Se antes o circo dos horrores em Brasilia era conhecido somente dentro
do Brasil, agora a indignação da imprensa estrangeira com o golpe, esta
deixando os políticos brasileiros nus, e sendo motivos de chacota no
mundo inteiro. Vejam o que diz o principal jornal norte-americano ao
criticar o nível de políticos brasileiros
O jornal The New York Times traz em sua edição de sábado (14) um extenso
editorial onde tece duras críticas aos políticos do Brasil.
Na matéria, o The New York Times descreve os legisladores como
personagens teatrais dramáticos, que aparecem diariamente na TV com
falas sem conteúdo, muitas vezes com erros de concordância gritantes da
língua portuguesa, péssima aparência e comportamento inadequado.
Na reportagem, o jornal norte-americano fala que o elenco composto por
594 figuras, inclui suspeitos e acusados de assassinato e tráfico de
drogas, ex-jogadores de futebol, um campeão de judô, uma estrela da
música country, um comediante e um participante de reality show, além da
estranha composição do Partido da Mulher Brasileira, somente com
membros do sexo masculino.
O New York Times conclui que dificilmente outro país poderia competir
com o Brasil no quesito de estranheza na escolha de seus legisladores.
Vale destacar que mais da metade dos membros do Congresso enfrenta algum
tipo de processo, desde de casos de recebimento de propina para
facilitação de contratos públicos, até crimes graves, como sequestro ou
assassinato.
O mais absurdo, conta oThe New York Times , é que na linha de sucessão á
presidência do Brasil, todos estão envolvidos em escândalos. Desde o
presidente interino Michel Temer, até o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, recentemente afastado do seu cargo e também seu substituto. O
presidente do Senado também está sob investigação, e quase todos são
alvo de suspeitas de participação na operação lava-jato, acrescenta o
The New York Times.
Leia a matéria completa
Envolvido em corrupção, Congresso brasileiro é circo que tem até seu próprio palhaço
Um dos espetáculos há mais tempo em exibição no Brasil conta com
um número desconcertante de personagens cuja teatralidade aparece em
milhões de televisores quase toda noite.
O elenco em constante mudança de 594 integrantes e inclui suspeitos de
homicídio e tráfico de drogas, ex-jogadores de futebol, um campeão de
judô, um astro sertanejo e uma coleção de homens barbados que adotaram
papéis como líderes do movimento das mulheres.
O elenco até mesmo inclui um palhaço cujo nome significa "Zangado".
Mas eles não são atores. Eles são os homens e mulheres que servem no Congresso nacional.
A democracia pode causar perplexidade e confusão, mas no mundo há pouco que se iguala ao Congresso brasileiro.
Enquanto a nação enfrenta sua pior crise política em uma geração, os
legisladores que orquestraram a remoção da presidente Dilma Rousseff
(que foi suspensa na quinta-feira e enfrenta um processo de impeachment
sob acusação de manipulação do orçamento) estão sob novo escrutínio.
Mais da metade dos membros do Congresso enfrenta processos na Justiça,
de casos envolvendo auditoria de contratos públicos até crimes sérios
como sequestro ou homicídio, segundo o Transparência Brasil, um grupo
que monitora a corrupção.
As figuras sob investigação incluem o presidente do Senado e o novo
presidente da Câmara. Neste mês, o presidente anterior da Câmara, um
comentarista de rádio evangélica que gosta de postar versos bíblicos no
Twitter, foi afastado para ser julgado pela acusação de esconder até US$
40 milhões em propinas em contas bancárias na Suíça.
Muitos dos problemas do Legislativo derivam das generosas recompensas
proporcionadas pelo sistema partidário brasileiro de múltiplas cabeças
como de uma hidra, uma coleção desajeitada de dezenas de partidos
políticos cujos nomes e agendas com frequência deixam os brasileiros
coçando suas cabeças.
Há o Partido da Mulher Brasileira, por exemplo, um grupo cujos membros eleitos no Congresso são todos homens.
"O processo eleitoral permite muitas distorções", disse Suêd Haidar, a
fundadora e presidente do partido. Ela suspirou, reconhecendo que muitos
dos homens que ingressam têm pouco interesse em promover os direitos da
mulher.
Um dos que se juntaram ao partido, o senador Hélio José da Silva Lima,
foi acusado de abusar sexualmente de uma sobrinha menor de idade no ano
passado, apesar das acusações terem sido posteriormente retiradas. "O
que seria de nós, homens, se não fosse uma mulher ao nosso lado para nos
trazer alegria e prazer?" ele foi citado como tendo dito à imprensa
brasileira, quando perguntado sobre sua decisão de ingressar no partido
das mulheres.
A cabala de políticos, a maioria homens brancos, cuja inclinação por
acordos escusos e enriquecimento próprio já faz parte do folclore
brasileiro.
"A reputação da classe política no Brasil realmente não tem como
piorar", disse Timothy J. Power, um professor de estudos brasileiros da
Universidade de Oxford.
"As pessoas comparam o Legislativo à 'House of Cards'", ele disse,
referindo-se à série política da Netflix, "mas eu discordo. 'House of
Cards' é, na verdade, muito mais crível".
Com 28 partidos ocupando cadeiras, o Congresso brasileiro é o mais
dividido do mundo, segundo Power. O que fica em segundo lugar, o da
Indonésia, tem um terço a menos de partidos.
