247 – Quando Fernando Haddad foi oficializado como candidato de Lula e do PT à Presidência da República, no dia 11 de setembro, o acampamento Marisa Letícia foi tomado por uma forte emoção.
O acampamento dos sem-terra que faz vigília a Lula tem duas araucárias bem altas. Lula as vê de dentro da prisão, por uma pequena janela. Sabe que as pessoas estão ali e que vem dali o som do povo que lhe dá ‘bom dia’, ‘boa tarde’ e ‘boa noite’, todos os dias, desde que foi preso.
Quando a perseguição do judiciário se tornou impossível de se contornar, Fernando Haddad deveria assumir a candidatura e o local do rito de passagem deveria ser público e o mais perto possível de Lula, sobretudo pela intensidade do afeto envolvido.
Lula escreveu uma carta para consagrar essa passagem de bastão. Todos se reuniram no acampamento que leva o nome de sua eterna e amada esposa, morta em função do estresse familiar e humano causado pela truculência judicial da Lava Jato.
A tarefa de ler a carta não seria fácil devido à emoção. Coube ao advogado Luiz Eduardo Greenhalgh a tarefa. Ele leu. Enquanto ele lia, Ana Estela Haddad, esposa de Fernando Haddad, olhava as araucárias e sabia que Lula, de dentro da prisão, também estava olhando aquelas mesmas araucárias e escutando a leitura de sua carta.
Lula estava ouvindo de dentro da prisão a carta que ele mesmo escrevera. De dentro de uma prisão que ele mesmo inaugurara quando presidente (há uma placa no saguão da Superintendência que leva o seu nome). De dentro de uma solidão que chora por Marisa, que chora pela democracia sequestrada e que chora pelo povo brasileiro.
por Madalena França.