Nesta etapa, investigadores miram empresa usada para intermediar suposto esquema de propinas de uma empreiteira para um funcionário da subsidiária da Petrobras
APolícia Federal (PF) deflagra nesta terça-feira, 21, a 47ª fase da Operação Lava Jato, denominada Operação Sothis, contra supostos desvios na Transpetro. Nesta etapa, investigadores miram empresa usada para intermediar suposto esquema de propinas de uma empreiteira para um funcionário da subsidiária da Petrobras.
A ação policial tem como alvo principal a investigação de empresas e seus respectivos sócios na operacionalização de um esquema de repasses ilegais de empreiteira para funcionário da Transpetro, em decorrência da obtenção de contratos para a empresa.Segundo a PF, 40 agentes estão cumprindo oito mandados de busca e apreensão, um mandado de prisão temporária, e cinco mandados de condução coercitiva nos Estados da Bahia, Sergipe, Santa Catarina e São Paulo.
Os investigados responderão pela prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro dentre outros. O preso será levado para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. O nome da ação foi dado em razão de uma das empresas investigadas ter o nome Sirius. A estrela Sirius era chamada pelos egípcios de Sothis. Com informações do Estadão Conteudo.
“Estão a aprontar no submundo”, diz o jornalista Luis Costa Pinto; na manobra que ele descreve, logo depois do segundo turno de 2018, o Congresso aprovaria a extensão do foro privilegiado de qualquer ex-presidente que não tenha sido condenado em última instância – o que evitaria a prisão de Michel Temer, apontado como corrupto e chefe de quadrilha, após o fim do mandato que ele usurpou da presidente Dilma Rousseff
Nos dois últimos meses o Brasil testemunhou uma desonrosa disputa. Quatro episódios competiram entre si pelo troféu “Maior Escárnio da História Republicana”:
A votação da Câmara dos Deputados que impediu o prosseguimento, no Supremo Tribunal Federal, da 2ª denúncia por corrupção ativa e obstrução de Justiça contra Michel Temer.
A sessão em que, por 6 votos a 5, o Supremo Tribunal Federal curvou a espinha para Senado e, de joelhos, reescreveu a Constituição inventando que medidas cautelares contra parlamentares só serão cumpridas se o Parlamento ao qual pertença o investigado assim permitir.
Divulgado ontem à noite, só no Estadão, graças a Jamil Chade, seu ótimo correspondente na Suíça, teve algum destaque o relatório da Organização Mundial do Trabalho que aponta o desemprego entre os jovens no Brasil tendo alcançado sua maior taxa em 27 anos: 29,9%, duas vezes maior que a média mundial, de cerca de 13,1%”.
Ainda não deu tempo de ler o relatório na íntegra (aqui, em inglês), mas um rápido olhar já revela o quanto a recessão influiu nisso, como destaca Chade:
A queda do crescimento da economia brasileira, informalidade e as incertezas de investimentos teriam gerado o salto no desemprego dessa camada nos últimos anos, ainda que o pico possa já ter sido atingido. “Houve uma enorme desaceleração de alguns países, entre eles o Brasil”, disse a diretora de Política de Desenvolvimento e Emprego da OIT, Azita Awad.
A situação é tão ruim aqui quanto em países que vivem uma situação de guerra ou de devastação:
Hoje, entre as mais de 190 economias avaliadas pela OIT, apenas 36 delas tem uma situação pior que a do Brasil para os jovens. Na Síria, por exemplo, a taxa de desemprego entre os jovens é de 30,6%, contra 34% no Haiti.
Depois, trato de algo que o relatório revela claramente: o grau de desqualificação do jovem brasileiro para o trabalho, que não apenas eleva o desemprego quanto, também, influencia na qualidade dos postos de trabalho que lhe estão acessíveis.
Para um país que paralisou a criação de centros públicos de educação tecnológica, acabou com o Ciência Sem fronteiras e que tem o ensino profissionalizante fortemente apoiado na estrutura de um Sistema “S” (Senai e Senac, principalmente) entregue a uma visão mercantilista, é a garantida de que aquilo que está ruim, assim, vai piorar.
