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domingo, 29 de dezembro de 2024

Crônica domingueira do Magno Homenageia Luiz Conzaga

 


Magno Martins-A sanfona imortalizou Luiz Gonzaga. Alguém há de duvidar? Mas ele teve que juntar o toque harmonioso da zabumba e do triângulo para criar o baião, gênero todo próprio, suas digitais musicais. Virou o Rei do Baião. Na sexta-feira-13 deste dezembro que finda, termo recorrente em suas canções, o Nordeste reverenciou sua memória. Se vivo fosse, teria celebrado 112 anos.

Cantava de gibão, óculos estilo Ray Ban aviador e chapéu de couro, figurino para homenagear o vaqueiro nordestino, mas que chegou a ser associado ao bando de Lampião por produtores musicais sulistas preconceituosos, tão logo despontou. Gonzaga projetou a cultura nordestina com uma filosofia sensacional, criada por ele, DNA gonzaguiano.

Se não, vejamos: quis ser lembrado para a eternidade como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão, que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor.

Dizia que foi criado roubando cabra e que morreria roubando bode. No culto ao sexo oposto, dizia : “Mulher tem que ser igual a tropeção: tem que colocar o homem pra frente”. Suas músicas nos fazem refletir sobre a vida, com um toque engraçado até.

“Pelo tamanho do copo se conhece o bebedor; pelo roncado do fole se conhece o tocador”, ensinava. Aos que achavam que era modesto, matou a pau com essa frase: “Não ganho dinheiro mais como sanfoneiro, ganho como Luiz Gonzaga, com o meu gogó”.

Quando perguntavam de onde vinha tanta inspiração, não titubeava: “Com a viola no peito, tiro uma canção. De hora em hora, tomando um golinho de quentão”. Não havia alguém tão original; “Eu sempre fui um bom ouvidor. Cheguei até a enganar que era culto!”.

A filosofia gonzaguiana nasceu no pé da serra do Araripe, na sua Exu: “Eu chegava nas cidades do interior com os meus discos, cantava na praça pública, vendia o meu peixe. Foi sempre no Nordeste que eu me arrumei”, contou numa antológica entrevista à revista O Cruzeiro. E na mesma entrevista revelou a alegria e emoção de ter conhecido seus dois maiores parceiros — Humberto Teixeira e Zé Dantas, ambos intelectuais.

“Eu queria cantar o Nordeste. Eu tinha a música, tinha o tema. O que eu não sabia era continuar. Eu precisava de um poeta para escrever aquilo que eu tinha na cabeça, de um homem culto para ensinar as coisas que eu não sabia. Foi Deus que jogou na minha estrada da vida o Zé (Dantas) e o Humberto”, revelou, na mesma revista.

Sobre o seu público e mercado, também mostrou que tinha uma filosofia toda própria: “Eu, como cantador pobre, sabia que a cidade grande não ia me dar oportunidade, então eu gravava meus discos e ia procurar o meu público lá nos matos”. Ele sempre exaltou o matuto, o caboclo nordestino, pelo seu lado heroico. Disse que nunca usou a miséria desvinculada da alegria.

“É preciso que a gente fale do povo exaltando o seu espírito, contando como ele vive nas horas de lazer, nas festas, nas alegrias e nas tristezas. Quando faço um protesto, chamo a atenção das autoridades para os problemas, para o descaso do poder público, mas quando falo do povo nordestino não posso deixar de dizer que ele é alegre, espirituoso, brincalhão”, disse.

Além de filósofo, Luiz Gonzaga foi profeta. Apostou num Nordeste pujante e moderno na canção Nordeste pra frente, gravada em 1968: “Senhor repórter, já que tá me entrevistando/ Vá anotando pra botar no seu jornal/ Que meu Nordeste tá mudado/ Publique isso pra ficar documentado.

Qualquer mocinha hoje veste minissaia/Já tem homem com cabelo crescidinho: O lambe-lambe no sertão já usa flash/Carro de praça cobra pelo reloginho/ Já tem conjunto com guitarra americana/ Já tem hotel que serve Whisky escocês/ E tem matuto com gravata italiana/ Ouvindo jogo no radinho japonês.

Caruaru tem sua universidade/ Campina Grande tem até televisão/ Jaboatão fabrica jipe à vontade/ Lá de Natal já tá subindo foguetão/ Lá em Sergipe o petróleo tá jorrando/ Em Alagoas se cavarem vai jorrar/ Publique isso que eu estou lhe afirmando: O meu Nordeste dessa vez vai disparar”.

O Rei do Baião Nasceu numa sexta-feira, dia 13 de dezembro de 1912, numa casa de barro batido na Fazenda Caiçara (povoado do Araripe), a 12 km da área urbana do município de Exu, extremo noroeste de Pernambuco. Foi o segundo filho de Ana Batista de Jesus, conhecida na região por ‘Mãe Santana’, e oitavo de Januário José dos Santos, um roceiro e sanfoneiro.

O padre José Fernandes de Medeiros o batizou na matriz de Exu em 5 de janeiro de 1920. Seu nome, Luiz, foi escolhido porque 13 de dezembro é o dia da festa de Santa Luzia, Gonzaga foi sugerido pelo vigário que o batizou, e Nascimento por ser dezembro, mês em que o cristianismo celebra o nascimento de Jesus.

A cidade de Exu fica no sopé da Serra do Araripe, e inspiraria uma de suas primeiras composições, “Pé de Serra”. Seu pai trabalhava na roça, num latifúndio, e nas horas vagas tocava acordeão. Também consertava o instrumento. Foi com ele que Luiz aprendeu a tocá-lo. Muito jovem ainda, já se apresentava em bailes, forrós e feiras, de início acompanhando seu pai, mas com 13 anos já era convidado para shows individuais.

Autêntico representante da cultura nordestina, manteve-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical no sudeste. A canção emblemática de sua carreira foi “Asa Branca”, composta em 1947 em parceria com o advogado cearense Humberto Teixeira.

Postado por Madalena França


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