Selecionada para conhecer Francisco no Vaticano, brasileira se emocionou e partiu para o abraço
Ana não se separa das fotos em que aparece ao lado do papa / Edu Garcia/DiárioSP
Por: Caio Colagrande
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Foi um ano de trabalho duro, com organização de bingo, arrecadação de dinheiro com amigos, vizinhos, católicos e busca de ajuda financeira. Depois de tanto esforço, a estudante Ana Carolina Cruz, de 19 anos, finalmente conseguiu realizar um sonho de infância incomum para uma criança: conhecer o papa.
Ana Carolina fez muito mais. Arrancou de Francisco uma sonora gargalhada ao responder que Pelé era melhor jogador do que Maradona. E deu um longo e apertado abraço no líder da Igreja Católica, que é argentino.
O encontro aconteceu na sexta-feira passada, durante a celebração do centenário do MEJ (Movimento Eucarístico Jovem), no Vaticano. Ana foi escolhida para fazer uma pergunta ao pontífice e entregar um presente a ele.
De volta ao Brasil, ela relembrou, os momentos vividos na Itália. “Eu estava tranquila no dia do encontro, tinha até dormido na noite anterior”, brincou. “Mas quando chegou a hora, caiu a ficha: ‘Isso está acontecendo de verdade’. Aí, comecei a chorar”, contou.
Ela seria a última pessoa a fazer uma pergunta a Francisco, mas Francisco mudou na hora a ordem e Ana foi a terceira a falar. “Eu subi a escada já chorando. Foi muita emoção, lembrei de tudo o que aconteceu no caminho para estar ali. Não foi fácil”, afirmou.
“Quando fui fazer a pergunta, respirei fundo e, sem querer, acabei dando uma ‘cafungada’. Isso chamou a atenção do papa, ele olhou para mim e começou a rir.” Depois do questionamento — “qual a maior dificuldade que o senhor enfrentou na missão como religioso?” —, a estudante entregou seu presente (um lenço produzido pelos integrantes do MEJ).
Uma carta de um menino cujo pai há quatro anos luta contra um câncer também foi dada ao papa. “Ele me falou: ‘Você me fez uma pergunta, agora vou lhe fazer outra: Quem é melhor, Maradona ou Pelé?.” Ana não teve dúvidas na resposta: “Mas é claro que o Pelé!”, disse, arrancando uma gargalhada do papa. A jovem quebrou o protocolo e o abraçou fortemente, que retribuiu o gesto de carinho.
“Ele me falou ainda para ir até o microfone e repetir a pergunta e a resposta, para que todos pudessem rir juntos.” Mas a estudante ainda queria algo mais de Francisco: “Queria uma selfie com ele, mas não deu”.
Após as perguntas de todos os adolescentes, o papa respondeu Ana Carolina. "O que mais me chamou a atenção foi quando ele respondeu que o maior desafio é saber distinguir o que é de Deus e o que é diabólico, e para isso é preciso ter o amor e Jesus. Ele usou essas palavras para responder que o maior desafio em missão é realmente fazer essa separação."
A família também acompanhou os seus passos. "Foi muito emocionante. Estávamos assistindo a cerimônia pela internet, e quando ela foi abraçar o papa todo mundo chorou", disse o pai, o zelador Paulo Messias Silva da Cruz, 45. "Ela é um orgulho para a gente", completou a mãe, Ana Paula dos Santos Cruz, 37.
TRAJETÓRIA/ Ana se emociona ao lembrar o quão foi difícil conseguir o dinheiro para viajar. O financiamento começou na paróquia frequentada por ela, que organizou um bingo. Ela também contou com a ajuda de outras igrejas. “Não foi só mérito meu, tive muita ajuda.”
Próximo sonho da estudante é encontrar seus tios e avós
Embora mantenha o sorriso no rosto em todos os momentos, Ana Carolina só perde a alegria quando pensa em outra missão que assumiu. “Minha mãe nunca conheceu seus pais e os seus irmãos”, disse ontem, em lágrimas. Ela só sabe o nome da avó: Maria das Graças dos Santos.
“Eu também não os conheço, mas gostaria muito de vê-los. Já passei dias procurando na internet o telefone de casas no antigo endereço, mas toda vez que eu ligava ninguém sabia dizer onde estavam, se conheciam os meus parentes.”
Para Ana Carolina, o próximo passo é conseguir retribuir todo o carinho dado pela mãe e localizar os parentes. “Ela sempre me fala que gostaria de passar um Dia dos Pais com o pai dela. Meu sonho pessoal, de conhecer o papa, já realizei, mas queria agora realizar o dela”, afirmou.