Apareceu o vídeo onde o marqueteiro Renato Pereira, que delatou meio mundo do PMDB do Rio de Janeiro, diz que ganhou de forma fraudulenta a concorrência para prestação de serviços publicitárias para a Fiesp (e Sesi/Senai-SP) e que toda a atividade das campanhas – como a do famoso “pato”- eram orientadas para promover a candidatura do presidente da entidade, Paulo Skaf, ao governo de São Paulo em 2018.
-Eram campanhas institucionais e temáticas – inclusive a campanha do pato pelo imposto (eu não vou pagar o pato) – mas que tinham claramente o objetivo de promover a figura pessoal do Paulo e, explicitamente, nas reuniões que nós participávamos com os assessores de comunicação, com os assessores econômicos do Paulo Skaf na Fiesp, as discussões giravam sempre sobre o cenário eleitoral, a conjuntura política brasileira, o cenário eleitoral de São Paulo, disputa de 2018 e como promover o Paulo para esta disputa.
Portanto, os adoradores do pato da paulista fiquem sabendo que eram figurantes da propaganda de Skaf, paga com dinheiro de contribuições públicas – o dinheiro do Sesi/Senai vem de contribuição paraestatal, obrigatória.
Estes, portanto, deveriam assistir mil vezes o vídeo abaixo e repetir outras mil vezes: eu sou um patinho, eu sou um patinho, eu sou um patinho…
O que levaria Michel Temer, o vaidoso que pretendia entra na história como “o homem que uniu o Brasil (e talvez tenha sido nisso bem-sucedido, pois uniu ao menos 95% dos brasileiros contra si) e como o presidente que levaria os desmanches neoliberais a um grau que nem Fernando Henrique Cardoso alcançou, a entregar para Rodrigo Maia o lugar de patrono da joia da coroa “reformista”, a reforma da Previdência?
O que levaria Rodrigo Maia, um ambicioso político que, de sem-voto, passou a condestável da República, enfeixando um poder na Câmara comparável ao de Eduardo Cunha, capaz de decidir o que se vota e o que não se vota, de discutir temas econômicos com o Ministro da Fazenda ao largo do presidente e de fazer o chefe de Governo ir, num domingo, à sua casa, capitular e entregar-lhe o comando da tropa que dizia comandar: a base parlamentar?
A solução para este par de indagações só pode ser alcançada a partir de uma premissa: ambos são falsos, dissimulados, insinceros. Trabalham, ambos, para desmerecer e enfraquecer o outro. Como no velho jogo de cartas, procedem para deixar que ao outro caiba “micar” ao final do jogo.
Temer jamais entregaria o comando da votação da reforma da Previdência se acreditasse em alguma chance de emplacá-la.
Maia jamais aceitaria o papel se, em troca, não se lhe tivessem dado o Ministério “Faz Partido” da Cidades, balcão de compra de prefeitos que, antes, Gilbero Kassab soube bem utilizar.
Este Alexandre Baldy – que aceitou abrir mão de reeleger-se e prometeu ficar até o fim de 2018,terá como missão recolher suporte para fazer de Maia o comandante do Partido do Centrão.
A pretexto de conseguir votos para a Previdência, terá carta branca para comprar apoio Brasil afora, escrevendo a lápis o que Temer terá de assinar a caneta.
De quebra, abre uma portinhola para Marconi Perillo, com quem tem relações claras (e também obscuras) para montar a banquinha para adquirir, a preço baixo e magoado, o que sobrar do PSDB rachado.
Faltam poucas cartas a serem abertas do baralho.
Resta saber qual dos dois vai repassar o “mico-preto” para o muy amigo.
“Uma única mala não prova nada”, diz o diretor da Polícia Federal sobre o dinheiro recolhido por Rodrigo Rocha Loures com o tal Ricardo Saud, da JBS.
Certo, mas será que o delegado Fernando Segóvia pode explicar para que ou o que era aquela mala?
Teria Rocha Loures simplesmente “trocado um cheque” de R$ 500 mil com Saud, porque era de noite, o banco estava fechado e ele precisava de uns trocados para a “night”?
