O uso das redes sociais pelos postulantes não é proibido e ainda pode ser impulsionado, quando o candidato ou o partido pagam para que mais pessoas possam ser atingidas pelas postagens. Nesses "novos guias" só não aparecem o número do pré-candidato e o pedido de "no dia 2 de outubro vote em mim". Isso a legislação não permite.
De resto, tem de tudo: jingles, campanha nas ruas, abraços e aperto de mãos nos eleitores, discursos, aplausos, conquista de novos apoios, depoimentos de aliados, promessas e propostas de governo A força das redes sociais é incontestável. E mesmo ganhando cada vez mais a cara de programa eleitoral não vai substituí-lo. O guia eleitoral não perde fôlego. Mas tem uma necessidade urgente de mudar o formato. Ser mais ousado nas imagens, ter conteúdo forte e ser leve na linguagem. A análise é feita pelas professoras especialistas em comunicação e marketing Nara Castro e Thelma Guerra.
"Há público para tudo. As redes sociais têm um público mais jovem, mais antenado. O guia atinge, principalmente, o eleitor mais maduro, mais tradicional, que não migrou de forma rápida para as redes. Muitos nem têm essa intenção", avalia a coordenadora dos MBAs em Marketing Digital e Marketing Político-Eleitoral da Católica Business School e do curso de Publicidade e Propaganda da Unicap, Thelma Guerra.
Abordagens distintas
Segundo a designer com especialização em gestão de marketing e mestrado em indústrias criativas Nara Castro, as redes sociais e o guia eleitoral envolvem plataformas diferentes, com abordagens distintas.
"O principal ponto do guia é aproximar a população das propostas dos candidatos, por isso usa meios com alcance em que a maioria pode acessar, como TV e rádio. As redes dependem de dispositivos e conexões com a internet, a que nem todos têm acesso. O trabalho nas redes sociais é algo contínuo, feito com muita antecedência", comenta.
Thelma ressalta que a comunicação como um todo está mudando em função da internet. E lembra que isso começou mais fortemente a partir de 2008 com a campanha de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos.
"A gente veio amadurecendo ao longo desses anos e, sem sombra de dúvida, essa linguagem mais descontraída das redes sociais já migrou para a televisão", observa, destacando ser possível usar a mesma identidade visual, mas ser diferente na forma de falar para cada veículo.
Nara observa ser possível fazer interações com os dois meios - as redes sociais e o guia eleitoral - dando mais dinamismo e inovação para o formato tradicional do programa eleitoral. Thelma reforça que o digital sozinho não é a solução. "E precisa ser usado de forma correta, com seriedade, dedicação, profissionalismo. Se não, torna-se uma mídia descartável.
"Digital sozinho não vai para muito longe. O digital eficaz é o que dialoga com as mídias off", afirma.
Queimando a largada
O advogado eleitoral Pedro de Menezes Carvalho comportamentos e postura dos candidatos, observa que a propaganda eleitoral começou desde o ano passado e não apenas em nível estadual. "Os pré-candidatos abusam das redes sociais sem pedir voto diretamente. Mas fazendo propaganda pessoal e analisando postura melhor, tentando angariar votos. As redes sociais são usadas como teste", assegura. Ele observa que esse movimento está cada vez mais forte.
O professor lembra que existe um "movimento interessante" ao qual os candidatos precisam ficar atentos: os eleitores usam como principal fonte de informação a televisão e as redes sociais. Mas é nas redes sociais em que eles menos acreditam. "Os candidatos ainda precisam saber que engajamento nas redes nem sempre significa voto", alerta.
Impulso nas redes
Outra ferramenta que pode ganhar destaque esse ano será a possibilidade de impulsionamento de postagens nas redes. Em agosto do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que o impulsionamento é lícito e o gasto com tal atividade deverá ser comprovado.
Para o advogado e professor do Centro Universitário dos Guararapes (Unifig) Isaac de Souza, pode haver abuso de poder econômico, apesar da necessidade de comprovação dos gastos, e ele prevê que a Justiça Eleitoral terá muito trabalho. "Fazer essa identificação não é fácil. Acredito que possa trazer desequilíbrios entre os candidatos", arrisca.
As estratégias
As estratégias dos pré-candidatos nas redes sociais e guia eleitoral passa por um planejamento maior de construção de imagem trabalhada nos bastidores pelos coordenadores das campanhas.
"Vamos trabalhar até as 17h do dia 2 de outubro", anuncia Edson Barbosa, coordenador de comunicação e marketing da pré-candidata Marília Arraes (Solidariedade). Para Barbosa, que trabalhou com Marília nas duas campanhas vitoriosas para vereadora (em 2008 e 2012), a pré-candidata "é um ativo político em si mesma" e mantém uma relação orgânica com todas as redes sociais.
"Típico de sua geração. Ela tem 38 anos e presença em todas as plataformas. As redes fazem parte da vida dela", atesta.
Em todas as entrevistas, Marília convoca os pernambucanos a seguirem seus perfis. Espaços que registram mensagens mais rápidas, reflexivas ou bem-humoradas.
Para alavancar o índice
Para tentar alavancar seu nome na disputa, a coordenação do pré-candidato Anderson Ferreira (PL) acredita que as redes sociais possam implementar novo ritmo à campanha.
"Em discussão, no momento, apenas as agendas da caravana Simbora Mudar Pernambuco pelo estado”, comenta o coordenador de equipe e estratégias, André Macena, estabelecendo os eventos realizados nos municípios como principal material de divulgação nas plataformas. Macena atua no mercado privado, comunicação institucional e campanhas eleitorais. O pré-candidato e a coordenação têm tentado afinar o discurso.
"Somos uma equipe buscando um mesmo objetivo. Trabalhamos juntos, unidos, ouvindo e considerando as ideias de cada um", conclui.
Do Sertão ao litoral
Com a missão de tornar Miguel mais conhecido no Estado, Jader França, um dos coordenadores da comunicação de Miguel Coelho (União Brasil), afirma que a principal estratégia é apresentá-lo ao eleitorado pernambucano.
"Vamos mostrar o legado que Miguel construiu na gestão pública. Ainda há uma parcela significativa da população que não o conhece e que não sabe que esteve à frente de uma profunda transformação no município", disse.
"Nossa vantagem é que Miguel, entre todos os candidatos, é o mais sintonizado e contemporâneo dessas transformações digitais. Isso nos ajuda imensamente porque, nas campanhas, a mudança mais positiva é o fato de a relação com o eleitorado se dar em mão dupla", estima Jader.
A assessoria do pré-candidato Danilo Cabral (PSB) não respondeu o contato da reportagem. A comunicação da campanha da pré-candidata Raquel Lyra (PSDB) também não respondeu.
Postado por Madalena França