Por mais que a gente se acostume à crueza da luta política, há limites que a gente não pode romper.
Mais ainda quando a gente exerce funções públicas porque, afinal, somos pagos por toda a população, independente de ideologia, origem étnica, orientação sexual, ou lá o que seja.
O decoro, antes de ser uma imposição legal, é uma obrigação moral.
Este é o calcanhar de Aquiles da Lava Jato: ter abandonado qualquer obrigação moral em nome do que supõe ser a sua “missão moral”, de todo-poderosos, ungidos que foram por um concurso público e uma nomeação que os transformou numa casta diante da qual a “ralé” representada por Lula não tem direito sequer ao luto.
O trágico é que eles foram ungidos pela democracia e se afastaram de seus princípios, passando a comportar-se como uma aristocracia que não tem deveres de comportar-se sequer com a “noblesse oblige”, a carga que obriga a nobreza, em troca de seus privilégios, a ter deveres de urbanidade, ainda que frequentemente hipócritas.
Talvez seja esta a grande diferença destes tempos: as redes sociais e aplicativos de mensagem registram a conversa íntima que travam, com o desprezo pelos que não pertencem, ao seu ver, à nata a que pertencem.
Ao seu ver, apenas, porque vê-se o grau de degradação a que chegaram, pelos comentários sórdidos.
Talvez seja este o maior benefício que o vazamento dos diálogos dos “santos” da lava Jato tenha prestado ao Brasil, o de conhecer a imundície em que vivem estes núcleos autoritários e o quanto eles se tornaram monstruosos neste processo.
Creio que hoje todos partilhamos do que Lula relatou, de que teve “um sentimento de vergonha pelo comportamento baixo a que algumas pessoas podem chegar”.
Pois foi isso, mais que qualquer satisfação possível por sua desmoralização, que a grande maioria das pessoas sentiu.
Até mesmo a procuradora que, no Twitter, pediu desculpas pelo que fez, embora, cinicamente, tenha voltado a duvidar da veracidade das mensagens, embora ela própria o reconheça, ao chorar lágrimas de jacaré:
Pode-se acreditar em quem diz ter uma crise de consciência, mas não é capaz de reconhecer senão a verdade que lhe convém?
Há, sem dúvida, inocentes e culpados entre os acusados na Lava Jato.
Mas há, antes de tudo, um processo viciado, poluído pela arrogância e o desejo de poder que precisa ser saneado.
Quem não respeita o direito de Lula de sofrer com a perda da mulher, do irmão e do pequeno neto, pode agir respeitando seus direitos legais?
(Tijolaço).
Por Madalena França
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