Mas dê-se ao Dr. Segóvia o beneficio de que tenha querido dizer que as provas precisam ser mais sólidas, que a investigação deve revelar o beneficiamento direto do acusado, no caso Michel Temer, para que contra ele se possa propor uma ação penal.
Então como é que o Dr. Segóvia acha que, lá na PF do Paraná, valem pedalinhos, uma visita para “olhar” apartamentos, papeluchos que não se sabe quem rasurou e outras provas que não provam nada mas que, sendo contra Lula, subsidiam uma sentença de quase dez anos de prisão?
A verdade é que o novo diretor da Polícia Federal está perdendo boas oportunidades de ficar de boca fechada.
O único serviço que ele presta, com isso é o de mostrar, para quem ainda tinha dúvidas, que o furor investigatório da Polícia Federal é politicamente dirigido, como ele faz de forma escancarada.
Não vai cair, porque só cairia se dissesse que os arremedos de prova que invocaram contra Lula “não provam nada”.
Não provam, mas há que se que dizer que provam, e cabalmente.
Nesta segunda-feira, 20 de novembro, os Municípios recebem o repasse do segundo decêndio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O montante transferido será de R$ 602.119.486,82, já descontada a dedução do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). A Confederação Nacional de Municípios (CNM) informa que, em valores brutos, isto é, incluindo a dedução do Fundeb, o valor é de R$ 752.649.358,53. A CNM contabiliza que o montante do FPM repassado ao longo de 2017 até o segundo decêndio de novembro totaliza R$ 80,419 bilhões. Isso significa aumento de 9,48% em relação ao montante transferido aos Municípios no mesmo período do ano anterior, sem considerar os efeitos da inflação.
A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) estima um crescimento de 13,6% no acumulado de novembro em relação a novembro do ano passado. No entanto, o aumento foi de apenas 3,54% até o segundo decêndio desse período. Diante disso, a CNM recomenda cautela aos gestores e pede atenção ao gerir os recursos municipais, pois o cenário político e econômico brasileiro ainda é incerto.
A visão inovadora do empresário João Batista, 62 anos, transformou uma pequena rede de padarias em uma indústria de ponta de produtos de panificação congelados, em Surubim, no Agreste do Estado. Com um parque industrial de mais de 20 mil metros quadrados, a PanCristal produz cerca de um milhão de pães por dia e gera 360 empregos diretos e 1,8 mil indiretos. O pão corresponde a 70% da produção, mas é apenas um dos 300 produtos da empresa. Para 2017, a previsão é crescer 20%.
Imagem: Divulgação/Reprodução: Hibernon Neto
Os números vultosos não são suficientes para aplacar o espírito empreendedor de Batista. Até meados do próximo ano, a promessa é triplicar a capacidade produtiva e expandir a fábrica, com investimento de R$ 20 milhões. Nos próximos cinco anos, o empresário vislumbra chegar à capacidade produtiva de 10 milhões de pães por dia. “Sou um visionário, só sei pensar grande”, diz, sem modéstia.
Mesmo elogiando o PSB em conversas com interlocutores (“Os partidos no Brasil têm donos; o PSB me parece não ter”), Joaquim Barbosa só aceitará ser o candidato a presidente da República com carta branca. O ex-presidente do Supremo se encontrou com os chefes da legenda no dia 8, em Brasília. Disse a eles que não se interessa “em ser vice de ninguém”.
Barbosa acredita que uma aliança com aRede pode resultar numa chapa harmônica — será que com Marina Silva de sua vice?
Barbosa ainda repete a interlocutores que sua tendência é não ser candidato a nada (“preciso refletir se estou disposto a uma mudança tão radical na minha vida”), mas o fato é que nunca esteve tão aberto a discutir a possibilidade. Ao PSB disse que fará agora uma longa viagem ao exterior. E prometeu dar uma resposta definitiva entre “final de janeiro e início de fevereiro”.
O novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segovia, criticou nesta segunda-feira (20) a investigação da PGR (Procuradoria-Geral da República), então comandada por Rodrigo Janot, que sustentou as duas denúncias contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB).
O peemedebista foi denunciado inicialmente por corrupção passiva e, depois, por obstrução de Justiça e organização criminosa junto aos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). Ambas as peças foram rejeitadas pelo plenário da Câmara dos Deputados.
