Redação PragmatismoEditor(a)
Criticada depois de morta por simpatizantes da polícia, pelos próprios policiais e atacada até por um coronel da PM, Marielle Franco ajudou famílias de policiais assassinados. Mãe de um deles relembra: "ela foi imbatível"
Vítima de boatos e muito criticada depois de morta por extremistas de direita, simpatizantes da polícia e até por um coronel da PM do Paraná, uma faceta pouco propagada da vereadora Marielle Franco está sendo revelada.
Ativista dos direitos humanos, da causa LGBT, dos negros e das mulheres, Marielle também prestava assistência à famílias de policiais assassinados.
Íbis Pereira, ex-comandante da Polícia Militar, afirma que só quem diz que Marielle não ajudava policiais ou não gostava da Polícia é quem não a conhecia.
“Eu e Marielle trocávamos informações sobre policiais mortos. Ela fazia essa ponte para que a Comissão de Direitos Humanos da Alerj pudesse auxiliar as famílias. Um trabalho muito grande no amparo, procurando agilizar na recepção de proventos, benefícios ou aposentadoria. É um trabalho silencioso e muito bonito que as pessoas, na maioria, ignoram ou não sabem”, revelou.
Na época, Marielle era lotada no gabinete do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), com quem trabalhou por 10 anos prestando auxílio jurídico e psicológico a familiares de vítimas de homicídios ou policiais vitimados.
Para o ex-chefe da PM-RJ, a ideia de que os Direitos Humanos não servem para os colegas de farda também é um mito.
“Esse aspecto de bandido bom é bandido morto ou dizer que ‘direitos humanos é para bandido’ é um retrato da nossa miséria e indigência política e intelectual. Mostra o desconhecimento completo do que é direitos humanos e da importância dele para construção de uma sociedade civilizada. Por trás disso há um ódio secular a pobre, tem ignorância e nossas misérias”, disse.
“Ela foi imbatível”
Em entrevista ao portal G1 publicada no fim de semana, a mãe de um policial assassinado descreveu a importância de Marielle Franco no pós-morte de seu filho.
“Fui busca Justiça depois da morte do meu filho e me aconselharam a ir na Comissão de Direitos Humanos da Alerj. Falei: ‘Direitos Humanos? Não fazem nada por policiais'”, lembrou Rose Vieira.
Rose conta que vários paradigmas foram quebrados a partir do momento que ela conheceu Marielle: “Entrei no gabinete e tive outra impressão. A Marielle foi imbatível, foi muito importante no caso do meu filho”.
“Ela resolveu o meu caso. Resolver não, porque quem resolve é a Justiça. Mas me ajudou. Registrou todo o caso, pegou o número do inquérito que virou processo. Ajudou com um abraço, uma palavra amiga, o acolhimento, a preocupação com a família”, recorda.
Naquele momento, a investigação ainda apontava que seu filho havia sido morto em um suposto assalto. Com o recomeço dos trabalhos, a perícia concluiu que o tiro provavelmente havia partido de cima para baixo e acertado a cabeça do policial. Um colega se tornou o principal suspeito.
O júri popular, que já tinha até sido marcado, foi cancelado com a mudança da linha de investigação. O novo julgamento ainda não tem data, mas uma das audiências ficou guardada na memória de Rose. Marielle chegou esbaforida ao fórum.
“Só para você ter uma ideia, a Marielle não tinha carro nessa época. Nem era vereadora. Chegou de trem. Não posso falar hoje que essa pessoa não me ajudou. Quem é que vai até Duque de Caxias, uma outra cidade, de trem só para ajudar? Só a Marielle”.
Na última quinta-feira, Rose prestou sua homenagem à vereadora do PSOL no velório. Pelas redes sociais, tem acompanhado as investigações e se ressente do que tem lido: acusações de que a ex-assessora da comissão não se importava com a morte de policiais.
“Tenho pena por escreverem esse absurdo. Deveriam orar mais para que não aconteçam com elas. É triste ver o que a pessoa fez por outras e não ter reconhecimento. ‘Ah porque não fez para X, Y, Z’. Ela fez por muita gente, para família de policiais. Porque eu sou de família de policial. Fico muito triste com o que escrevem, não era nem para levar a sério”, lamentou.
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