Não se trata de teorias conspiratórias, é um fato.
Não lhe cabe julgar, em lugar do Judiciário, quem pode disputar ou não pode disputar as eleições.
“Não se trata de fulanizar. O pior cenário é termos alguém sub judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da Ficha Limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira. A Lei da Ficha Limpa se aplica a todos.”
A que divisão o general se refere? Quer dizer que a divisão que deixa de lado e exclui ao menos 40% dos eleitores é inaceitável, mas as soluções que trazem todas as vontades para decidirem no voto qual é a majoritária é abençoada pelas Forças Armadas?
A entrevista, num momento de gravidade como este, deveria se limitar ao óbvio, à prudência, mas se aventura até a declarações simpáticas ao candidato Bolsonaro que, com as ressalvas de imparcialidade insuficientes que faz, é descrita como a de alquem que tem “apelo no público militar, porque ele procura se identificar com as questões que são caras às Forças, além de ter senso de oportunidade aguçada.
O general Villas-Boas agora é juiz de senso de oportunidade aguçado? O que seria este senso, chamar refugiados de “escória do mundo”, defender o fuzilamento de brasileiros com outras visões ideológicas, bater continência à bandeira americana numa churrascaria ou propor a saída do país da ONU, em nome da qual o Exército exerceu tantas missões no exterior?
Quando a ONU, entretanto, fala dos nossos assuntos e nos cobra fidelidade aos tratados que assinamos, é “tentativa de invasão da soberania nacional”?
O General Villas-Boas, que mereceu tanto respeito de todas as correntes políticas por resistir, mesmo com enormes problemas de saúde, no cargo de comando para assegurar o equilíbrio da instituição militar parece, afinal, ter se rendido às pressões que vêm da baixa oficialidade e da parte do comando que se associa a “soluções” extra-constitucionais como as defendidas anteontem pelo General Hamilton Mourão.
Aliás, parece que já se quebraram os valores centrais de uma força militar: a hierarquia e a disciplina, pois quem chegar agora de outro planeta há de jurar que é de Mourão o comando. Ou, pior ainda, daquele aos quais os quartéis estão sendo abertos para verdadeiros comícios.
Só isso explica que o seu comandante capitule diante deste quadro insano, onde justificam até um “autogolpe” militar.
Daí para se quebrar o respeito à vontade eleitoral da população e à Constituição que diz que é do povo que emana o poder, é só um pulinho. Que é um salto perigoso e no escuro, que pode levar à divisão nas Forças Armadas e a uma aventura da qual os militares há 30 anos vinham se recuperando.
Madalena França via Tijolaço