Manifestantes tentavam entrar no prédio para acompanhar audiência sobre projeto da
reforma da Previdência de funcionários públicos municipais.
Por G1 SP, São Paulo
Professora fica ferida durante tumulto na Câmara e é socorrida por bombeiro (Foto: Suamy Beydoun/Estadão Conteúdo)
O protesto realizado por professores municipais em frente à Câmara Municipal de São Paulo nesta quarta-feira (14) teve confusão entre manifestantes, guardas-civis e policiais militares. Houve tentativa de invasão e vidros da Casa foram quebrados. Bombas de gás lacrimogênio foram lançadas pela Polícia Militar.
O ato é contra a reforma da Previdência de servidores municipais. De autoria da gestão de João Doria (PSDB), o projeto de lei pretende, entre outros pontos, aumentar a alíquota básica de 11% para 14% (saiba mais abaixo). Segundo a assessoria de imprensa da Câmara, o tema faz parte da pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que ocorre nesta quarta.
Protesto de professores municipais acaba em tumulto em frente à Câmara de SP
O protesto fechou o Viaduto Jacareí. Parte dos manifestantes pôde entrar na Casa para acompanhar a sessão aberta, mas a maioria ficou de fora.
Por volta das 14h, os manifestantes que ficaram de fora tentaram entrar no prédio, mas foram impedidos pelos guardas e por PMs.
Professores tentam invadir Câmara de São Paulo durante protesto
Houve confronto e bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral foram jogadas. Um grupo usou os gradis para tentar quebrar os vidros da porta da Câmara, que são blindados.
O confronto seguiu no Viaduto Jacareí. Os manifestantes jogavam pedras e os PMs, bombas. A maior parte dos manifestantes se dispersou, mas a via seguia fechada às 15h20 por causa de pequenos focos de conflito.
Houve tumulto também no interior da Casa, com ao menos uma manifestante ferida.
Em nota, a presidência da Câmara Municipal de São Paulo informou que foi "garantido o debate democrático do PL 621/16. Tanto que assegurou o acesso de manifestantes ao plenário onde ocorria a reunião da CCJ e ao auditório externo até a lotação máxima dos dois espaços."
A Câmara vai apurar eventuais excessos das forças de segurança que atuam dentro do Legislativo.
Manifestantes usam faixa na frente da Câmara Municipal de São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo)
Fumaça das bombas de efeito moral lançadas durante ato em frente à Câmara (Foto: NELSON ANTOINE/ESTADÃO CONTEÚDO)
Professora passa mal após PM usar bombas de gás lacrimogêneo para afastar manifestantes da Câmara Municipal (Foto: Reprodução/TV Globo)
A vereadora Sâmia Bonfim (PSOL) compartilhou a imagem de uma mulher em sua página no Facebook que, segundo ela, é uma “servidora que se manifestava contra o SAMPAPREV” e que “foi espancada pela GCM” durante o protesto.
A sessão que discute a reforma chegou a ser interrompida. Por volta das 15h20 os trabalhos foram retomados, mas sem público e com as portas fechadas.
Às 16h, os vereadores aprovaram a proposta de aumentar a alíquota básica de 11% para 14% na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O PL ainda precisa passar por mais duas comissões para depois ser encaminhado à plenária e ser votado.
Confusão durante protesto de funcionários públicos em frente à Câmara de SP (Foto: Reprodução/TV Globo)
Doria condena excessos
O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), condenou na tarde desta quarta-feira o que chamou de “invasão” da Câmara por professores municipais e disse que houve excesso tanto de manifestantes quanto da Guarda Civil Metropolitana durante a confusão.
Doria deu as declarações em hotel da Zona Sul da capital paulista, após participação no Fórum Econômico Mundial para a América Latina, evento voltado para investidores. Ele conversou com jornalistas instantes após a confusão no Câmara, no Centro da cidade.
Doria condena invasão de professores à Câmara de SP e diz que houve excesso da GCM
“Houve uma invasão, é preciso estar claro. Aliás, não foi um convite [feito aos professores], foi uma invasão, o que não justifica nenhum tipo de violência, nem da parte que invade, nem da parte que é invadida. A Prefeitura, a figura do prefeito, não justifica nem ampara nenhum tipo de invasão, mas condena a invasão”, declarou o prefeito (veja no vídeo acima).
