O mundo político está em polvorosa com os recentes resultados das eleições americanas e suas possíveis repercussões no cenário brasileiro de 2026. A vitória incontestável de Donald Trump sobre Kamala Harris na corrida pela Casa Branca, ocorrida na última terça-feira (5), trouxe à tona debates acalorados sobre o futuro da direita no Brasil e a possível ressurreição política do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No cenário nacional, as eleições municipais de 2024 evidenciaram um enfraquecimento da extrema direita, que derreteu no segundo turno diante de alianças tácitas entre a direita tradicional e a centro-esquerda nas principais capitais e grandes cidades do país.
Por outro lado, os analistas mais apressados exergaram na vitória de Trump a redenção da direita e a volta de Bolsonaro nas eleições de 2026. No entanto, é preciso cautela ao traçar paralelos simplistas entre os dois contextos.
Retornando a 2019, Bolsonaro enfrentava dificuldades para criar seu o Aliança pelo Brasil, projeto partidário que acabou sendo abandonado. Nas eleições municipais de 2020, foi o grande derrotado, não conseguindo eleger aliados em prefeituras estratégicas. Ainda assim, chegou competitivo em 2022, quase vencendo um acirrado segundo turno contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A força de Bolsonaro naquele pleito se deveu, em grande medida, à sua habilidade em canalizar recursos e benefícios sociais em ano eleitoral. Mesmo ultrapassando o teto de gastos em cerca de R$ 795 bilhões, incluindo despesas da pandemia e programas sociais, o ex-presidente conseguiu conquistar o apoio de diversas camadas da população –banqueiros, empresários, taxistas, motoristas de aplicativo, caminhoneiros, etc., etc., etc.– através de iniciativas como o Auxílio Brasil e a PEC das Bondades.
Diante disso, é pertinente questionar: como Lula se posicionará em 2026? Em recente entrevista à CNN Internacional, o presidente não confirmou sua candidatura à reeleição. Mas, em política, os sinais muitas vezes são trocados.
A possibilidade de um acordo de bastidores que mantenha Bolsonaro inelegível, Lula desistindo de concorrer ao quarto mandato e abrindo caminho para nomes como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) não pode ser descartada. Contudo, tais articulações precisam ser combinadas com o principal interessado: o eleitor brasileiro.
Outra hipótese é a aprovação de uma anistia pelo Congresso Nacional, permitindo que Bolsonaro retorne ao cenário eleitoral para uma revanche contra Lula. O petista, ao que tudo indica, prefere enfrentar um adversário conhecido e previsível, com quem já duelou em 2022.
No entanto, é importante entender que os resultados das eleições americanas e municipais não “conversam” diretamente as vindouras eleições presidenciais brasileiras. O fator decisivo será, sem dúvida, a economia. Como bem disse o estrategista de Bill Clinton nos anos 90: “É a economia, estúpido!”.
Aqui, é importante frisar, não é a economia da Avenida Faria Lima, dos banqueiros e dos especuladores que importa. Pelo contrário. Trata-se do poder de compra do salário do trabalhador, da aquisição de bens e serviços, do crédito mais barato, do índice de felicidade das famílias, enfim, das condições objetivas e subjetivas dos brasileiros.
O desempenho econômico do país no ano que vem será determinante para o sucesso ou fracasso de qualquer candidatura ao Palácio do Planalto. Ou seja, Lula terá que implodir o teto de gastos, colocar dinheiro em circulação, caso deseje seu quarto mandato. Não existe atalho, além deste.
Embora as eleições nos EUA possam oferecer ensinamentos e tendências, a realidade brasileira possui dinâmicas próprias que não podem ser ignoradas. O caminho até 2026 será pavimentado por resoluções econômicas, articulações políticas e, sobretudo, pela vontade popular expressa nas urnas.
Portanto, a vitória de Trump na terra de Tio Sam não terá relevância alguma nas eleições brasileiras de 2026, se o presidente Lula der um “cavalo de pau” na economia para aumentar o consumo e a produção. Eis a fórmula mágica. O resto é conversa para boi dormir.
Blog do Esmael Morais
Postado por Madalena França