Batalha por Stalingrado durou de agosto de 1942 a fevereiro de 1943 e terminou com a rendição do exército de Hitler, mudando o curso da Segunda Guerra e da história mundial. Nos 'Diários de Stalingrado' estão os relatos que Stalin considerou verdadeiros demais para publicar
A batalha por Stalingrado durou de agosto de 1942 a fevereiro de 1943 e terminou com a rendição do exército de Hitler, mudando o curso da Segunda Guerra e da história mundial. Foi a batalha mais feroz da história humana, ceifando a vida de centenas de milhares de pessoas. A Batalha de Stalingrado pôs fim ao sonho de Hitler de dominar o mundo e deixou claro que era apenas uma questão de tempo até que a Alemanha nazista capitulasse.
Professor da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, Jochen Hellbeck é um importante historiador do período soviético. Publicado em 2015, o fascinante livro “Stalingrado: A Cidade que Derrotou o Terceiro Reich, e a Batalha que Mudou a História Mundial” (PublicAffairs, também disponível nas edições alemã, russa, sueca, finlandesa, espanhola e chinesa) conta a história dessa batalha pelo lado soviético. O trabalho de Hellbeck, que recebeu uma bolsa John Simon Guggenheim 2017 em humanidades, continua concentrado nos esforços de guerra para registrar as atrocidades cometidas pelos alemães em solo soviético.
Nascido em Bonn, então Alemanha Ocidental, Hellbeck, de 51 anos, é também fundador de um projeto on-line chamado facingstalingrad.com, baseado em uma série de entrevistas em profundidade – realizadas em conjunto entre 2009 e 2010 com a fotógrafa Emma Dodge Hanson – com veteranos russos e alemães sobreviventes dessa fatídica batalha. As entrevistas, bem como as raras fotografias e cartas compartilhadas pelos veteranos, mostram como a batalha é lembrada de formas diferentes pelos dois lados da guerra.
Um sentimento assustador de perda e derrota marca as lembranças do lado alemão, enquanto a narrativa russa sobre Stalingrado está imbuída de um espírito de orgulho nacional e sacrifício. Os veteranos alemães referem-se a Stalingrado como uma ruptura traumática em sua biografia, enquanto os russos tendem a ressaltar o aspecto positivo de sua autorrealização na guerra, mesmo quando confessam dolorosas memórias de perdas pessoais.
Michal Shapira, repórter do jornal israelense Haaretz, falou com Hellbeck após uma visita dele à Universidade de Tel Aviv no início de 2017.
O que o levou a estudar a Segunda Guerra Mundial em seu livro e, em particular, se debruçar sobre a Batalha de Stalingrado?
Meu trabalho anterior havia explorado os diários pessoais escritos na União Soviética de Stalin. Ele revelou que, ao contrário do que se pensa, muitas pessoas mantiveram diários. O objetivo não era cultivar pensamentos pessoais contrários ao comunismo, mas alinhá-los com os ditames da Revolução Soviética e elevar os próprios pensamentos enquanto participante de fato histórico mundial. Então, eu fiquei curioso como esses esforços seriam comparáveis aos gerados pela revolução nazista alemã e sua versão do “Homem Novo”. Stalingrado, como um choque culminante e prolongado entre os dois regimes totalitários, parecia ser o lugar certo para este próximo estudo. Sendo alemão, claro que também sou suscetível ao imponente lugar de Stalingrado na memória coletiva alemã. O problema com esta memória é a sua natureza insular: a maioria das representações existentes da batalha que você pode ler na Alemanha ou em outros países ocidentais conta a história predominantemente do ponto de vista alemão. Essas representações começam com o ataque à cidade, destacam o drama dos soldados alemães que estavam cercados e terminam com os 100 mil sobreviventes alemães mantidos em cativeiro pelos soviéticos. Quando, durante minha pesquisa, descobri uma série de entrevistas feitas durante a guerra com soviéticos que defenderam a cidade, decidi que o foco central do meu livro deveria estar no lado soviético, algo relativamente menos conhecido na história.