Questionado sobre se acha que houve excesso, o prefeito disse que “houve excesso das duas partes, de quem invadiu e da GCM também”.
Profissionais da rede municipal de ensino tentam invadir o prédio da Câmara (Foto: NELSON ANTOINE/ESTADÃO CONTEÚDO)
Policiais militares usam gás lacrimogêneo para afastar manifestantes da Câmara Municipal de São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo)
PMs posicionados contra manifestantes na Câmara Municipal de São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo)
Greve
Contrários à proposta, os professores municipais entraram em greve. Segundo a Prefeitura, a paralisação atinge 93% das 1.550 escolas da administração direta, ou seja, que são administradas pela própria Prefeitura com o auxílio de funcionários públicos.
Das unidades de ensino, 46% aderiram à paralisação totalmente, 47% funcionam parcialmente e apenas 7% funcionam normalmente, de acordo com balanço fornecido pela própria Secretaria Municipal de Educação nesta terça-feira (13).
Além dos professores municipais, servidores de outros setores também estão em greve desde o dia 8 de março, como da saúde, da zoonose, do serviço funerário, engenheiros, arquitetos, assistentes sociais, bibliotecários e guardas, segundo o Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep).
Senhor que passava pela Câmara Municipal de São Paulo é ferido. Ele disse que não participava da manifestação (Foto: Reprodução/TV Globo)
Professora é socorrida após manifestação na Câmara Municipal de São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo)
Confusão durante ato em frente à Câmara Municipal de SP (Foto: Reprodução/TV Globo)
Porta blindada resiste ao ataque de manifestantes na Câmara Municipal de São Paulo (Foto: Reprodução/TV Globo)
Reforma municipal
O projeto da reforma da Previdência municipal diz respeito aos servidores públicos paulistanos. Este projeto não tem relação com a proposta do governo federal, que atinge todos os trabalhadores brasileiros.
Ele foi motivado pelo fato de a Prefeitura de São Paulo gastar R$ 1 bilhão por mês com os salários de 120 mil funcionários e outros R$ 650 milhões para as aposentadorias de 97 mil servidores que já saíram da ativa.
Parte dessas aposentadorias é paga pelos servidores ativos, que contribuem com 11% do salário. Outra parte, que responde por 22% do total, é paga pela Prefeitura, que diz que a conta não fecha - e, por isso, precisa tirar dinheiro de outras áreas da administração para garantir os pagamentos.
A Secretaria Municipal da Fazenda calcula que, em 2017, 11% do dinheiro da cidade, ou R$ 4,7 bilhões, foram usados para cobrir o rombo. Como comparação, o total de investimentos foi de R$ 1,1 bilhão.
Segundo a Prefeitura, esse valor só aumenta, e é o principal argumento para o projeto de reforma da Previdência municipal.
O projeto da Prefeitura pretende aumentar a alíquota básica de 11% para 14%. Além disso, o Instituto de Previdência do Município, que cuida das aposentadorias, passaria por mudanças, começando a receber verbas da venda de imóveis públicos e de pagamentos de quem deve para a Prefeitura.
Servidores participam da reunião extraordinária da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal nesta quarta-feira (14) (Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO)
A Secretaria de Planejamento diz que, se tudo sair como o esperado, em 20 anos o buraco da Previdência desaparece - o que ajudaria a cidade a ter mais dinheiro para cuidar de outras áreas.
O presidente do Sindicato dos Servidores da Educação, Claudio Fonseca (PPS), que também é vereador, diz que, ao longo dos anos, a Prefeitura usou o dinheiro da Previdência para outras áreas, chegando até a atrasar repasses, o que fez o rombo crescer.
“Quero saber se a população vai ter a melhoria dos serviços”, diz o vereador, sobre o caso de o projeto passar. Para ele, a gestão usa “um argumento de ocasião, só comparativo, para convencer a sociedade”.
