Em depoimento ao Tribunal de Justiça de São Paulo, executivo Carlos Armando Paschoal diz ter sido coagido pelo Ministério Público a construir um relato sobre o sítio de Atibaia (SP), que rendeu a segunda condenação ao ex-presidente Lula
O ex-diretor-superintendente da Odebrecht Carlos Armando Paschoal disse à Justiça de São Paulo que foi “quase que coagido a fazer um relato sobre o que tinha ocorrido” e que teve que “construir um relato” no caso do sítio de Atibaia, aponta reportagem do jornalista Nathan Lopes, no Uol. O caso do sítio rendeu a segunda condenação ao ex-presidente Lula, que vem sendo mantido como preso político desde abril do ano passado.
Em depoimento ao Tribunal de Justiça de São Paulo, o ex-diretor-superintendente da Odebrecht, Carlos Armando Paschoal, afirmou que teve que “construir um relato” no chamado caso do sítio de Atibaia, que rendeu a segunda condenação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem sendo mantido como preso político desde abril do ano passado. As informações são do portal UOL.
Durante a audiência, o ex-diretor da Odebrecht, que é delator, foi questionado pelo advogado Igor Tamasauskas sobre o acordo de delação firmado com o MPF (Ministério Público Federal). Igor perguntou por que delatores precisam falar sobre atos praticados por outras pessoas “porque, numa colaboração, você confessa atos próprios, crimes próprios, ou improbidades próprias.”
Antes de responder, Paschoal criticou: “Sem nenhuma ironia, desculpa, doutor, precisava perguntar isso para os procuradores lá da Lava Jato.” E prosseguiu: “No caso do sítio, que eu não tenho absolutamente nada, por exemplo, fui quase que coagido a fazer um relato sobre o que tinha ocorrido. E eu, na verdade, lá no caso, identifiquei o dinheiro para fazer a obra do sítio. Tive que construir um relato.”
Segundo a reportagem, ao explicar o que seria “construir um relato”, o executivo disse que seria apontar algo como “olha, aconteceu isso, isso, isso e isso; e eu indiquei o engenheiro para fazer as obras”. Ainda de acordo com o UOL, ele não explicou exatamente como teria sido a coação do MP nem deu mais detalhes sobre se o que teria sido “construído” em seu depoimento.
Em um caso que não tem relação direta com os processos contra a Lula, Paschoal prestou depoimento no último dia 3 de julho como testemunha em um processo sobre improbidade administrativa contra o ex-secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações do governo Michel Temer (MDB), Elton Santa Fé Zacarias.
A reportagem tentou contato com a advogada de Paschoal para comentar as declarações, que não respondeu retorno. O trecho da fala do ex-diretor da Odebrecht foi enviado à força-tarefa da Lava Jato. Em nota, os procuradores disseram que “a voluntariedade na celebração do acordo foi aferida na sua homologação perante o Supremo Tribunal Federal”.
Reforma
No depoimento à Justiça Federal no Paraná, em novembro de 2018, no âmbito da Lava Jato e dentro do processo do sítio, Paschoal disse que recebeu um pedido da cúpula da Odebrecht para “ajuda na reforma de uma casa em Atibaia, que seria oportunamente utilizada pelo então presidente [Lula]”. À juíza Gabriel Hardt, que havia substituído Sergio Moro, ele afirmou que o envolvimento da Odebrecht nas obras não podia ser revelado. “Esse tipo de pedido, que vem muito de cima, não dá para questionar”, disse o ex-diretor.
No processo do sítio, Paschoal foi condenado a 2 anos de prisão, em regime aberto, por lavagem de dinheiro. Ele recorreu da sentença ao TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), que ainda irá analisar o caso.
Da RBA