O jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva diz ter ouvido de Sérgio D´Ávila, diretor executivo da Folha, que Moro teria dito que pretendia já há bastante tempo prender o ex-presidente; “O D´Ávila foi uma das primeiras pessoas que me contou que o Moro está à caça do Lula há muito tempo. O Moro já foi entrevistado pelo Sérgio D´Ávila e falou que o objetivo dele era pegar – palavras do Moro – o ‘chefe da gangue’, que era o Lula”, diz; “E o cara conseguiu, depois de tantos depoimentos voltados para isso e torturas psicológicas”, comenta o escritor, em entrevista à TV 247; assista
TV 247 – O jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva, que acaba de lançar o livro “O orangotango marxista”, contou em entrevista à TV 247 nesta semana que teve a ideia de analisar os humanos do ponto de vista de um animal de tanto observar um zoológico em Americana, interior paulista, onde “não tem nada para fazer”. No livro bem-humorado, um orangotango aprende a ler em um laboratório onde é objeto de pesquisa e depois que é preso em um zoológico, lembra dos ensinamentos dos pensadores e quer fazer uma revolução para libertar os bichos, inspirado em Karl Marx.
Marcelo Rubens Paiva viveu em seu núcleo familiar as atrocidades da ditadura militar. Seu pai, o deputado Rubens Paiva, foi morto por agentes do regime, após ter sido torturado. Em 1971, seus restos mortais foram jogados ao mar.
Ele considera que a exaltação hoje aos tempos sombrios da farda, representado por figuras como Jair Bolsonaro, é reflexo de alguns erros, inclusive da esquerda. “Faltou levar às escolas um ensino que mostre de fato como foi a ditadura militar. Os jovens de hoje não têm nenhuma noção do que foi o regime, nenhum governo abriu os documentos secretos da ditadura”, critica.
Recentemente, documentos da CIA revelaram que Ernesto Geisel, penúltimo presidente da ditadura, de 1974 a 1979, teria concordado expressamente com execuções sumárias de opositores do regime militar. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) confirmou em 2014, após três anos de trabalhos, 434 mortes e desaparecimentos durante a ditadura militar no país.
O jornalista enfatiza a importância do documento, considerado por ele estarrecedor. “De fato, havia uma cadeia de comando para executar pessoas. É um documento importantíssimo”, ressalta, destacando também a importância do trabalho do pesquisador Matias Spektor, da FGV, responsável pela divulgação do fato histórico.
Ele desqualifica as mentiras usadas pelo Exército para justificar um golpe militar. “Foi uma ameaça comunista que deflagrou o golpe militar de 1964. Onde existe comunismo no Brasil? Nem o PCdoB é comunista. Uma balela dessas apenas engana quem desconhece a história”, argumenta.
Apesar do fascismo em alta no País, Marcelo não crê na possibilidade de um novo golpe militar. “Acredito que o centro irá formar um grande bloco para enfrentar o Bolsonaro, pode até ser encabeçado pelo Ciro Gomes”, projeta.
O jornalista enumera outros pontos negativos para o deputado de extrema direita. “Bolsonaro tem apenas 13 segundos de TV, o que pesa muito, além disso, ele tem força apenas nas redes sociais, e a internet é um fenômeno ainda não expandido no País”, avalia.
Prender Lula: um plano antigo
Ao comentar o cenário político do Brasil, o escritor contou ter ouvido do jornalista Sérgio D´Ávila, diretor executivo da Folha de S.Paulo, um relato feito por Moro a ele, D´Ávila. “O D´Ávila foi uma das primeiras pessoas que me contou que o Moro está à caça do Lula há muito tempo. O Moro já foi entrevistado pelo Sérgio D´Ávila há muito tempo e falou que o objetivo dele era pegar – palavras do Moro – o ‘chefe da gangue’, que era o Lula”.
Isso D´Ávila ouviu de Moro, reafirmou Marcelo, que não tem certeza da data do episódio, mas acredita ter sido no início da Lava Jato, por volta de 2014. “Eu nunca me esqueci disso”, comentou o jornalista. “E o Moro conseguiu, o cara foi fundo. E todo os depoimentos foram voltados para isso, as torturas psicológicas, coloca o Palocci quase numa solitária, aquele cara da Petrobras, o Paulo Roberto Costa, num presídio”, lembra.
Para Marcelo, “tudo poderá acontecer nestas eleições insanas”. “Lula anunciou que irá ser candidato, o PT não vai abrir mão disso, e nem deve, e ele hoje encontra-se em primeiro lugar nas pesquisas. Imagina um segundo turno com o ex-presidente encarcerado”, analisa, destacando que será uma situação inédita no Brasil.