Da Rede Brasil Atual - "Não é muita ganância os argentinos terem Messi e o Papa ao mesmo tempo?", pergunta Juca Kfouri a seu convidado, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, que abre os braços e esboça um sorriso, dizendo: "Há que aceitar as coisas. Creio que ninguém escolhe essas coisas, e a vida é feita de surpresas..." O craque Lionel Messi, que atua no Barcelona da Espanha (e jogará na Copa em junho), e o Papa Francisco são compatriotas de Esquivel. Em seguida, o jornalista quer saber ele é hincha do Boca Juniors ou do River Plate, os eternos rivais do país vizinho, mas ele se declara torcedor do Independiente, el diablo de Avellaneda, e lembra de um amigo eterno, o escritor uruguaio Eduardo Galeano. Este talvez seja o único momento mais descontraído da conversa para o programa Entre Vistas, da TVT, exibido na noite desta terça-feira (13).
Entre Vistas pode ser visto no canal digital 44.1, além dos canais da TVT no Youtube e no Facebook. A íntegra também é publicada pela RBA. O programa foi exibido na TV Bahia, na Rede Minas e na TV Universidade Federal de Goiás.
Com a presença da professora de Direito Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carol Proner, organizadora de um livro com textos de juristas sobre o impeachment (A Resistência ao Golpe de 2016), o Entre Vistas teve muito debate sobre América Latina, democracia e direitos humanos. Além do processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem Esquivel visitou durante sua passagem pelo Brasil, duas semanas atrás. O Nobel da Paz de 1980 defendeu a indicação de Lula para o prêmio, por suas ações de combate à pobreza ("A fome é um crime"), e disse que querem tirar o ex-presidente da disputa eleitoral "acusando-o de um delito inexistente".
"Democracia é igualdade para todos, não é só pôr o voto na urna", afirmou Esquivel. "Para mim, democracia significa direitos iguais. Não se ganha, se constrói", diz o escultor, artista plástico e ativista, apontando uma "violência estrutural" na região, simbolizada pela pobreza, e defendendo a democracia participativa. "Estamos nesta luta permanente."
Aliados? Nunca É, de novo, como nos anos 1960, a "mão grande" dos Estados Unidos na América Latina?, quer saber Juca.
"Devemos levar em conta que os Estados Unidos implementaram bases militares em todo o continente. Eles não estão aí para cuidar de nós, estão aí para dominar. Por isso eu insisto que os Estados Unidos nunca serão aliados e solidários com a América Latina. Nunca", enfatiza. Nem com Barack Obama. "Muito menos", diz Esquivel, contando que recebeu uma "carta extensa, quase três páginas", do ex-presidente norte-americano, em que o mandatário dizia concordar com vários pontos, como fechar a prisão de Guantánamo, levantar o bloqueio a Cuba, aproximar-se com a América Latina. Mas, na correspondência, afirma também que não podia fazer certas coisas, que dependeriam do Congresso dos Estados Unidos. E depois veio Donald Trump, que está levantando o "muro da infâmia", querendo separar os povos.
"A América Latina é um continente diverso, de muitos contrastes, de lutas sociais. Não é só um continente dominado pelas grandes potências, principalmente pelos Estados Unidos, mas também pelo grande capital", diz Esquivel. "É um continente riquíssimo, de recursos naturais e humanos, porém violentado. Há uma violência social e estrutural, e isso viola os direitos dos povos. Depois das ditaduras, entramos em processos democráticos, mais formais do que reais. Devemos compreender que as democracias não são dadas. Não basta colocar o voto numa urna e dizer que vivemos em uma democracia. Democracia é direito e igualdade para todos e todos. Esse é o espaço que temos de gerar."
Ele fala das várias violações de direitos humanos na região – e direitos dos povos. "Muitas vezes em que se fala de direitos humanos, fazem unicamente referência a uma pessoa, o que também é importante, mas se esquecem dos direitos da população. Direito ao meio ambiente, a uma vida digna, ao trabalho."
É isso que se passa atualmente na América Latina, acrescenta Esquivel, respondendo à pergunta inicial de Juca. "Tivemos uma força muito importante, de governos democráticos, que foi se perdendo, como o de Hugo Chávez, o caso de Cuba, Brasil com Lula, Correa no Equador, na Argentina dos Kirchner, Pepe Mujica no Uruguai, Fernando Lugo no Paraguai. Depois veio uma avalanche de imposições de golpes de Estado mascarados, aos moldes de ditaduras militares, apenas para citar o golpe em Honduras, que retira Manuel Zelaya e pratica muitas violações de direitos humanos e direitos dos povos. O assassinato de (Berta) Cáceres e de muitos outros líderes dos agricultores, mais de 100 jornalistas exilados, presos ou assassinados. Parece que o problema em Honduras não foi mostrado pela grande mídia. Fica mais centrado na Venezuela, em o que foi com Hugo Chávez e o que é com Maduro. E no caso do Brasil, como vocês bem sabem, o golpe de Estado contra Dilma Rousseff, e agora toda essa campanha, essa situação, na qual todo o continente fica preocupado com o fato de tentarem impedir a participação de Lula nas eleições, acusando-o de um delito inexistente, de setores que querem impedir que o Brasil seja fonte de inspiração e trabalho social."