O livro é baseado em entrevistas com soldados do Exército Vermelho que você encontrou nos arquivos. Eles descrevem violência de modo chocante. Você pode falar sobre a natureza dessa violência?
As entrevistas foram feitas em Stalingrado, durante o período final da batalha e das suas consequências imediatas. Elas ecoam o barulho do campo de batalha, e a violência está em toda a descrição dos fatos. Os soldados do Exército Vermelho descrevem como eles lutaram para chegar ao centro da cidade, explodindo porões e edifícios inteiros lotados de alemães após alguns germânicos se recusarem a depor suas armas. O que se torna muito claro é a medida de como os soviéticos foram guiados pelo ódio contra os alemães. Nas entrevistas, me surpreendi ao descobrir a origem desse ódio.
Peguemos o exemplo de Vassily Zaitsev, o famoso atirador de Stalingrado, que matou 242 soldados inimigos ao longo da batalha, até sofrer uma lesão ocular, em janeiro de 1943. Perguntado pelos historiadores sobre o que o motivou a continuar lutando além do limite da exaustão, ele falou sobre cenas que testemunhou pessoalmente: soldados alemães arrastando uma mulher para fora dos escombros de um prédio, provavelmente para estuprá-la, enquanto ele a escutava gritando por ajuda e ele nada podia fazer. “Ou quando você vê mulheres jovens e crianças penduradas em árvores no parque. Consegue entender isso? São coisas impactantes”, disse Zaitsev.
As atrocidades alemãs, das quais muitos soldados soviéticos estavam familiarizados, certamente desempenharam um papel importante na mobilização para lutar e lutar com afinco. Havia, além disso, ampla violência dentro do Exército Vermelho, perpetrada contra soldados que não estavam dispostos a arriscar suas vidas. Em sua entrevista, o general Vassily Chuikov descreveu como ele atirou em vários comandantes que recuaram do front sem permissão – essas execuções foram assistidas por soldados em alinhados em formação.
Até a publicação do seu livro em russo, em 2015, essas entrevistas nunca haviam sido publicadas. Por que isso ficou oculto tanto tempo?
Os testemunhos eram muito verdadeiros e multifacetados para a época e Stalin proibiu a sua publicação, não apenas porque ele reivindicou o crédito total pela vitória em Stalingrado. Pouco mudou após a morte de Stalin. Sim, os principais generais da batalha de Stalingrado, como Chuikov, conseguiram publicar relatos sobre seu papel na batalha, mas cuidadosamente omitiram qualquer referência a execuções dentro do Exército Vermelho. Em suas memórias, Chuikov escreve que ele deu apenas “uma repreensão aguda” aos oficiais covardes.
A documentação de arquivo mostra que pelo menos alguns historiadores soviéticos leram as entrevistas, mas parece que eles não estavam conseguindo transformar esses relatos individuais, subjetivos, como eles os chamavam, em uma história “objetiva” (comunista) obrigatória sobre a guerra e, assim, os documentos foram ignorados e esquecidos. Tive a a extraordinária sorte de ter sido o primeiro historiador a explorar de modo profundo as 215 entrevistas realizadas com os soldados soviéticos que defenderam Stalingrado e publicá-los. Encontrei-os no arquivo do Instituto de História Russa da Academia Russa de Ciências.
Quem estava realizando as entrevistas e por quê? Quem foram os entrevistados dessas “transcrições de Stalingrado”?
As entrevistas foram realizadas por historiadores de Moscou que criaram, em 1941, um plano para documentar o esforço de guerra soviético em sua totalidade, e desde o início, como resposta à invasão alemã. De 1942 a 1945, entrevistaram cerca de 5 mil pessoas – a maioria deles, soldados – mas também partidários, civis que trabalhavam na economia de guerra ou lutaram de modo clandestino e cidadãos soviéticos que haviam sobrevivido à ocupação nazista. Esses historiadores esperavam que a divulgação das entrevistas mobilizasse leitores para a guerra. Eles também queriam criar um registro de arquivo para a posteridade. Fiquei impressionado com a forma como eles tomaram essa decisão já no outono de 1941, quando a União Soviética parecia estar respondendo ao ataque alemão.
