Reeditando José Ramos
O governador João Lyra (PSB) entra na reta final do seu mandato tampão de nove meses sem cravar uma marca, sem ter uma identidade ou uma nitidez da sua gestão. Conhecido marqueteiro e ainda parente de Lyra, Marcelo Teixeira, da Makplan, chegou a prever, logo após a posse de Lyra, que ele só tinha dois caminhos: o trilhado por Carlos Wilson ou adotado por José Ramos.
Vice-governador de Miguel Arraes em 1986, Carlos Wilson assumiu apenas 11 meses com a renúncia do governador para disputar as eleições de 1990. Apesar do curto espaço de tempo, fez uma gestão marcante, trabalhou muito, se movimentou bastante e deixou um legado.
Já José Ramos, que assumiu no lugar de Marco Maciel entre 82 e 83 por igual período, preferiu a discrição. Político correto, de conduta inatacável e leal, Ramos deu continuidade apenas as obras deixadas por Maciel, não imprimindo a sua marca nem tampouco o seu estilo.
Num contexto diferente, João Lyra está, hoje, muito mais para José Ramos do que para Carlos Wilson. Sua agenda é pouco conhecida do público, suas ações se existem não são divulgadas, e a impressão que o governador passa é a de que está cumprindo apenas tabela.
Seus próprios secretários reclamam da letargia palaciana, do estilo tartaruga do governador, devagar, quase parando. Outra impressão que Lyra passa é a de que está contando os dias para se livrar de um tremendo abacaxi que herdou, para fechar as contas dos dois mandatos de Eduardo.
As poucas obras que começou, como a restauração da PE-292, que liga o distrito de Albuquerquené, em Sertânia, ao município de Afogados da Ingazeira, começam a parar por falta de recursos, segundo admitiu o secretário de Infraestrutura, João Bosco. Até mesmo a sua Caruaru, simbólica para o seu governo, não ganhou o destaque que a princípio se imaginava.
Há quem diga, portanto, que João Lyra tinha todas as credenciais e condições para fazer um mandato tampão eficaz, imprimindo uma marca própria, mas tende a sair do poder do tamanho de José Ramos.