Prisão e solidariedade
Sobre o Nobel recebido em 1980, ele lembra que tinha acabado de sair da prisão e recebeu a notícia com surpresa. "Meu trabalho não é de uma pessoa, é compartilhado por milhares de indígenas, de camponeses, homens e mulheres, favelados." Homens e mulheres pobres, que lutam por um mundo melhor, e em nome dessas pessoas Esquivel diz tentar manter a coerência até hoje. Ele conta que, juntamente com a Universidade de Buenos Aires, está formando a Casa dos Prêmios Nobel Latino-americanos.
Ele fala do movimento Clamor, um grupo criado no final dos anos 1970 para ajudar perseguidos políticos do Cone Sul e que ajudou a recuperar, no Chile, as duas primeiras crianças argentinas sequestradas durante a ditadura.
Esquivel recorda a convivência com "muitos irmãos e irmãs solidários com a vida do povo", como Dom Paulo Evaristo Arns, que sempre recebia refugiados de países do continente. Lembra de um encontro "tenso, doloroso, duro", no ano da morte sob tortura do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, em 1975. Naquele ano, ele e outros estavam organizando um encontro de bispos latino-americanos. O argentino foi preso ainda no aeroporto. "Então me levaram, me encapuzaram, puseram gravações com gritos de torturados, não nos permitem nem encostar na parede..." Queriam que ele denunciasse opositores do regime. Foi tirado da prisão por Dom Paulo.
Em 1981, nova prisão no Brasil. Ele iria participar de uma palestra na seção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro. "Falei sobre impunidade e mandaram me prender. Mas eu havia mudado minha passagem de avião, eles foram me prender no aeroporto do Rio e me encontrei com Leonardo Boff, que disse que iria naquele voo, e pediu que mudasse o meu para viajarmos juntos. E eu fiz isso. Então, como não puderam me prender no Rio, foram me prender em São Paulo." Novamente, Dom Paulo promoveu uma manifestação e foi libertá-lo.
"Havia um senador... Passarinho...", diz, ao que Carol e Juca exclamam "Jarbas Passarinho!", citando um dos expoente políticos do regime autoritário. "Dom Paulo disse que a democracia no Brasil era apenas para um passarinho", diz o argentino, recordando um trocadilho do religioso brasileiro. "Nós trabalhamos muito, ficamos muito próximos."
Político, não partidário
Criado pelos franciscanos, ele lembra que até usa a saudação dessa ordem: Paz e bem. E diz que o Evangelho tem de ser "concreto", voltado para o povo, para o amor ao próximo, à humanidade, à mãe Terra. "A partir daí, sempre busquei de participar nos bairros, nas organizações populares, nas paróquias, um trabalho essencialmente político. "Nunca militei em partido político", observa Esquivel, que enfatiza a "atividade política, não partidária, justamente para ter liberdade para poder atuar nos momentos que julgamos necessário". E recorda a amizade com "um homem maravilhoso", Dom Hélder Câmara.
Juca pergunta sobre a relação com o Papa e cita acusações de que o pontífice teria sido complacente com a ditadura argentina. "Sim, houve muitos ataques", lembra Esquivel, contando que estava na Itália quando Francisco foi escolhido Papa. "Foi quando a BBC ligou e eu neguei isso, que Francisco sempre foi um homem solidário, trabalhava com os mais pobres, nas favelas, no trabalho social. Ajudou gente durante a ditadura. Mas houve um problema com dois sacerdotes (Francisco Jalics e Orlando Yorio), que diziam em uma carta que as ações do Papa não haviam sido suficientes. Mas eles conseguiram ser retirados da prisão em cinco meses. Fiquei preso por mais de dois anos, e ninguém conseguiu me tirar da prisão. Passei por tortura, pelos chamados 'voos da morte', sou um sobrevivente dessa época. Francisco ainda não era bispo, era um superior na comunidade jesuíta, e tratou de ajudar-nos nisso. E podemos ver no mundo a obra que está fazendo como Papa. Ele tem também uma visão não só religiosa do Evangelho, mas política, assim como Dom Paulo Evaristo Arns, Fragoso, Dom Hélder Câmara."
