Em luminoso curso sobre “Democracia”, na Casa do Saber, a professora Marilena Chauí tratou de uma das características perversas do tal neolibelismo:
A supressão do ”público” e a prevalência do “privado”.
Com a financialização do Capitalismo, as sociedades voltam ao estado primitivo do despotismo, pré-Maquiavel.
Com a supressão do “público", observa-se também o enfraquecimento da opinião pública – a opinião pública é o direito ao uso público da razão, segundo Kant – com o controle dos meios de comunicação.
E os meios de comunicação oligopolistas elegem os substitutos dos eleitos pelos eleitores (sem trocadilho: eleitor é quem tem o direito e o poder de eleger, numa Democracia): os especialistas, os “doutores”, os senhores de escravos, os sinhozinhos, os “formadores de opinião” pública.
Que dizem o que interessa aos dominadores para dar a impressão aos dominados de que a voz dos dominadores é a voz de todos.
Isso só é possível com a seguida desmoralização das eleições, dos eleitos e dos processos de participação popular.
Nesse regime, qualquer tentativa de exigir direitos e, com isso, gerar conflitos é vista como perigosa e deve ser contida na porrada (veja o que os tucanos fazem com os professores em São Paulo e no Paraná).
(Chauí lembra que, segundo os preceitos originários do liberalismo, a Democracia é o único sistema que admite e convive com conflitos...)
Os “doutores” - um título de nobreza - são os Ataulphos, as Cegonhólogas, os economistas de bancos, os especialistas das agências de risco… e os ministros do Supremo!
São os ideólogos da apropriação do “público” pelo “privado”, especialmente dos “fundos públicos”!
Essa tosca reprodução das aulas da professora Chauí permite, porém, analisar duas declarações do Ministro Luiz Fux – aquele da filha que tem dois apartamentos no Leblon e recebe auxílio-moradia (Quer prova mais eloquente da apropriação do “público” pelo “privado”?).
Com a morte da Marielle – que vai, segundo o Mino, justificar a supressão da eleição, ou seja, da tentativa de o “público” retomar (parte, apenas) o que o “privado” abocanhou – o Ministro do auxílio-moradia disse, logo de manhã:
A morte da Marielle é uma prova do nosso “déficit civilizatório”.
É a arrogância vazia, pernóstica, agressiva da elite de classe média que se imagina “dona do poder”, embora não seja dona de nada!
Ela apenas dá voz ao que os verdadeiros donos – os bancos - querem que os pobres pensem que é o pensamento de todos.
Porém, o mais assustador estava por vir.
No Mau Dia Brasil, segundo anotação mortífera de navegante baiana:
O amigo navegante notou aos 3 minutos e 50 segundos a frase do Ministro auxílio-moradia:
A Mariella representava “aquela sociedade”!
“Aquela sociedade”!
A sociedade dos pobres e oprimidos, dos explorados, negros da favela, dos homossexuais!
Não é “aquela sociedade” do Leblon, do Ministro Fux, do Supremo de doutores supremíssimos!
“Aquela sociedade” da Mariella é o “público”.
Da negra pobre que se ligou aos movimentos comunitários, ao conjunto de sua sociedade oprimida, violentada, e estudou, conseguiu uma bolsa de estudos na PUC e fez mestrado em Administração numa universidade pública, a UFF.
Elege-se – eleita pelo povo do Rio! - vereadora e começa a luta para defender o interesse público – inclusive a integridade física das mulheres negras maltratadas pelo 41o Batalhão da PM, perto da favela miserável de Acari.
Não há exemplo mais nítido “daquela sociedade” do que a Marielle – a sociedade do “público” da professora Chauí.
Ela se opõe a “aquela sociedade” do auxílio moradia, a que governa em nome dos bancos.
E que se instalou no poder com o neolibelismo - e de lá não vai sair, graças ao “semipresidencialismo” do “doutor” Gilmar Mendes!
O neoliberalismo que começou no Chile do Pinochet e sobrevive nessa República Federativa da Cloaca.
Em que os Chicago Boys, discípulos diretos de Hayek e Friedman, foram substituídos pela mediocridade avassaladora do Pedro Malan Parente do FMI; do Goldfajn do Itaúúú (momentaneamente no Banco Central); e do vendedor de seguros, o Meirelles.
O Ministro Fux é apenas um dos “doutores”, dos novos senhores de escravos que, hoje, “governam” sem que tenham sido eleitos.
A professora Chauí conclui com a certeza que, no Brasil, a democracia não é possível!
O “público” será devidamente suprimido!
A bala de pistola 9mm de carregamento alongado.
Em tempo: note, amigo navegante, nessa “reportagem” do Mau Dia Brasil a intervenção inútil do Deputado Miro Teixeira. Ele não é do partido da Marielle e provavelmente nunca pisou na Maré. Mas, é um quadro orgânico da Globo. E, portanto, um especialista em enganar os pobres.
PHA
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