POR FERNANDO BRITO
Quando os mansos começam a rosnar, é sinal que vai haver disputa pela chefia da alcatéia que o lobo decadente já não pode liderar.
A nota da coluna de Lauro Jardim, hoje, dando conta de que Rodrigo Neves se irritou com Michel Temer por não ter sido consultado na escolha do novo presidente do BNDES e do Ministro da Justiça, Torquato Jardim é sinal de que os apetites do antes incondicional pupilo estão crescendo.
As chances de uma nulidade como Rodrigo Neves tornar-se Presidente da República pelo voto são, óbvio, absolutamente nulas.
Mas, pela cabeça de menino bafejado pelas heranças políticas de que sempre foi beneficiário, a hipótese de herdar o cargo com a saída cada vez mais provável de Temer já entrou pelas portas abertas da ambição sem mérito e agora pulsa, indócil.
Imagine, assumir o cargo e promover o desmonte dos direitos trabalhistas e previdenciários, que, como a Globo mostrou ontem, são tudo o que o empresariado e o mercado financeiro querem do governo?
Rodrigo Maia, o homem que conseguiu fazer o que Temer não conseguiu fazer, o homem que garantiu a manutenção da equipe econômica dos sonhos (deles, claro) não se habilitaria a ser um candidato palatável para uma direita que não tem coisa alguma senão um indesejável Jair Bolsonaro e um tucanato arrasado, onde restam Geraldinho e Joãozinho que não decolam?
Mesmo que não consiga consumar as reformas, já marcou, diante do mercado, que as manterá vivas, à espera de que a situação permita avançar com elas…
E, ainda que não seja candidato ou “reformador”, não ganha um cacife para influir num futuro governo, seja de quem for?
Desde a conversa, semana passada, sobre um suporto apoio da esquerda a seu nome numa eleição indireta, ele vai deixando claras suas pretensões.
Não é por falta de apetite que Rodrigo Maia engordou também na política.
Deve cuidar, porém, do que diz Machado de Assis, o criador da imagem da mosca azul, ter acontecido ao homem que a empalmou: “Dizem que ensandeceu e que não sabe como/Perdeu a sua mosca azul”.