Tomara que haja alguns que, hoje, não tenham acordado perplexos.
Não com o que aconteceu ontem, porque ganhar ou perder eleições é próprio do jogo democrático e, para quem se situa no campo progressista perder é muito mais frequente que ganhar.
Nem mesmo tenho dúvidas de que fosse provável uma derrota da esquerda se o processo de ordem democrática tivesse sido mantido: depois de quatro mandatos e numa crise econômica seria quase inevitável que isso ocorresse.
Mas o que ocorreu não foi isso.
O processo político anômalo que estamos vivendo há anos,e ontem tomou a forma assustadora da antessala de termos um regime policial, violento e que imporá, sem que haja qualquer freio ou contrapeso, um período de perda de direitos civis, trabalhistas e a alienação criminosa do patrimônio nacional.
Não se iludam: a presença de Paulo Guedes, plantado feito uma estatueta ao lado de Jair Bolsonaro enquanto este falava, sem alegria e sem generosidade, dos resultados eleitorais é um sinal do que virá, a confirmar-se o desenho mórbido deste 7 de outubro.
O navio econômico será “salvo”, se conseguirem, “aliviando” o peso, jogando-se ao mar os tesouros que ainda retém e a gente “dispensável”.
O quadro dantesco do futuro econômico não é menos assustador do que o que se esboça no campo do convívio social, reflexo direto da política.
Teremos um Congresso dominado por figura que foram premiadas com votos por sandices como o “senta o dedo” do Major Olímpio ou por posar com uma coleção de fuzis automáticos como um dos “filhos do homem”, enquanto o seu irmão justifica os brutamontes – também eleitos – que vilipendiaram a memória de Marielle Franco, uma mulher negra assassinada pelo crime organizado.
Esta loucura será completada nas instituições da república. Alguém duvida que Eduardo Bolsonaro, com suas alegorias de Rambo, será o diretor de fato da Polícia Federal num governo Bolsonaro? Ou que o comandante real das Forças Armadas será o General Hamílton Mourão, investido da vice-presidência? Que o Supremo, que já se prostra vassalo – “64 não foi um golpe, mas um movimento” – será atropelado e expurgado se ousar fazer algo que não seja se ajoelhar?
Será um combate duro, mais duro do que uma disputa eleitoral regular e normal.
Não é uma fantasia, um delírio que o país possa mergulhar na barbárie. Os sinais estão evidentes, claros, visíveis por quem não quiser fechar os olhos e podem ser expressos em situações cotidianas, como nas palavras de um experiente professor deste que escreve:
“Batida de carros, Ele sai armado. Você sai armado. Quem atira primeiro?”
Traduza assim – e de tantas outras formas que estão evidente – para os nossos irmãos o que vai significar dar à selvageria a pretensa legitimidade do voto.
Como nós, certamente haverá quem diante disso, em igual “ressaca”, esteja assustado como o amanhã e possa pensar, como depois de um ato desatinado: “Meu Deus, o que foi que eu fiz?”
Madalena França
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