Da coluna de João Alberto
O caso dos Canibais de Garanhuns foi tema do artigo do mestre José Paulo Cavalcanti Filho no livro “Grandes Crimes”, que reuniu 11 famosos juristas brasileiros. Apesar de não ter participado como advogado, estudou o processo e conversou com os criminosos. Um crime que começou em 2008 e que teve enorme repercussão, inclusive internacional.
O personagem principal foi Jorge Beltrão Negromonte da Silveira. Depois de morar alguns anos em Portugal, terra dos pais, voltou a Pernambuco. Em Olinda, Jorge matou Luciano Severino da Silva, de 17 anos, pelas costas. Por falta de provas, foi absolvido. Depois, deu um golpe na mãe, a aposentada Zélia Beltrão Negromonte da Silveira. tirando R$ 80 mil da sua conta, com o qual comprou uma casa. Seu irmão o acusou de tentar matar a mãe e enterrar o corpo para ficar recebendo sua pensão de R$ 6 mil.
O segundo personagem é Isabel Cristina da Silveira. Filha de pais paupérrimos, conhecida como Bel. Não conseguiu estudar e fazia pequenos trabalhos para ajudar em casa. Numa Igreja dos Mórmons, conheceu Jorge. Foi o primeiro namoro dos dois. Em 1984, decidiram se casar. Na festa do casamento, ele teve um surto e, com uma faca na mão, anunciou que ia matar todos os convidados. Ela, certamente sem outra opção, perdoou o marido e foram morar juntos. Para ajudar em casa, fazia empadas e coxinhas.
O terceiro personagem é Bruna Cristina Oliveira da Silva. Em Natal, conheceu Jorge, que era professor de ginástica numa academia. Tinha apenas 16 anos e aceitou o convite para ser sua amante. Para não perder o marido, Bel aceitou a formação de um trio, ela, Jorge e Bruna. Decidiram criar uma seita que chamaram de Cartel. Começaram por matar, em 2008, em Olinda, Jéssica Camila da Silva Pereira, de 17 anos. Depois enterraram o corpo no quintal e decidiram criar a filha da vítima, que assistiu a sua morte, adotada por Jorge e Bel, batizada como Emanuelle Victoria Tainá Pereira Negromonte.
Com medo da polícia, o trio se mudou para Garanhuns, onde escolheu as duas outras vítimas; Giselly Helena da Silva, de 20 anos, e Alexandra Falcão da Silva, de 31 anos. Depois de mortas com uma facada na jugular, tiveram os corpos colocados numa mesa, para um ritual macabro. Retiraram toda a pele e alguns órgãos eram aproveitados. Os pedaços foram colocados no refrigerador. A carne era cozinhada com água, sal e cominho e degustada com arroz por três dias. As partes menos nobres viravam recheio para empadas, que vendiam nas ruas de Garanhuns, onde moravam até serem presos, em 2012. Para justificar, Jorge citava um texto que nunca existiu na Bíblia: “Não matarás, mas se for para comer pode matar.”
A prisão foi digamos por acaso. Jorge havia usado o cartão de crédito de Jéssica, a primeira vítima, para fazer uma compra de cinco reais numa loja e foi acusado. Ao chegar na casa, o delegado Wesley Fernandes de Oliveira encontrou a garotinha, a filha de Jessica, vítima morta em Olinda e adotada pelo trio. Mostrou a foto da dona do cartão roubado e a garotinha disse: "Painho mandou ela para o inferno.”
Foi quando começou o processo que terminou em julgamento, por júri popular, em 2014, que condenou Jorge a 21 anos de prisão e Bel e Bruna a 19 anos, por assassinar, esquartejar, consumir e vender carne humana dentro de salgados. Em 2019, o TJPE atendeu a um pedido da promotoria e aumentou a pena de Jorge para 27 anos e a de Bel e Bruna a 24 anos de prisão.
Jorge chegou a lançar um livro, “Revelações de um Esquizofrênico”, que recebi, mas não tive coragem de ler. Na última vez que visitou Jorge na prisão, José Paulo perguntou se ele queria alguma coisa. E ele disse: "Sou ovolactovegetariano. Só como ovo, leite e vegetais, e aqui só servem arroz, feijão e carne. Carne eu não posso comer, então só estou comendo arroz e feijão.” Fez um pedido simplório: iogurtes. E ganhou.
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