"O Brasil não é atípico, é uma aberração", disse Gregory Michener,
diretor do programa de transparência pública da Fundação Getúlio Vargas,
uma universidade no Rio de Janeiro.
Pesquisas mostram que mais de 70% dos brasileiros não conseguem se
recordar a qual partido os candidatos que elegeram pertencem, e que dois
terços do eleitorado não têm preferência por qualquer partido.
Mais importante, dizem os especialistas, é que a maioria dos partidos
não abraça nenhuma ideologia ou agenda, e são simplesmente veículos para
clientelismo e propina. Em um mandato típico de quatro anos, um entre
três legisladores federais trocará de partido, alguns mais de uma vez,
segundo um levantamento por Marcus André Melo, um cientista político da
Universidade Federal de Pernambuco.
Os legisladores brasileiros estão entre aqueles com remuneração mais
alta do mundo, dizem estudiosos, com quantias que vão além do salário
mensal. Eles também recebem moradia e atendimento de saúde gratuitos,
verbas para um grande número de funcionários de gabinete e foro
privilegiado em caso de processos. Apenas o sobrecarregado Supremo
Tribunal Federal pode julgá-los em processos criminais, algo que pode
levar anos.
"A única coisa melhor do que ser um partido político no Brasil é ser uma
igreja", disse Heni Ozi Cukier, um cientista política da Escola
Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo. "São oportunistas à
procura de algo que lhes dê poder, influência e proteção."
Formar um partido requer a coleta de 500 mil assinaturas. Cukier disse
que 62 partidos estão à procura de reconhecimento oficial, inclusive um
que leva o nome de um time de futebol.
Apesar do presidente do Brasil liderar um dos maiores países do mundo,
ele ou ela deve formar coalizões com até uma dúzia de partidos para
conseguir que legislações sejam aprovadas no Congresso. O preço da
lealdade com frequência é uma cadeira de ministro, ou três, dependendo
de quantos votos o partido puder oferecer.
O mais recente escândalo de corrupção, conhecido como Operação Lava
Jato, provou ser ainda maior, com bilhões de dólares em propinas
destinados a partidos políticos pela companhia estatal de petróleo, a
Petrobras. Mais de 200 pessoas, de magnatas empresariais a líderes
partidários, foram implicados no escândalo, e a expectativa é de que o
número deles crescerá.
O furor público com o esquema teve papel chave na remoção de Dilma
Rousseff, que foi diretora da Petrobras quando o arranjo de propina foi
armado, apesar de ela não ter sido acusada diretamente de qualquer
crime. Em seu julgamento de impeachment, ela é acusada de uma
manipulação orçamentária, em um esforço para esconder os problemas
econômicos do Brasil e vencer a reeleição em 2014, não de roubar para
enriquecer a si mesma.
A necessidade de formação de alianças de conveniência no Congresso pode
levar ao caos legislativo, especialmente quando partidos descontentes
abandonam a coalizão do presidente. Dilma Rousseff, que antes contava
com ampla maioria na Câmara, acabou abatida pelo agora deposto
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um ex-aliado que enfrenta
julgamento por corrupção.
O partido de Cunha, o PMDB (Partido do Movimento Democrático
Brasileiro), se tornou uma fonte particular de ultraje no Brasil. Os
críticos dizem que o partido, fundado há cinco décadas como partido de
oposição, mas tolerado pela ditadura militar do Brasil, se tornou um
vasto canal de clientelismo para seus membros, que abraçam um amplo
espectro de ideologias.
O trunfo do partido é seu tamanho, o que significa que os presidentes
precisam entrar em acordo com ele, o que envolve a concessão de cargos
ministeriais cobiçados. Dilma Rousseff escolheu Michel Temer do PMDB
para ser seu vice-presidente. Neste ano, ele se voltou contra ela e
retirou seu partido da coalizão, abrindo caminho para o processo de
impeachment de Dilma. Temer, que já foi condenado por violar os limites
de financiamento de campanha, agora é o presidente do país.
A reforma política pode ser difícil, já que os legisladores teriam que
aprovar o fim do sistema que os protege. Ocorreram algumas mudanças,
incluindo uma lei recente que impede que candidatos cassados ou com
condenação concorram a qualquer cargo eletivo por até oito anos, e uma
lei de financiamento de campanha, que deverá entrar em vigor neste ano,
que limita a influência de dinheiro de empresas.
O grande número de partidos no Brasil tende a favorecer celebridades,
cujo reconhecimento do nome ajuda a fazer com que se destaquem nas
campanhas eleitorais. O exemplo mais curioso é o do palhaço Tiririca.
Em 2010, ele concorreu à Câmara dos Deputados com o slogan "Pior que tá
não fica", e sua literatura de campanha incluía "Você sabe o que faz um
deputado federal? Eu também não. Vote em mim que eu te conto".
Ele acabou obtendo mais de 1,3 milhão de votos, quase o dobro do segundo candidato mais votado.
Em uma entrevista, Tiririca, cujo nome real é Francisco Everardo
Oliveira Silva, apesar de deputado Tiririca ser o nome no site da
Câmara, disse ficar com frequência decepcionado com a desordem no
Congresso.
"No início era uma piada", ele disse sobre sua candidatura. "Então
decidi que, se tantas pessoas acreditam em mim, eu teria que dar meu
melhor, e é o que estou fazendo."