Ninguém estranhe se, amanhã, o Ibope mostrar um resultado mais definido das eleições, com Jair Bolsonaro em torno de 30% e Fernando Haddad já atingindo – ou chegando lá – dos 20%, perto de o dobro de Ciro e com Marina Silva e Geraldo Alckmin baixando em direção à casa dos 5%.
É o que demonstram levantamentos telefônicos – por isso mesmo sempre distorcidos no recorte de renda – como este do banco BTG divulgado hoje cedo, que dá um terço dos votos ao ex-capotão (que passa de 30 para 33%) e coloca Fernando Haddad já com 16 pontos, o dobro do que tinha no levantamento anterior, de seis dias antes. Ciro se sustenta, mas o peso do eleitorado mais pobre e isolado deve fazê-lo baixar, logo.
Não cabe discutir a precisão estatística e eventuais preferências do banco que já foi de Paulo Guedes, o “posto Ipiranga do ex-capitão: exatidão à parte, a tendência é clara.
Está aí, nítida, a estratégia do candidato de extrema-direita, à qual o empavonado “mercado” aderiu aos urros de prazer, na base do “agora acabaremos com eles”: antecipar o segundo turno para se valer do antipetismo furioso que ele, a mídia e o Judiciário cevaram no país nos últimos anos.
O movimento de ontem de Bolsonaro, em sua apelativa “denúncia” de que Lula foi preso porque tem um acordo com a Justiça Eleitoral para fraudar as urnas e incitando militares a não reconhecerem resultados eleitorais, vai ter consequências que, paradoxalmente, são favoráveis eleitoralmente ao candidato petista, embora sejam uma ruína para o nosso país.
Vai provocar um “enxugamento” das demais candidaturas de feição popular em direção ao candidato da coligação do PT, em áreas de classe média e alta que conservam na disputa os demais candidatos e drenar para o capitão votos de Geraldo Alckmin, enquanto os demais, na faixa residual, podem oscilar migalhas.
No campo popular, Haddad avança e seguirá avançando, empurrado por Lula, mesmo com a sórdida confirmação, pelo TSE, de que ele não poderá pronunciar sequer uma palavra. Mas já é possível perceber que, diante do que foi o apelo zumbi de ontem, ele avançará entre os que relutavam em apoia-lo nos segmentos intermediários da sociedade.
O véu fascista de Bolsonaro, que sempre foi diáfano, foi levantado antes da hora e assustou quem ainda o achava um extravagância inofensiva.
Mas o apelo um “putsch da enfermaria” consegue ser mais chocante do que o famoso Putsch da Cervejaria da Baviera dos anos 20, alerta ao que viria 10 anos depois na Alemanha.
Pode, inclusive, sair pela culatra, por exalar o cheiro de derrota.
Madalena França via Tijolaço