Fonte: Tijolaço. Postado por Madalena França.
Lê-se na Folha que o Governo Federal pressiona as autoridades da segurança pública do Rio de Janeiro a apontar, em 48 horas, os culpados pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
O governo avalia que é preciso mostrar resultado rapidamente —ou seja, os investigadores têm que encontrar os culpados pelo assassinato de Marielle em pelo menos 48 horas— para que uma crise não se instale definitivamente no coração do governo.
Em O Globo, isso se reforça com a entrevista do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, secretário nacional de Segurança Pública, dizendo que a reação das Forças Armadas e da Polícia do Rio precisará ser “enérgica e arrasadora”:
A reação tem de ser enérgica, porque a sociedade não pode conviver com este tipo de ousadia criminosa. Este tipo de ousadia precisa ser contida de forma contundente, forte, aberta, com ação das Forças Armadas e das forças policiais e apoio de toda a sociedade, do Ministério Público, do Judiciário e dos órgãos de controle.
Por mais hediondo que tenha sido o crime, o Estado tem de se preocupar com a verdade, não com o “me apontem o culpado até amanhã”.
É no que dá politizar a ação policial. Ou a judicial, como aprendemos com Sérgio Moro e seus subordinados dos tribunais “superiores”.
Fica evidente que o delegado Rivaldo Barbosa, cuja competência profissional é reconhecida e que foi colocado no cargo pela intervenção há apenas três dias, e o general Braga Netto, que tem sido um homem prudente há um mês estão sendo politicamente pressionados para salvar a credibilidade decrescente da exploração política da segurança pública.
É evidente que o esforço para apurar o crime deve ser intenso, máximo, mesmo.
Mas misturar polícia e política é algo que, sempre, dá resultados desastrosos.
No atentado do Riocentro, obrigar um oficial do Exército a apresentar uma explicação fantasiosa de um crime produziu zero de credibilidade e um dano terrível aos militares.
A repercussão política da brutal execução de Marielle Franco dá todos os sinais de que quem a fez fazia politica com a sua morte.
Isso pode ser próprio de bandidos, ainda que acobertados por fardas policiais, mas não pode ser próprio de instituições policiais, que não devem e não podem seguir o caminho da conveniência política.
O que acontece, agora, é uma espécie de momento onde o vento do policialismo – que dominou a mídia e, através dela, uma parte significativa da opinião pública – fez a curva e se mostrou em todo o seu horror.
Uma virada destas de deixar calados os Bolsonaro – embora o bolsonarismo esteja falante, nas redes sociais – e atrapalhados os que queriam fazer demagogia fácil com a segurança pública.
No início dos anos 90, a política de garantias individuais do Governo Brizola apanhava como Judas em Sábado de Aleluia por “não deixar a polícia entrar nas favelas”, pelo simples fato de que se tentava – sob fortíssima resistência – acabar com a política do “pé na porta” e o achaque policial, na época atendia pelo nome de “polícia mineira”.
A extorsão de policiais sobre bandidos tinha até um “verbo” próprio: “mineirar”, com seu rico duplo sentido.
Na madrugada do dia 29 de agosto de 1993, policiais entraram na Favela de Vigário Geral do jeito que se defendia que a polícia entrasse: sem lei, sem respeito aos seres humanos, atrás “dos vagabundos”. E para mostrar que a marginália que se formou a se alimentar do crime não obedeceria à política do que a direita de hoje chama de “direito dos manos”.
O resultado? 21 corpos macabramente enfileirados no chão e o pior ataque que sofreu o governo Brizola.
Agora, os corpos de Marielle e Anderson cumprem este doloroso papel: o de caírem como armas que foram disparadas contra a razão, contra o respeito ao ser humano e contra qualquer ameaça ao sistema de hipocrisia com que se trata a segurança pública e a droga, no qual se concede, como paga, mais poder, mais armas e mais direito de dispor de vidas humanas ao aparato repressivo do Estado.
E, claro, de “mineirar” nas águas turvas do Rio.
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