A professora e jurista Carol Proner quer saber de Esquivel como o Papa percebe o momento de retrocesso na América Latina e como é a relação com o governo Macri, na Argentina.
Ele conta que tem uma "comunicação regular" com Francisco. "Sempre que viajo a Roma, nos encontramos numa salinha e falamos de muitos assuntos. Há uma grande preocupação sobre a situação latino-americana, a situação mundial, com a situação de pobreza, miséria e dor."
Juca lembra dos protestos frequentes contra o governo Macri. "Sim, há uma resistência, principalmente pelas demissões. Há um crescente número de demissões, fechamento de escolas, de hospitais. Acontece que esse sistema neoliberal que foi proposto privilegia o capital financeiro, acima das necessidades do povo." Ele fala do assassinato de Rafael Nahuel, um jovem mapuche baleado pelas costas por forças de segurança. "Há o caso de um policial que foi felicitado por Macri (na Casa Rosada, sede do governo) por ter assassinado um jovem. Isso deixa claro que as pessoas estão reagindo. Há protestos nos estádios de futebol, nas ruas há uma reação muito forte, com uma repressão brutal, por não se aceitar as respostas que Macri queria impor. Então, essa resistência vai crescendo."
"No caso do Brasil, nós sofremos a interrupção do mandato presidencial por um impeachment sem crime. Portanto, um golpe, em 2016, enquanto na Argentina nós tivemos uma eleição institucional", compara Carol, que vê uma "pequena vantagem político-moral, "porque fomos golpeados". Macri faz reformas sob grande resistência, mas sob um marco institucional, enquanto no Brasil o governo tenta impor mudanças em um vácuo de legitimidade institucional.
Então, questiona Juca, como falar em uma verdadeira democracia quando as nossas eleições, na América Latina, são "contaminadas" pelo capital, que elege seus candidatos? Esquivel observa que, muitas vezes, os dirigentes políticos partem das divergências em vez das concordâncias. "Que tipo de programas? Para quê? Porque se forem pessoais, não servem. O problema está em ver que tipo de país querem. A busca do bem comum para uma sociedade. Creio que aí está o problema. Quais são os projetos alternativos? Por que Macri ganha as eleições na Argentina? Como se produz o golpe de Estado no Brasil que tirou Dilma Rousseff. Vocês têm um governo de fato e não um governo democrático. Temos um governo eleito pelo povo, que tampouco é democrático."
A força vem de todos, não é de uma pessoa, insiste Esquivel, citando também a "resistência cultural" em artistas como Chico Buarque, Mario Benedetti (escritor uruguaio), León Gieco (músico argentino). Mas, para mim, o importante é a vida espiritual. Não sou apenas um homem social, político. E isso me anima permanentemente. Sempre digo: não se pode perder o sorriso da vida. Quando deixamos de sorrir é porque nos venceram".
Lula e o Nobel
E ele volta a citar o ex-presidente. "Que apesar de tantos ataques, de tantas coisas... Vou indicar Lula ao Prêmio Nobel da Paz. Penso que ele merece por todo seu trabalho contra a pobreza e a fome. A fome é um crime."
Carol ressalta a importância da presença de Esquivel no Brasil, em especial em um momento como o atual, e quer saber como é o trabalho dele como professor. "Já dei aulas na Faculdade de Arquitetura, nas escolas de Artes, na Faculdade de Ciências Sociais", conta, esperando ajudar os jovens a pensar de outras maneira. "Pois neste mundo tão concentrado, da mesma forma que há monocultura, o mesmo cultivo de soja, eucalipto, milho, o cultivo mais perigoso é a monocultura de mentes. A diversidade é a grande riqueza dos povos Temos que trabalhar sobre isso, sobre a diversidade, a consciência crítica. Temos de transmitir, temos de acompanhar a nova geração. Creio que aí está a semente do pensamento filosófico, ético, de valores."
