As “jornadas de junho”, que a tantos iludiram, completam cinco anos este mês.
Não eram apenas 20 centavos, como dizia o mote original do movimento, logo substituído pelo “padrão Fifa” para tudo.
Os 20 centavos já foram acrescentados várias vezes nas passagens de ônibus e o “padrão Fifa”, nem é preciso dizer, virou sinônimo de lama.
Os blackblocs, tão misteriosamente aparecidos quanto logo desaparecidos, deixaram de usar as camisetas enroladas nas cabeças, à guisa de máscaras, e deram seu papel de destruição a rapazes elegantemente trajados de ternos e togas.
Todo o sentimento de autoestima, de afirmação coletiva e de esperança que o país desenvolvera, em pouco tempo, foi lançado fora e substituído pela velha e recorrente síndrome do vira-latas e pelo “todos são ladrões”, que desbordou rapidamente para o ódio, na política e mesmo nas relações pessoais.
O sonho do desenvolvimento, que vinha em marcha, dissipou-se e deu lugar ao pesadelo de uma crise pavorosa para milhões de brasileiros sem emprego e renda e para os milhares que voltaram ás calçadas, tiritando de frio neste junho, diante dos nossos olhos impotentes.
Chamaram de primavera o que eram os temporais que prenunciavam o fim do nosso verão nacional e estamos, agora, em pleno inverno político, econômico e social: sem líderes, sem progresso, sem o mínimo de harmonia que nos permita vermo-nos como um povo.
O último que o tentou passa frio e solidão em Curitiba.
Há um sentimento de cansaço, de esgotamento que aplastra nosso país, verdade que num mundo que parece caminhar para trás.
Precisam nos confundir, precisam tirar nossas referências, precisam nos manter contidos em tribos politicas ou “identitárias” para que não (re)descubramos que não é o que nos separa o que nos pode fazer avançar, mas o que nos une.
Desde o golpe, a direita e a mídia tiveram todo o poder, tiveram todos os meios para rasgar, deformar, amputar direitos e, até, para encarcerar os símbolos daqueles tempos.
O que conseguiu foi o desastre que presenciamos.
E do qual não sairemos se, entre nós, seguirmos batendo pé por vinte centavos e não aceitando quem não nos seja como um “padrão Fifa”.
A intransigência, a intolerância, a desagregação, tudo o que divide nos enfraquece.
Madalena França via Tijolaço