Mas os historiadores mostravam confiança na história, especialmente da Guerra de 1812, quando o povo russo conseguiu derrotar um invasor tecnologicamente superior. Hitler, eles estavam certos, repetiria o mesmo fim de Napoleão.
Por que Stalingrado se tornou importante para os nazistas e os soviéticos em 1942? Como ela se transformou numa batalha que mudou a história mundial?
Quando os alemães retomaram sua ofensiva, na primavera de 1942, seu alvo estratégico eram os campos de petróleo do Cáucaso. Somente quando o grupamento do Exército Sul avançou em direção a Maikop e Grozny, Hitler ordenou um ataque em separado contra Stalingrado. Ele apostou no golpe psicológico que a queda de Stalingrado, que significa literalmente “cidade de Stalin”, causaria em Stalin. Em grande parte, essa carga simbólica foi o que transformou a batalha por Stalingrado num confronto decisivo entre os dois regimes.
Qual foi o papel da mídia mundial antes e durante essa batalha?
A batalha de Stalingrado foi travada em um cenário global, e pode ter sido a primeira guerra midiática da história. Desde o início, observadores de todos os lados estavam focados nesse gigantesco confronto no extremo da Europa.
Um jornal alemão descreveu Stalingrado como a “batalha mais fatídica da guerra” – isso aconteceu no início de agosto de 1942, antes mesmo dos soldados de Hitler terem começado a atacar a cidade. Os relatos da imprensa global empurraram ambos os lados para a batalha. Durante o outono de 1942, a imprensa soviética citou jornais de lugares que vão do Egito à Índia e ao Canadá, exaltando o heroísmo dos defensores de Stalingrado. Em pubs em toda a Inglaterra, o rádio era ligado durante os noticiários noturnos apenas para saber as novidades sobre Stalingrado.
Entre as nações aliadas, e também em cidades e guetos ocupados pelos alemães, as pessoas estavam eufóricas sobre a capacidade do Exército Vermelho de resistir à investida alemã e contra-atacar. À medida que as notícias sobre a batalha rareavam, muitos perceberam isso como um indicativo de que a Alemanha perderia a guerra.
A violência e o horror durante a batalha por Stalingrado foram ferozes. Quais condições propiciaram tamanha violência e perda de vidas?
Ambos os regimes se mobilizaram ao máximo para conquistar ou defender a cidade. Antes de entrar em Stalingrado com tropas e tanques, os alemães começaram um bombardeio maciço, que durou duas semanas, incendiando e destruindo grande parte da paisagem urbana, ceifando 40 mil vidas. Poucas semanas antes, em resposta ao rápido avanço dos alemães em direção a Stalingrado, Stalin emitiu uma ordem de “nenhum passo atrás”, proibindo os soldados de recuarem em qualquer circunstância. Até os civis foram considerados defensores da “Fortaleza Stalingrado” e não foram autorizados a evacuar mesmo depois de vários dias após o início do bombardeio. À época, alemães e soviéticos, concordaram que as tropas do Exército Vermelho em Stalingrado lutaram com enorme fervor.
Eles apenas diferiram na interpretação dessa resistência. Os russos elogiaram o “heroísmo diuturno” de suas tropas, enquanto os alemães classificavam os soldados soviéticos como seres sub-humanos que lutaram cruelmente e sem qualquer respeito pela vida – mesmo pela dos seus compatriotas.
“Pela pátria socialista!” e “Pelo camarada Stalin!” – estes foram alguns dos slogans usados pelos combatentes em Stalingrado. Qual o papel desempenhado pelo bolchevismo na luta? Quais são as suas principais conclusões?
A ideologia comunista teve um enorme poder de mobilização durante a guerra. Este é um dos principais argumentos do meu livro e desafia o modo como outros estudiosos entenderam o esforço da guerra soviético. A noção predominante na academia é que Stalin estava politicamente falido quando a guerra começou – enganado pelos alemães, na defensiva e profundamente impopular. Por essa interpretação, Stalin reagiu ao derrubar o dogma comunista, abraçando o nacionalismo russo e adotando um tom mais populista. Apesar de algumas dessas coisas terem realmente acontecido, elas não sinalizaram uma abdicação ao comunismo, pelo contrário. Meu livro mostra em detalhes como os soldados do Exército Vermelho foram incorporados ao Partido Comunista.
