A turma do Brasil oficial vive mesmo em outro mundo, distante e oposto ao do Brasil real.
A manchete de capa da Folha, mostrando que Geraldo Alckmin e João Doria reduziram as verbas para o combate aos mosquitos, vetores desta praga de retrocesso sanitário que vivemos, poderia, se quisessem, ser reproduzida para quase todos os governantes deste país.
Não é que, com todas as dificuldades, não tenhamos gente capaz na área de epidemiologia para deter esta volta ao passado. Temos, e há quase um século os temos.
A questão é que, há quase tanto tempo quanto os temos, falta-nos governos capazes de agir com a energia e a capacidade de comunicação pública que são essenciais para que se volte a por fim nesta situação que virou crônica e nos dá, a cada seis meses, um surto disto ou daquilo que vira histeria social.
A preocupação do Presidente da República é ir á TV defender a estrebuchante reforma da Previdência, a de Alckmin decolar nas pesquisas, a de Dória, manter armado o bote para ser o plano B dos tucanos. Dedicam-se à marquetagem com isso e não percebem que, por toda a parte, as filas e o disse-me-disse são os mais eficientes comícios contra eles próprios.
Ou alguém acha que é outro o espírito das centenas de pessoas que se aglomeravam, ontem, nas filas que viravam o quarteirão, ontem, em diversos bairros de São Paulo? Será que acham que os que foram embora, sem vacinar-se, depois que se esgotaram as senhas, saíram elogiando a austeridade fiscal?
Mas o marketing do Brasil oficial é feito por gente que vive no Brasil oficial e é forçoso reconhecer que a boca torta do cachimbo atingiu também setores da esquerda, muito mais interessadas em situações “identitárias” que o mosquito não distingue.
Aquele mundo distante, o do Brasil real, só existe esporadicamente, em surtos como os das doenças.
Mas, de tanto ser descuidado – pergunte aos médicos se não é assim – uma hora destas vira epidemia.