Administrada por petistas desde 2005, cidade foi a única do Estado em que Padilha ficou em primeiro lugar nas urnas e Dilma venceu Aécio
Eduardo Gonçalves, de Hortolândia
Por volta das 17 horas da última terça-feira, a dona de casa Graziele da Silva Siqueira, de 23 anos, conversava com a amiga Elaine Alves da Cunha, 39 anos, em frente ao conjunto habitacional Guarujá, no Jardim Novo Ângulo, em Hortolândia. A única das 645 cidades de São Paulo onde o ex-ministro Alexandre Padilha (PT) superou o governador reeleito Geraldo Alckmin (PSDB) nas urnas é uma ilha petista em um Estado tradicionalemente tucano, uma espécie de 'PTlândia paulista'. Moradoras do condomínio construído com verba do Minha Casa, Minha Vida, as duas fazem parte do eleitorado que votou em peso em Padilha e na presidente-candidata Dilma Rousseff (PT), que ficou à frente de Aécio Neves (PSDB) na cidade, mas perdeu para o tucano no Estado. “Votei para todos [os cargos] no PT, por causa das melhorias que eles fizeram na cidade e porque eu consegui entrar no Bolsa Família. O pessoal do PT me ajudou muito aqui, até trouxeram cestas básicas para a gente. Se fosse para votar de novo, eu votaria com o maior prazer”, disse Graziele. Elaine completou o argumento: “O PT me arranjou moradia. Se for preciso, eu visto a camisa [do PT] e saio fazendo campanha. Votei neles por causa do [ex-presidente] Lula. Coloquei treze para todo mundo”. Próximo a elas, uma profusão de cartazes com as imagens de Padilha, Dilma e Lula estava pendurada no muro do complexo residencial.
No município de 212.000 habitantes, Alexandre Padilha obteve 38,50% dos votos válidos, contra 34,88% de Geraldo Alckmin. Na disputa presidencial, a diferença foi ainda maior: Dilma Rousseff conseguiu 42,37% dos votos, enquanto Aécio Neves atingiu 23%. Até o candidato derrotado ao Senado Eduardo Suplicy recebeu votação expressiva na cidade – 58,4% dos votos válidos.
A alta popularidade dos petistas pode ser explicada principalmente pelo maciço investimento do governo federal na cidade, que é administrada pelo PT desde 2005. No pequeno município, há 7.581 beneficiários do Bolsa Família e 27 profissionais do Mais Médicos. Segundo o prefeito Antônio Meira (PT), o governo federal repassou em torno de 200 milhões de reais para a cidade nos últimos dois anos. A quantia foi usada, por exemplo, para custear a construção de 2.720 unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, três Unidades de Pronto Atendimento UPAS) e obras de infraestrutura, como o alargamento de avenidas, encanamento de córregos, piscinões e até uma ponte estaiada — feita com recursos do PAC na ordem de 50 milhões de reais.
Raio-X de Hortolândia
Nº de habitantes: 212.527
Área Territórial (Km²): 62,276
Densidade demográfica (Hab/Km²): 3.094, 16
PIB: 8 bilhões de reais
IDH: 0,756
Nº de eleitores: 138.583
O prefeito se refere a Padilha como "ministro parceiro". Quando titular da Saúde, o petista viabilizou projetos e repasses para a cidade no setor. Padilha visitou Hortolândia duas vezes neste ano, uma como ministro, em fevereiro, e outra como candidato, em agosto. Foi em Hortolândia, inclusive, que ele cumpriu a sua última agenda na pasta da Saúde, inaugurando quatro unidades de pronto-atendimento ao lado do prefeito.
Eleições em Hortolândia
Disputa estadual:
Geraldo Alckmin (PSDB): 34,88% (32.354 votos)
Alexandre Padilha (PT): 38,60% (35.809 votos)
Paulo Skaf (PMDB): 24,10% (22.357 votos)
Disputa presidencial:
Dilma Rousseff (PT): 42,37% (42.889 votos)
Marina Silva (PSB): 30,79% (31.170 votos)
Aécio Neves (PSDB): 22,53% (22.804 votos)
“O Padilha foi o ministro parceiro de Hortolândia. Eu já tinha ouvido falar dele, mas tive uma amizade mais íntima depois que assumi a prefeitura. Nós fizemos uma campanha forte para os candidatos do PT em todos os níveis. Se dependesse de nós, eles teriam sido eleitos”, disse Meira, que recebeu a reportagem do site de VEJA na sala de reuniões da prefeitura. No local, há um retrato da presidente Dilma Rousseff, com a faixa presidencial, pendurado na parede.
No estacionamento da prefeitura, a maioria dos carros traziam bandeiras e adesivos da campanha petista. A dona de um desses veículos, a servidora Valéria de Oliveira, afirmou que a militância na cidade é muito atuante. "Na semana passada, nós fizemos bandeiraços quase todos os dias em pontos estratégicos. Conseguimos reunir até 4.000 pessoas", afirmou.
O prefeito Meira é sucessor de Ângelo Perugini (PT), que exerceu dois mandatos no município, avaliados positivamente pela população. Neste ano, Perugini se candidatou a deputado estadual. Conseguiu mais de 47.000 votos, mas teve a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa – ele entrou com recurso na Justiça Eleitoral. Sua mulher, Ana Perugini, foi eleita deputada federal por São Paulo, com 48.550 votos — antes, era deputada estadual. A maior parte dos ouvidos pelo site de VEJA disse ter votado em Padilha e Dilma por causa do trabalho do casal Perugini. A desempregada Etelvina Lima da Silva, de 33 anos, é um desses casos. Moradora de Hortolândia há mais de vinte anos, ela afirmou ter votado na legenda porque "o PT trouxe muitas melhorias para a cidade", além de sua mãe ter recebido um apartamento do Minha Casa, Minha Vida.