A Contac-CUT vai reunir, na próxima terça-feira (24), em Porto Alegre, todas as federações do setor no país e a União Internacional dos Trabalhadores na Alimentação. O objetivo é evitar a demissão de 40 mil trabalhadores ligados à exportação de frangos para países da União Europeia.
O encontro na capital gaúcha também será fundamental para que as entidades tracem estratégias de combate ao desmonte da produção nacional de frangos provocada pela desastrosa administração do atual de Michel Temer (MDB).
Na quinta-feira (19), a União Europeia (UE) proibiu 20 frigoríficos brasileiros de exportar carne de frango, sendo 12 da BRF das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O embargo por suposta contaminação de salmonella, que começa em 15 dias, pode deixar 40 mil trabalhadores e trabalhadoras do setor desempregados. Os frigoríficos estão lotados de frango e o mercado interno não absorve toda a produção.
Após o anúncio da medida da UE, a BRF anunciou férias coletivas de dois mil funcionários da unidade de Toledo (PR). Devem entrar em férias coletivas também os trabalhadores e trabalhadoras dos frigoríficos de Capinzal (SC), Rio Verde (GO) e Carambeí (PR). Dona das marcas Sadia e Perdigão, a BRF é também a maior exportadora de carne de frango do mundo, com vendas em cerca de 150 países – são 50 fábricas em oito países e cerca de 100 mil trabalhadores.
Para Siderlei Silva Oliveira, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação da CUT (Contac/CUT), a decisão da UE é resultado das medidas desastrosas tomadas pelo latifundiário e ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi (PP-RS), desde o início do ano passado.
O dirigente se refere à ação da Polícia Federal, que, em março de 2017, colocou nas ruas a Operação Carne Fraca, envolvendo 1.100 homens, na maior operação da história para vistoriar apenas 21 dos 4.800 estabelecimentos que processam carne no país.
A operação midiática misturou corrupção com problemas sanitários e o ministro se apressou em dar uma resposta, suspendendo as exportações de 21 frigoríficos, sendo três interditados: o frigorífico de aves da BRF, em Mineiros (GO), e dois frigoríficos do Peccin, em Jaraguá do Sul (SC) e Curitiba (PR).
Depois, teve ainda a Operação Trapaça, desdobramento da Carne Fraca, com a BRF como principal alvo, com a desculpa de investigar suspeitas de que laboratórios fraudavam resultados de exames para detectar a presença da bactéria salmonella nos produtos.
Na ocasião, lembra Siderlei, assim como ocorre em todas as áreas, a gestão do golpista Temer resolveu fazer uma ‘gambiarra’ e, ao invés de apresentar estudos e provas da qualidade da carne brasileira, fez um corte para, aparentemente, demonstrar a seriedade com que o país trata a exportação do alimento.
O tamanho do prejuízo se sente agora e as consequências negativas, como a decisão desta semana da UE, continuam prejudicando o país e a classe trabalhadora, diz Siderlei, que está discutindo estratégias para defender os trabalhadores e as trabalhadoras.
“Além da reunião na próxima terça-feira, iremos nos reunir também com sindicalistas europeus para denunciar os prejuízos que a lambança dos golpistas e da própria atuação da PF estão causando aos trabalhadores brasileiros”, diz.
“Estamos falando de 40 mil chefes de família que podem perder o emprego se os desmandos desse ministro despreparado continuarem”.
Siderlei explica, ainda, que o embargo afetará também os produtores de aves, já que não poderão fazer o abate, gerando uma crise financeira sem precedentes no setor.
“Está impedindo a exportação de 36% da carne de frango brasileira”.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, também acredita que a decisão da UE vai gerar demissões no setor. “Vai haver uma adequação das empresas que não vão produzir se não tiverem mercado”, diz.
Ele ressalta que o frango não oferece riscos à saúde e os brasileiros podem comprá-lo sem preocupação. “O frango é a carne mais consumida no Brasil e a mais barata. Não há nenhum risco nesse caso, trata-se de um problema comercial”.
Segundo Santin, as salmonellas presentes na carne “são aquelas que morrem com cozimento, em temperatura acima de 70° graus. A água ferve a 100° graus, ou seja, qualquer processo de cozimento já inativa a bactéria. Ela [a bactéria] está presente em todo o mundo”.
Estados mais atingidos
O estado do Paraná, com oito unidades proibidas de exportar, é mais atingido pelo embargo da carne brasileira. Em seguida está Santa Catarina, com três; e Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Goiás com duas unidades afetadas cada. São Paulo teve um frigorífico vetado.
Lista das unidades proibidas de exportar para a UE:
– BRF S.A.
– Ponta Grossa (Paraná)
– Concórdia (Santa Catarina)
– Dourados (Mato Grosso do Sul)
– Serafina Correa (Rio Grande do Sul)
– Chapecó (Santa Catarina)
– Capinzal (Santa Catarina)
– Rio Verde (Goiás)
– Marau (Rio Grande do Sul)
– Toledo (Paraná)
– Várzea Grande (Mato Grosso)
– Francisco Beltrão (Paraná) – unidade da SHB, subsidiária da BRF
– Nova Matum (Mato Grosso) – unidade da SHB
– Copacol – Cooperativa Agroindustrial Consolata
– Unidade de Cafelândia (Paraná)
– Copagril – Cooperativa Agroindustrial
– Marechal Cândido Rondon (Paraná)
– Zanchetta Alimentos Ltda
– Boituva (São Paulo)
– São Salvador Alimentos S/A
– Itaberaí (Goiás)
– Bello Alimentos Ltda
– Itaquirai (Mato Grosso do Sul)
– Coopavel – Cooperativa Agroindustrial
– Cascavel (Paraná)
– Avenorte Avicola Cianorte Ltda
– Cianorte (Paraná)
– LAR Cooperativa Agroindustrial
– Matelândia (Paraná)