Como isso aconteceu de fato?
Houve um enorme ingresso de soldados no Partido Comunista ao longo da guerra. Tanto que, ao final do conflito, o Exército Vermelho era predominantemente comunista e o partido, por sua vez, tinha características de uma organização militar. O requisito fundamental para um soldado se juntar ao partido não era conhecimento doutrinário; por exemplo, a capacidade de recitar livros do partido, mas provas de que o soldado havia matado alemães. Essa foi a maneira, por exemplo, de como o atirador Zaitsev falou sobre como ele foi introduzido no partido. Naquela época, ele havia atirado em 60 soldados inimigos; esse número chegaria a 242 até o final da batalha de Stalingrado. Participar do partido foi uma questão de honra e prestígio para ele e outros soldados.
Quão político era o Exército Vermelho?
Para avaliar a natureza política do Exército Vermelho, é instrutivo compará-lo com a Wehrmacht alemã. O historiador Omer Bartov argumentou que, para a Wehrmacht, com crescentes taxas de mortes e a destruição dos “bandos de irmãos” nas unidades de linha de frente, os comandantes militares dependiam cada vez mais do doutrinamento ideológico para moldar a coesão das tropas. Mas mesmo esse trabalho ideológico nazista ruiu contra o condicionamento sistemático, comunista e político que ocorreu no Exército Vermelho a partir do momento que os alemães atacaram em 1941. A ideologia foi o cimento que o comando do Exército Vermelho usou para unir seu diversificado corpo de soldados. A pregação incessante, alvejando cada recruta, foi constituída por conceitos acessíveis com uma enorme carga emocional: o amor pela pátria e o ódio ao inimigo. Os alemães ficaram muito impressionados com isso. Após a campanha de Stalingrado, Hitler ordenou que os oficiais políticos de estilo soviético – os chamados “comissários” – fossem introduzidos na Wehrmacht. Mas o exército resistiu a essa intrusão aberta do político no campo militar.
A Segunda Guerra Mundial foi uma guerra total, na qual os civis, tanto quanto os soldados, faziam parte da guerra. A economia, a cultura e a sociedade foram totalmente mobilizadas pelos governos. Qual foi o papel das mulheres na Batalha de Stalingrado?
Com praticamente todos os homens adultos servindo no Exército Vermelho, as mulheres tiveram que dirigir a economia de guerra soviética. Ao contrário da Alemanha, onde escravos estrangeiros representavam 25% da economia de guerra em 1944, ou da Grã-Bretanha, com a exploração de recursos coloniais – o modelo soviético era baseado na autoexploração. Além disso, quase 1 milhão de mulheres soviéticas serviram no Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, metade delas como soldados comuns e a outra metade, como enfermeiras, operadoras de telefonia ou lavanderia. Muitos dos soldados entrevistados em Stalingrado concordaram que as enfermeiras tiveram desempenho excepcional. Vários contaram a história comovente de Lyolya Novikova, uma jovem que não inspirava confiança porque “parecia uma bailarina e usava sapatos de salto alto durante o treinamento de combate.” Ela trabalhou como relatora, mas estava ansiosa para trabalhar como enfermeira para ajudar os feridos a voltar para o combate na linha de frente.
Em seu segundo dia no campo de batalha, fazendo curativos e recuperando soldados feridos, Novikova foi morta. Em uma reunião de jovens comunistas, realizada em sua memória poucos dias depois, várias mulheres discursaram, prometendo lutar contra os alemães, assim como Lyolya fez. Durante essa reunião, Lyolya Novikova foi aceita postumamente no Partido Comunista.
Enquanto Stalingrado estava prestes a cair nas mãos alemãs em setembro de 1942, o Exército Vermelho apresentou um plano para um contra-ataque que acabaria por esmagar o inimigo. Conte mais sobre esse momento histórico.