Ao citar o Fórum Social Mundial, ele diz que outro mundo só será possível se houver capacidade de se unir e buscar um novo pensamento. "O povo não se deu por vencido, tem a capacidade de resistência. E os jovens, aqueles que nos escutam, têm de compartilhar, saber se aproximar do outro, saber que o problema do outro é também o nosso. Essa é a forma de construir." Esquivel observa ainda que "a paz não é a ausência de conflito".
Assista:
Do Blog do Manuel Mariano postado por Madalena França.
247 - Em entrevista ao vivo à TV 247 na manhã desta quarta-feira 14, o ex-presidente Lula diz esperar que em algum momento o Supremo Tribunal Federal julgue o mérito do processo do triplex no Gurujá, pelo qual foi condenado em segunda instância.
"Fui vítima de uma manchete da Globo", diz ele. Em referência ao procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Lula destacou que a acusação teve como base "a convicção de um menino, que ficou uma hora falando de um power point".
Questionado sobre mobilização da população e da militância, Lula disse que não irá convocar as pessoas para ir às ruas e afirmou estar "tranquilo, com a tranquilidade dos inocentes".
Sobre o fato de a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, não colocar em votação a questão da segunda instância, Lula comentou: "quem diz que o PT faz pressão e que os blogs fazem pressão é quem faz pressão". O ex-presidente disse também que "nunca pediu favor a nenhum ministro e nem vou pedir".
"O caso de ser o Lula o motivo não pode ser motivo para se votar de forma atabalhoada nem de não votar", destacou. "Uma hora eles vão agir. O STF não pode perder credibilidade", completou.
Lula contou como foram feitas suas escolhas para o Supremo, quando foi presidente da República, e quais critérios usava para indicar ministros. "Todos passaram pelo crivo do Senado. As pessoas pode mudar, diante da pressão".
"A Suprema Corte não pode ser vítima de pressão, ela tem que funcionar como garantia da Constituição. Depois dela, você não tem mais a quem recorrer. Então tem que ter muita responsabilidade, porque você pode ou condenar ou inocentar", destacou.
Lula diz que sua "força vem de duas mulheres". "Da minha mãe e da Marisa". "Minha mãe saiu de casa com oito filhos e tinha uma autoestima que passou pra mim. E a Marisa, cada vez que eu perdia uma luta, ela me incentivava a continuar. Daí é que vem a minha tranquilidade", afirmou.
Sobre o governo dos Estados Unidos, Lula foi taxativo: "O Brasil tem um problema maior do que o Trump, que é a elite brasileira. A palavra é lambe-botas. Eu nunca vi uma elite tão lambe-botas como essa em relação aos EUA".
"O Brasil não tem que pedir favor aos americanos, tem que ir lá e fazer. Tem um potencial extraordinário", prosseguiu. "Eu defendo a construção de um acordo estratégico com a Rússia e a China. E se os americanos quiserem, eu também defendo. O que eu não aceito é subordinação. Eu não sou maior do que ninguém, mas também não me peça para ser menor", acrescentou.
Questionado sobre a regulação da mídia, que não foi feita durante seu governo nem do governo Dilma Rousseff, o ex-presidente destacou a necessidade de se fazer caso seja eleito novamente. "Eu não quero um meio de comunicação censurado. Quem faz censura na televisão é o espectador, o ouvinte na rádio e o leitor no jornal", diz.
"O que eu quero é criar condições para que mais gente tenha acesso a esses espaços e que os recursos cheguem a todos os veículos de forma mais democrática. Eu não acho certo, por exemplo, o monopólio da Globo sobre o futebol", afirma. "Nós precisamos eleger um Congresso Nacional para ter condições de fazer a regulação da mídia. Porque se você eleger dono de rádio e de televisão, não vai fazer", defende.
Sobre seu desejo de voltar à presidência: "Eu imaginava que o câncer ia me calar. Mas Deus quis que a minha voz voltasse, um pouco mais rouca, mas com a mesma força. Não vão me calar, só o povo ou Deus. Eu sei o que o povo gosta, o que o povo quer".
Lula encerrou a entrevista afirmando que a seleção brasileira tem condições de vencer a Copa do Mundo. "O que aconteceu contra a Alemanha na última Copa foi um desastre", declarou.