04/07/2015 22:00
No dia seguinte ao Denarc desmontar esquema que abastecia a Cracolândia, pouca coisa mudou
O fluxo de usuários na Alameda Dino Bueno com a Rua Helvetia ainda é forte / Leo Martins/Diário SP
Por: Amanda Gomes
amanda.gomes@disp.com.br
As prisões de 11 traficantes que distribuíam drogas na Cracolândia, na região da Luz, no Centro da capital, anunciadas na quinta-feira pela Polícia Civil, não serviram para intimidar outros “revendedores” que agem no local. Tampouco diminuiu o consumo de crack, pelo menos visualmente.
Na sexta-feira (3), o fluxo (grupo de usuários de drogas) que tomava conta da Alameda Dino Bueno com a Rua Helvetia continuava intenso, mesmo com a chuva.
Os comerciantes, moradores e frequentadores do bairro não acreditam que a operação feita pelo Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos) seja suficiente para diminuir a venda e consumo de crack no local.
Essa é a opinião da comerciante Ana Gama, 22 anos. “Vi muitas operações e nada mudou. Prendem três, mas depois chegam 30 traficantes”, diz. “Eu vi isso (a Cracolândia) nascer e é muito triste a situação dessas pessoas”, afirmou.
Ela conta que é comum os traficantes usarem os usuários para a droga entrar no fluxo. “Na verdade é tanta droga que ninguém sabe por onde entra, mas os consumidores são usados para repassar também”, afirma Ana.
O sentimento é o mesmo do comerciante Rodrigo Silva, 25. “Está tudo igual e acho que isso aqui nunca vai mudar. A polícia sabe quem são os traficantes”, reclama.
Começo/ O diretor do Denarc, Ruy Ferraz Fontes, afirmou que a operação realizada na manhã de quinta-feira é o começo de uma série de ações para tentar melhorar a região. Ele disse que a presença da polícia será permanente.
“Esse é o primeiro passo. Obviamente não acabou o tráfico lá, mas nós vamos nessa direção”, disse o policial durante a coletiva de quinta-feira.
As prisões aconteceram após quatro meses de investigação e os policiais conseguiram entender como funcionava o esquema para venda da droga
Segundo a polícia, um dos homens presos era um grande fornecedor da região. Givanildo Ferreira da Silva faturava mensalmente cerca de R$ 1 milhão com a venda das drogas. Ele repassava 180 mil pedras de crack por mês. Por dia os traficantes, considerados pela polícia como médios, vendiam 3 mil pedras. Eles contratavam os próprios usuários para revender o crack.
Escuta telefônica aponta o aluguel de ‘ponto’ para tráfico
A TV Globo exibiu escutas da polícia que mostram a movimentação de traficantes na Cracolândia. Em um dos áudios, um suspeito até negocia o aluguel de um espaço para outro criminoso.
“Ele quer trabalhar no Centro. Aí eu falei: ‘Eu alugo meu espaço aqui para você. Trezentos reais e você vai trabalhar e vai pegar meu espaço’”, afirma um traficante no áudio.
Em outra conversa, um homem diz para a mulher preparar a banqueta, onde o crack é repartido para venda. “Já está tudo preparado aqui, meu filho. Aqui a gente anda preparado”, respondeu a mulher, que havia pedido mais droga porque estava em falta.
Os policiais do Denarc ainda procuram mais três traficantes que foram identificados e estão foragidos. São eles: Renan Clemente dos Santos, Edson Costa e Gabriel de Souza Silva. Todos vendiam droga para o fluxo e também contratavam usuários para revender o crack.
RESPOSTA DA PREFEITURA
Em nota, a Prefeitura diz que o trabalho junto aos usuários de crack é constante e consiste na aproximação, abordagem e encaminhamento para as redes assistenciais e de saúde. Porém, a adesão é voluntária. A Secretaria Municipal de Saúde estima uma queda de aproximadamente 80% das pessoas no fluxo no ano passado e a Polícia Militar registrou diminuição de 80% nos roubos de veículos e 33%, no de furtos.
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