O jornalista Ricardo Cappelli simplifica em 9
drops o quadro político à luz do escândalo do Coaf envolvendo os Bolsonaro. No quem ganha e quem perde, segundo o articulista, Renan Calheiros e Rodrigo Maia, candidatos às presidências do Senado e da Câmara, respectivamente, disparam na frente.
Quem atirou a “laranja” em Bolsonaro?
Ricardo Cappelli*
Presidente fraco é uma iguaria muito apreciada por políticos e empresários. Brasília não perdoa. Redes sociais podem ajudar a chegar ao poder. Mantê-lo é para profissionais.
Bolsonaro montou um governo “autoral”. Entregou até aqui o que prometeu. Recebeu dos que o circundam apoios e tapinhas nas costas. Nas ruas da capital federal sorrisos e elogios costumam ser mais letais que tiros.
Quem vazou o motorista milionário e seus saques volumosos? Quem ganhou e quem perdeu com o tiro desferido? Nem as seriemas acreditam que relatórios do COAF “vazam sozinhos”. Atenção aos jogadores:
1 – O Núcleo Familiar – Os “bob filhos” são uma fonte permanente de risco e instabilidade. Já atropelaram o futuro chanceler e brigaram com a bancada do PSL. A beligerância desagregadora do clã precisava de um freio. O recado foi duro e pode custar a cabeça de um senador.
2 – O Grupo Financista – Paulo Guedes possui dois contrapesos. Os militares dão sinais de que podem resistir à privatização desmedida. Moro é outro que pode criar dificuldades, principalmente para a turma que gosta de atuar em fundos de pensão. O mercado está faminto. Fará pressão por entregas fortes no primeiro ano. Pode ter decidido “refrescar” a memória do eleito, alertando sobre os compromissos assumidos.
3 – Os Generais – Acompanham com preocupação o Capitão-Presidente. Temem que um eventual naufrágio arraste junto a imagem da instituição. Vêm ampliando a influência no governo. Vão disputar poder com Guedes e podem travar uma guerra surda com Moro. Abin e PF sempre se “estranharam”. Para os militares Bolsonaro é um “abacaxi-oportunidade”. Não fazem o estilo precipitados. De qualquer forma, Mourão não está ali para brincadeira.
4 – O Núcleo Palaciano – Onyx e Bebianno não possuem força própria. O primeiro parece estar sendo fritado em banho-maria pelas demais alas do governo. Seu temperamento explosivo não tem ajudado. O segundo foi quem ajeitou o PSL para a campanha. Luciano Bivar emprestou seu partido por altruísmo? Que argumentos convenceram Bivar? O potencial de choque dos interesses do grupo de Bebianno com Guedes é razoável. Certamente daqui não veio o tiro. Só existem como extensão do poder do Capitão. Seria suicídio.
5 – A Aliança do Coliseu – O bloco composto pela burocracia estatal antinacional e antipovo em aliança com a Globo chegou ao poder pelas mãos de sua ala mais radical. A família Marinho acabou atropelada pela ala curitibana. A emissora fez de Moro seu “representante-interlocutor”. O ex-juiz está numa sinuca de bico. Assiste calado sua fama de “justiceiro implacável” ser corroída pelo motorista milionário. A Aliança sonha com Moro na cadeira de Bolsonaro após um “pit stop” no STF. Detentor de luz própria, o ex-juiz pode até romper com o Capitão. Não fará isto antes da hora. Pelo aparato que está montando seu destino está traçado. Terá o governo nas mãos e passará a dar as cartas ou se isolará e cairá.
6 – MC Centrão – Numa sessão do Congresso, enquanto um senador discursava, um dos deputados esbravejava. Um moderado foi pedir ao colega que respeitasse a fala do senador e ouviu o seguinte: “não vou parar não, tá pensando o quê? O Senado é música clássica, aqui é baile funk!” A turma do Centrão está dançando ao som do “pancadão do Queiroz”. Publicamente declaram apoio desinteressado ao Capitão. Nos bastidores, contam com a desgraça do eleito. Como alimentar suas bases sem ocupar posições na Esplanada? Anseiam pela crise que obrigará o Planalto a retomar o “famigerado” presidencialismo de coalizão. São os mordomos do jogo. Sempre os principais suspeitos de tudo.
7 – A oposição – Está como cachorro caído do caminhão de mudança que foi atropelado pelo carro que vinha atrás. Tonta e dividida, resolveu morder o próprio rabo. É pouco provável que consiga ter acesso a alguma informação importante. Está mais para caça do que para caçador.
8 – Os Tucanos – Dizem que as aves de bico avantajado têm controle sobre uma banda da PF. O principal interessado no desgaste de Bolsonaro é Doria. O governador eleito de São Paulo quer o Planalto. E já provou que é capaz de pisar no pescoço de qualquer um. Aspira ser um “Bolsonaro empresário, etiquetado e quatrocentão”. Tomou uma taça de champanhe em homenagem a Fabrício Queiroz, sem sombra de dúvida.
9 – Renan e Rodrigo Maia – São os principais beneficiados no curto prazo. Favoritos nas disputas pelas presidências da Câmara e do Senado, enfrentam resistências da família Bolsonaro. O Planalto pode até não ganhar sozinho as presidências das Casas, mas perder pode virar um problemão. Um eventual pedido de impeachment passa por lá. O carioca e o alagoano deram mais um passo em suas pretensões.
O novo presidente gozará do seu período de lua de mel com a população. É improvável que o caso tenha poten
cial para derrubá-lo. Se virar hemorragia, a cabeça de seu filho Flávio pode ser suficiente para estancar a sangria.
O jogo está começando na mesma voltagem da campanha. Os profissionais estão ávidos pela partida. Quem atirou a(o) laranja? Emoção não vai faltar.
*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.
por Madalena França via esmael