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terça-feira, 6 de março de 2018

A política foi quebrada, é por isso que a eleição é um jogo de cacos


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Vá juntando os pedaços, se quiser refletir sobre o desenrolar das eleições de 2018.
Porque a mídia e um simulacro de Justiça  esfacelaram o quadro político natural e se adonaram da cena política e decretaram que não poderia haver mais um governo popular no Brasil.
É bom lembrar, porém, da cena descrita por Bertolt Brecht em seu A vida de Galileu, quando este tem de abjurar da ideia de que a Terra orbita o Sol e proclamar que era fixa no espaço, porque esta era a vontade de Deus: eppur si muove; entretanto, se move.
A interdição de Lula como candidato está longe – e muito longe – de fazer com que a equação eleitoral, como pensam os tolos, vá ser resolvida sem a sua gravidade, o seu poder de atração.
Especialmente porque o esforço para eliminá-lo do jogo eleitoral tiveram, como efeito colateral, a devastação total de um cenário eleitoral que já era árido nas eleições de 2014.
E, neste ambiente, mesmo afastado, Lula é capaz de imantar o suficiente para estar, se for preciso, indiretamente no processo eleitoral, em posição decisiva.
Nenhum analista sério duvida que ele possa dar a qualquer candidato ao menos um quinto ou um quarto do eleitorado.
Quem pode, a esta altura, sonhar com isso? Nem mesmo Jair Bolsonaro, o mais próximo disso, pelas evidentes limitações que tem e terá.
É uma bobagem falar em “unidade da esquerda” por parte de grupos e partidos que querem se afirmar e ganhar seus espaços. Ela não se constrói, essencialmente, por decisões de grupos ou cúpulas.
Ao contrário, elas impedem que parcelas do eleitorado migrem para mistificadores.
Foi curioso ler o ressentidíssimo Ascânio Seleme, escrever, em O Globo, o obituário ante mortem da candidatura Marina Silva, dizendo que ela “fará falta” no processo eleitoral e que “se não conseguir firmar alianças (alianças? Marina só é requisitada como coadujvante, escada, jamais como protagonista), a candidata passará praticamente em branco na campanha de 2018.
Também é de reparar como a candidatura de Guilherme Boulos, pelo PSOL, “amarra ” a classe média ideologicamente radicalizada a uma força que não poderá se afastar da liderança lulista.
Do outro lado, quais são as perspectivas de aliança para Alckmin? Temer? A soma do tempo de propaganda e de parte – apenas parte – das estruturas do MDB é francamente menor do que o desgaste de ser o candidato do político mais rejeitado do país.
Chegar a 20% é chegar ao Olimpo, para o tucano.
Não imagine que aos autores do golpe de 2016 essa situação passe despercebida. É sobre ela que remoem-se em dúvidas sobre dois gestos extremos: prender Lula e manter o processo eleitoral.
Uma e outra atitude, se “resolve” de imediato seus impasses, cria, no dia seguinte, novos problemas, para os quais não têm respostas.

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