacreditavelmente primário e autoritário que tem para as escolas brasileira.
Num país que gastou anos na elaboração, por professores, especialistas e gestores, da recém concluída Base Nacional Curricular, ele quer, numa penada, uma “revisão completa dessas questões curriculares”,  usando como critério a “verdade” (ele é dono da dita cuja) para “não termos absurdos que vimos na TV, como a distribuição de livros que deixam qualquer mãe estupefata”.
O general, decerto,refere-se a um livro sobre sexualidade que jamais  foi distribuído nas escolas, como ficou claramente provado, mas, neste estranho critério de verdade, se Jair Bolsonaro diz que foi, então foi.
Mas  ele amplia as barbaridades como disse.
A “prioridade” para o professor não é melhorar sua  remuneração – “a remuneração é quinto ou sexto tópico a se considerar” – mas dar-lhe mais “autoridade”. Mas é curioso que a sua proposta já seja absolutamente igual ao que já acontece em situações extremas:
Tem de ter a ideia de que, depois dos pais, reverenciamos os professores. É absolutamente inaceitável a agressão ao professor e aos pais. Tem de ser reprimido.
Como fazer isso?
Dentro dos meios democráticos e legais. Aquele que ameaçar agredir o professor, aquele que dirigiu uma palavra mal dita ao professor, tem de haver repressão. Democrática.
E como é?
Tem de ser retirado da sala. Se agredir, polícia. A polícia leva as crianças e atua através do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Para adultos, polícia pura e simples. Delegacia. Não pode haver dúvida.
General, qual a novidade?
Nenhuma, a não ser que o aluno com desvio de conduta, num governo fascista e “caçador de ideologias” terá sempre a saída de dizer que o professor que ele quer atacar “é comunista”, que estava tentando incutir propaganda esquerdista, etc, etc… Bom, aí ele já entra na cota do “metralhar os petistas”, certo? O dedurismo vai virar uma maneira simples de intimidar o magistério, pois imagine o que é usar, numa aula de português, um escrito de Graciliano Ramos, “aquele escritor comunista”…
O raciocínio medíocre e autoritário não passa, claro, por tornar a escola um local agradável, de convívio amigo e respeitoso, mas por uma visão meramente militar da relação entre professor e aluno: um manda, o outro obedece.
Isso, general, não funciona mais nem mesmo dentro de casa, com um ou dois filhos, o que dirá numa turma de 40 adolescentes e qualquer professor sabe disso. Sou filho de uma mulher que foi professora primária, alfabetizadora, por 20 anos. Nem ela, nem suas colegas jamais fizeram isso por uma simples e básica razão: não funciona.
Ao contrário do que ocorre nas escolas privadas ou de nas de acesso restrito, levar as coisas ao ponto da exclusão do aluno é o mesmo que dizer: “vá ser um pária ou um criminoso”.
A abordagem que faz do sistema de cotas, em lugar de sugerir aprimoramentos, é querer invalidá-lo pela exceção.
“Pobre branco de olhos azuis não tem direito?”, pergunta.
A pergunta poderia, também, usando como exemplo garotos negros filhos de pais bem-sucedidos: “mas o neto do Pelé não tem direito?”
É o melhor caminho para que nada nunca mude, porque reduz tudo à questão do mérito individual, como se o mérito fosse uma característica dos cromossomos, não predominantemente do ambiente em que uma criança se desenvolve.
O general, como educador, é pior que um zero à esquerda.  É o vetor de um pensamento que, ao encarar o aprendizado como um dever e não um prazer, torna a escola triste e ineficaz.
A propósito, General, a publicação de sua entrevista hoje,  no Dia do Professor, é uma crueldade que o magistério brasileiro, já tão sacrificado, não merecia.
Madalena França

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