Ainda estão crepitando as brasas da disputa eleitoral encerrada no último domingo (28), que, segundo os analistas políticos, foi a eleição presidencial mais polarizada na história do País. Grosso modo, dois projetos se defrontaram nas urnas, nas ruas e nas redes sociais. A vitória do candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro (PSL), encerra um ciclo político iniciado com o processo de redemocratização, que aposentou os governos da ditadura e formulou o pacto político e social da Constituinte de 1988.
Por Lula livre, agrupar o PT e a Esquerda para avançar a resistência popular
Milton Alves*
Aqui neste breve texto, o objetivo não é a realização de nenhum exame das causas da derrota do projeto democrático e popular, representado pelo candidato do Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad, mas, sim, prospectar os caminhos da necessária e inevitável resistência popular.
A vitória de Jair Bolsonaro (PSL), candidato de uma coalização de setores empresariais, banqueiros, militares, de segmentos do aparelho judiciário, do agronegócio mais reacionário, igrejas pentecostais e de grupelhos neofascistas, alcançando 57, 7 milhões de votos (55,13% dos votos válidos) contra 47,03 milhões (44,87%) de Fernando Haddad (PT), abre uma etapa de novos desafios políticos para a esquerda e redesenha o mapa da correlação de forças no país. Candidatos conservadores também venceram as eleições para os governos estaduais de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Ou seja, uma nova situação que vai exigir do conjunto da esquerda, em particular do PT, um esforço para a construção de uma frente política de resistência ao novo governo, tendo como núcleo central os partidos de esquerda e os movimentos sociais, para impulsionar uma potente oposição de caráter popular, construída pela base e unificada na defesa dos trabalhadores e dos pobres, da democracia, dos direitos sociais e da soberania nacional.
Nesse contexto, a retomada com todo vigor da campanha nacional e internacional por “Lula Livre” é um dos eixos centrais do combate ao governo autoritário, ainda mais agora com a nomeação do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça. Além disso, avulta a luta em defesa das liberdades democráticas e da soberania nacional. O que demanda também o debate mais aprofundado na esquerda da palavra de ordem de convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte – bandeira demonizada pela direita e a mídia monopolizada.
Por último, a experiência de toda uma geração de militantes da esquerda, incluindo os petistas, se deu num quadro de ascenso de massas, de grandes mobilizações populares, de vitórias eleitorais e de ocupação de espaços no aparelho de Estado em diversos níveis. Mesmo durante o período de hegemonia neoliberal dos governos de FHC, a luta social avançou e o PT se fortaleceu, acumulando sempre mais força. Porém, a situação mudou de qualidade. Há uma evidente defensiva entre as camadas de trabalhadores organizados, a classe média se deslocou para o conservadorismo e temos um cenário internacional e latino-americano de avanço da direita.
É nessa conjuntura adversa que estamos chamados a travar o combate em defesa de nosso projeto civilizatório de nação, com audácia, resiliência e com o otimismo da esperança. Resistir é o primeiro passo…
*Milton Alves é militante do PT de Curitiba, ativista social e editor do blog Milton Com Política.
Madalena França