Bernardo de Mello franco, em
O Globo, na linha do que já se escrevera aqui
no domingo:
A ministra Cármen Lúcia sempre demonstrou cuidado com sua imagem pública. Por isso, é difícil entender o que ela esperava ao receber Michel Temer para uma conversa privada.
A presidente do Supremo Tribunal Federal abriu a própria casa para o mais ilustre investigado da Corte. O encontro ocorreu num dia de folga, sem testemunhas e fora das agendas oficiais.
A visita já seria imprópria em tempos de calmaria. Está longe de ser o caso. Temer voltou à mira da Lava-Jato. Sob pressão, tem aproveitado todas as oportunidades para reclamar do Supremo.
Em quatro dias, o presidente sofreu duas derrotas no tribunal. O ministro Luís Roberto Barroso quebrou seus sigilos no inquérito dos portos, que investiga o favorecimento de uma empresa do setor. O ministro Edson Fachin o incluiu no inquérito da Odebrecht, que apura o repasse de dinheiro sujo a seu partido.
O poderoso chefão do PMDB esbravejou duplamente. Seus aliados dizem que não havia motivo para a abertura das contas e que ele não poderia ser investigado por fatos anteriores à posse. As duas queixas revelam uma tentativa de colocar o presidente acima da lei.
No caso dos portos, Barroso seguiu o roteiro de toda investigação de corrupção. Se quebrou o sigilo dos coadjuvantes, não teria por que blindar o protagonista. Isso não significa que ele espere encontrar propina depositada na conta do presidente. Como diz o ministro Moreira Franco, não há amadores no Planalto.
No inquérito da Odebrecht, Fachin também fez o básico: atendeu a um pedido da procuradora-geral da República. Nomeada por Temer, ela entendeu que a Constituição impede que ele seja denunciado, e não investigado, por “atos estranhos ao exercício de suas funções”.
Para evitar constrangimentos, Cármen deveria ter evitado o encontro do último sábado. Se o investigado insistisse, a juíza poderia marcar uma reunião em dia útil e em local público, com registro na agenda oficial.
Seu colega Ricardo Lewandowski mostrou como se faz em 2015, quando Eduardo Cunha tentava emparedar o Supremo e interferir no rito do impeachment. O ministro recebeu o deputado, mas abriu as portas do gabinete e convidou a imprensa para ouvir a conversa.
Cármen Lúcia, que já está numa posição contestada por não colocar em votação o pedido de habeas-corpus para Lula poderia ter evitado esta desgaste. Ou será que, ao contrário do que parece, não foi um desgaste, mas um movimento para angariar apoio?
O senador Magno Malta, PR-ES, moveu processo por calúnia, injúria e difamação contra o padre Romário Hastenreitter, de Boa Esperança, município do noroeste capixaba.
A ação foi em decorrência de o religioso ter criticado a atuação dos três senadores capixabas, Magno Malta, Ricardo Ferraço (PSDB) e a senadora Rose de Freitas (MDB), durante homilia lida na igreja, quando foi votada a reforma Trabalhista no Congresso Nacional, em 2017.
“Isso causa prejuízos aos trabalhadores, da mesma forma que a reforma da Previdência, que, felizmente, não foi adiante”, disse o padre.
Frente a frente
O padre Romário disse que ‘não vai se calar’ e garantiu que só irá à audiência no Fórum da cidade, no dia 20 deste mês, com a presença do senador republicado. “Se ele mandar representante, não vou à audiência. Só irei se puder olhar cara a cara para dizer o que penso”, garante.
“questão da reforma trabalhista e também na reforma previdenciária, que não foi adiante, os três senadores atuaram como traidores da democracia, contra o povo”, critica o religioso.
“Fico bravo quando vejo políticos que foram eleitos para representar o povo e lutam por seus interesses”, afirmou o padre Romário.
A audiência, marcada para as 10h30m no Fórum local, pelo juiz Charles Henrique Evangelhista, já está movimentando a cidade, sendo esperada uma manifestação popular em favor do padre, que tem muita credibilidade no município.
O processo movido pelo senador está sendo visto em Boa Esperança como um verdadeiro tiro no pé, principalmente porque 2018 é ano eleitoral, e considerando que o padre Romário é muito querido no município.
“Não tenho nada a esconder, fiz críticas públicas, sim, a traidores da democracia”, conclui o padre Romário.
Por Jackson Rangel