Na sua coluna em
O Globo, Míriam Leitão afirma que a elevação do dólar (neste momento a R$ 4,17) ” é uma ameaça real à recuperação da economia”.
Bom, que um aumento do dólar como o que temos é uma ameaça, não é preciso ser papisa da economia como a moça do ponto eletrônico.
Resta saber a qual recuperação da economia se refere ela, porque a análise mais generosa vê, no máximo, uma estagnação econômica no fundo do poço.
E mesmo isso já acabou há três meses, depois que a greve dos caminhoneiros sacolejou nossas gambiarras econômicas.
O dado divulgado hoje pelo IBGE sobre a variação das vendas no varejo – onde o povão sente a economia – e que reproduzo, em gráfico, aí em cima, mostram isso claramente.
A única coisa relevante que aparece na coluna de Leitão é a informação de que a inflação no atacado subiu 11,9% em 12 meses, três vezes, praticamente, mais que a inflação ao consumidor final, entre outras razões, e não só, pelo câmbio.
Vende-se hoje um quarto menos de móveis e eletrodomésticos, um quinto menos de roupas, um terço menos automóveis, motocicletas e peças do que no melhor momento da economia. Como alimentos não se pode deixar de comprar, embora com redução de 2,6%, a queda global do varejo fica em 8,5% em relação a 2014.
Quando o custo sobe na produção e a falta de poder aquisitivo não permite que ele cresça na venda se forma, é obvio, uma represa de inflação e de recessão: se o preço não pode subir sem perder vendas, o dinheiro sai da produção e vai – já foi, aliás – para o mero mundo da virtualidade financeira.
E como a sociedade não pode viver sem produção, do lado dos preços vamos preparando uma “Samarco inflacionária” que o próximo governo terá de desmontar, se não se romper até lá.
Não é, portanto, uma “recuperação ameaçada” o que temos. O que temos é um desastre anunciado.