O movimento da pinça que atravessaria ambos os flancos das tropas do Eixo e cercaria mais de 300 mil dos seus soldados foi uma manobra ousada e ajudou a curva de aprendizado tático do Exército Vermelho. Em certo sentido, a contraofensiva copiou o modelo surpreendentemente bem-sucedido da blitzkrieg alemã de 1941. Também é notável como o comando militar soviético foi capaz de movimentar secretamente um contingente de 1 milhão de soldados ao longo desses flancos nas semanas que antecederam a operação. A inteligência alemã notou movimentos suspeitos de tropas, mas o comando do exército alemão ignorou esses avisos, pois estava convencido de que os soviéticos haviam esgotado todas as reservas humanas disponíveis.
Qual foi o significado da derrota para os alemães?
A primeira resposta do regime nazista após o bem-sucedido cerco soviético em novembro foi a negação. A imprensa alemã simplesmente deixou de noticiar sobre Stalingrado, incluindo as tentativas fracassadas de chegar até os saldados encurralados e fornecer suprimentos por vias aéreas. No entanto, os líderes nazistas não conseguiram ficar em silêncio sobre a derrota do Sexto Exército – Hitler disse, certa vez, que ele poderia atacar até os céus. Então, eles criaram um conto de fadas sobre alguns heroicos soldados alemães deixados para lutar contra hordas russas até o último suspiro. Até então, a propaganda alemã falava confiantemente em uma nova ordem para a Europa sob o domínio germânico; depois de Stalingrado, começaram a soar alarmes sobre o futuro da Alemanha, da Europa e da “civilização”.
O que isso significou na prática?
A ideia era mobilizar a população alemã através de uma intensa propaganda de medo. Mas o regime deu mais passos: ao visitar o campo de extermínio de Treblinka, no leste da Polônia, apenas um mês após a derrota em Stalingrado, Heinrich Himmler ordenou a exumação e a cremação dos corpos dos 700 mil judeus que haviam morrido lá. Himmler estava ciente o fim da linha era cada vez mais próximo para a Alemanha. Embora ainda faltasse mais de um ano até que o Exército Vermelho libertasse os campos de extermínio na Polônia, a Batalha de Stalingrado interrompeu a máquina da morte nazista. Neste sentido, também, Stalingrado marcou um ponto de virada na história mundial.
Quais foram as principais maneiras pelas quais os sobreviventes se lembraram de Stalingrado?
Algo notável sobre as entrevistas que descobri no arquivo é que elas foram gravadas durante a batalha e logo depois dela. Os soldados entrevistados não imaginam o que virá em seguida, e quando e como a guerra terminará. Mas eles falam com enorme orgulho sobre sua vitória sobre o exército de Hitler, que era dito como imparável.
Stalin precisava de de total dedicação de seu povo na luta contra o inimigo, mas também temia suas implicações, a saber, possíveis pedidos por mais democracia dentro da União Soviética. Essa foi uma das razões pelas quais essas entrevistas não podiam ser publicadas na época. Em 1945, Stalin certificou-se de que as publicações oficiais se referissem a ele como o único arquiteto da vitória soviética sobre o fascismo. Ironicamente, a morte e declínio de Stalin [em 1953] deu outro fôlego aos defensores de Stalingrado. Quando, como parte da campanha para combater o culto à personalidade de Stalin, sua cidade foi renomeada Volgograd em 1961, muitos veteranos se opuseram: com Stalingrado desaparecendo, eles também se sentiram apagados da História.
Até hoje, o Estado e o povo russo comemoram intensamente a batalha. Recentemente, a Igreja Ortodoxa incorporou Stalingrado nas suas orações, mesmo não estando presente durante a batalha em si. Mas o que eu acho mais impressionante sobre a memória de Stalingrado é o pouco que, em comparação, ela parece afetar líderes políticos e populações fora da Rússia. O mundo ocidental cultiva uma memória sobrevalorizada do desembarque de junho de 1944 na Normandia como o capítulo inicial da derrota de Hitler. Como batalha fundamental da Segunda Guerra Mundial, Stalingrado merece reconhecimento semelhante.
*Michal Shapira é professora titular em estudos de história e gênero na Universidade de Tel Aviv. A pesquisa dela trata da Segunda Guerra Mundial, do gênero e da história da psicologia no século XX.